quarta-feira, 4 de outubro de 2017

214 – ESTUDOS de ARTE.

O pensamento do Dr. Fabio de Barros  (1881 – 1952)
“Fragmentos de uma história”.
Pesquisa e Apresentação de Ilita PATRÍCIO
Grupo de pesquisa da AAMARGS
Fig. 01 –  Fábio de BARROS, (Uruguaiana, 28.08.1881 – Porto Alegre, 05.03.1952) Foi médico, jornalista, cronista, crítico de arte. Colaborador assíduo da imprensa da capital gaúcha, desde 1900. Usava os pseudônimos: Vitor Marçal e Vitoriano Serra. Nas raras fotos do medico psiquiatra Fábio de BARROS emerge a sua imagem austera com o olhar focado nos seus observadores.  Os seus textos mantém esta tensão entre o emissor e receptor. O emissor - consciente de suas competências e limites – percebe, do outro,  o repertório e trabalha para estabelecer interações significativas e coerentes   interações significativas e coerentes para as quais se vale da escrita, nos textos e na escolha apurada da gramática e vocabulário..

Fábio de BARROS foi apresentado  por Ilita PATRÍCIO como um dos PENSADORES  das ARTES VISUAIS  do Rio Grande do Sul. Ela distribuiu aos presentes um texto poli copiado em vinte e seis (26) laudas. Repassou a sua lietura para DIONE MARQUES, Esta iniciou por uma biografia lendo  que Fabio Barros nasceu em Uruguaiana e veio ainda menino, para Porto Alegre, onde fez seu curso de humanidades Matriculou-se na Escola Militar, donde em breve retirou-se por sentir não ser essa a carreira de sua vocação. Seguiu então para o Rio de Janeiro e ai fez o curso de medicina com muito agrado de seu avô Dr. Balduino do Nascimento, médico que deixara um nome respeitado e querido em Uruguaiana. De volta a Porto Alegre, Fabio logo ocupou o lugar de médico legista da polícia, fez concurso para a cátedra de fisiologia na nossa faculdade, em 1908, sendo recebido por unanimidade de votos. Em 1917 seguiu para Europa como membro da missão médica brasileira que fora prestar seus serviços na guerra 1914 1918. Ai fez ótimas relações, entre as quais, com o sábio professor Georges Dumas que muito o considerou como um belo espírito vastamente cultivado. Novamente em sua terra natal, apresentou-se a segundo concurso na faculdade para a cadeira de clinica neurológica que bem se enquadrava com seus estudos e vocação. Transferindo-se por este meio para a regência daquela disciplina, ai se conservou , deixando a impressão imperecível na lembrança de quantas turmas o acompanharam. Além de suas atividades no magistério, ocupou mais 2 postos nos serviços médicos do Estado: O de alienados no Hospital São Pedro e o de Diretor de Saúde Pública. Nada disto impediu, porém, que ele se notabilizasse no jornalismo, onde até hoje cintila o seu talento como um dos mais notáveis cronistas do pais. Profundo conhecedor da língua que ele ama através dos seus mais puros modelos, é dotado de larga e variada cultura e há muito que o meio crítico o tem como um polígrafo autentico.
SALÃO de OUTONO de 1925   Porto Alegre Revista Máscara - ano  VII nº 7 junho 1925   
Fig. 02 –   Os próprios organizadores do SALÃO de OUTONO de 1925 se surpreenderam com a quantidade e diversidade daqueles que se dedicavam às ARTES VISUAIS, de uma outra forma em PORTO ALEGRE.  Entre os organizadores estava o cronista de artes,  medico psiquiatra Fábio de BARROS. Ele acompanhava estes artistas desde fevereiro de 1925 do BAILE de CARNAVAL organizado pelos “PHILÓSOPHOS”. O orador, com os papeis na mão,  é  o desembargador Manoel André da ROCHA,  presidente do evento. Entre outros aspectos é possível neste Salão a interação e a colaboração recíproca dos SABERES SUPERIORES ativos em PORTO ALEGRE nesta ocasião..

Participou da organização do Salão de Outono de 1925. No “Correio do Povo”, depois de ter sido o apreciado crítico da seção de artes, como seu digno substituto do inesquecível Mauricio Böhm[1], tornou-se o festejado cronista que todo o pais admira, em Vitoriano Serra.


[1] Maurício BÖHM era pseudônimo de Olympio Olinto de OLIVERA como critico da arte do Correio do Povo e do qual foi um dos fundadores em 1895. A Música tomava maior espaço na  coluna critica de Olinto de Oliveira , Fábio de Barros continuou este linha e a severidade de crítica do seu antecessor Com a retirada do Olinto de Oliveira para o Rio de Janeiro, Fábio de BARROS, que também compunha música,  tomou, no dia 04 de outubro de 192,  uma das 25 cadeiras da COMISSÃO  CENTRAL do IBA-RS
Fig. 03 –   O medico Olympio Olinto de OLIVEIRA – ou Maurício BÖHM -  ao lado do Presidente do Estado Carlos BARBOSA GONÇALVES ( de cartola) Os dois médicos estão presentes no lançamento da pedra fundamental do prédio da Faculdade de Medicina no atual campus Central de UFRGS.  Fabio de Barros irá suceder Olympio de Oliveira quando este se aposentou e foi residir no Rio de Janeiro. O sucedeu também nas crônica de arte no Correio do Povo, na Comissão Central do IBA-RS ocupava, desde 1908,  o cargo de professor concursado da Faculdade de Medicina.

É também considerado o primeiro professor rio-grandense de História das Artes Visuais na Escola de Artes do INSTITUTO DE BELAS ARTES Do RGS. Não fui capaz de encontrar documentos desta etapa de sua vida profissional. Foi como jornalista que consegui mais informações que ajudaram a tentar perceber como era este homem tão polifacético, um homem extremamente culto, tendo seus textos citações em francês, latim, grego e outros. Seus escritos, deliciosos, prendem a atenção e também por ainda serem seus temas tão atuais. Na sua intensa atividade fundou e dirigiu a revista Máscara 1918, jornal Manhã de 1920 até 1921 e o Correio do Povo entre 1929 e 1930. Foi redator do Diário e a Federação. No dia 28 de novembro de 1938, no Hospital São Pedro, realizou-se a sessão inaugural da então Sociedade de Neuro-Psiquiatria do Rio Grande do Sul. Foi eleita a primeira diretoria, assim composta: Dr. Jacintho Godoy (presidente), Dr. Fábio de Barros (vice-presidente) e Dr. Cyro Martins (secretário). Foi nomeada também uma comissão para a elaboração dos estatutos, assim constituída: Dr. Dyonélio Machado, Dr. Almir Alves e Dr. Paulo Louzada. De 1938 a 1940, a Sociedade reunia-se mensalmente para discussão de casos apresentados por um de seus membros e apreciação para admissão de novos sócios. Após este período, a Sociedade entrou lentamente em decadência. Após um reerguimento temporário, já realizando suas sessões na sede da Sociedade de Medicina, houve uma fase de estagnação e colapso. O Dr. Cyro Martins denominou-a genialmente como a “fase da idade média da Sociedade”.
Fig. 04 –   Ilita PATRÌCIO e  Dirce ZALEWSKY socializam a sua pesquisa com o foco no PENSAMENTO do crítico de arte, medico psiquiatra Fábio de BARROS O grupo de PESQUISA da AAMARGS está reunido, no dia 28 de setembro de 2017, no MARGS para estudar, debater e continuar a investigar as expressões do pensamento que emerge do campo das ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL

A seguir Ilita apresentou alguns trechos dos artigos de Fabio de Barros que para ela selecionou,  pois pareciam, de certa forma, ilustrar seu modo de pensar a vida e suas circunstâncias. As fontes do PENSAMENTO de FABIO de BARROS que ela consultou foram  Fabio de BARROS, Colheita .Oficinas Gráficas da Livraria do Globo . Porto Alegre (1944) além de Palavras Ocas. Porto Alegre: Livraria do Globo – (1923) e uma obra coletiva com Armando CÂMARA  Porto Alegre: Revista Estudos , (1943) No obra de 1944 ela destacou  p 13-21 o texto

 O Primado do Músculo” onde Fábio de Barros escreveu “Pouco antes da atual guerra, Georges Duhamel publicou um interessante e sólido estudo sobre a deplorável influência do desportismo na cultura da mocidade francesa. Verificando, cheio de consternação, que um Bacharel de 1938 sabe menos grego, menos latim e menos francês que um contemporâneo de Racine, aquele publicista lavra um veemente libelo contra a tendência, evidente de mais para ser contestada, e com foros de cidade mesmo nos meios oficiais, para degradar a cultura intelectual em beneficio da cultura do músculo”.
Fig. 05 –   Talvez mais grave do que reduzir a inteligência ao cultivo do corpo e do músculos e a redução deste corpo a uma mera imagem. A imagem é sempre algo que está no lugar do que já existiu, Na medida em que a era industrial, o marketing e a propaganda conseguem reduzir estes músculos, corpo e inteligência a uma imagem é sinal que inteligência, o corpo e os músculos existiram alguma vez como entidade e direitos próprios. No  seu lugar está uma imagem que é algo que se tornou um mero objeto de idolatria ou de descarte. Objeto que pode ser tanto adorado como ídolo ou, então,  ser levado, sem qualquer remorso, para o descarte nos fornos crematórios.  
Obra de Adolf ZIEGLER (1892-1959) https://www.sartle.com/artist/adolf-ziegler 
Os presentes lembraram o ambiente da época onde começava a industrialização do esporte, a construção de ídolos pela mídia e a oferta de produtos, material e equipamentos  para o exercício físico corpo. Neste sentido foi lembrado o projeto nazista da eugenia e da raça humana, evidenciada nos corpos dos atletas. Na mesma obra de 1944 Fabio de Barros discorre  pp.22-25, sobre Francesca de Rimini. Neste texto, falando sobre a Divina Comedia colhemos o seguinte comentário:
A arte não tem a verdade por objeto, mas o belo. Quando porém, ela se apodera de um fato histórico e o transfigura e deforma, criando uma ficção, a ficção fica sendo a verdade, e a História tem que ceder. Afinal, que melhor garantia de veracidade nos pode oferecer a História dos fatos, que menos se contestam, se não possui outra forma de informação se não o testemunho, sempre falível, dos homens?”
O desencanto de Fabio de Barros com a política os políticos brasileiros está no artigo intitulado “Entre Platão e Aristófanes” do qual Ilita ressaltou amos alguns trechos muito interessantes e atuais. Entre eles Fabio de Barros escreveu em 1944 nas pp. 41-48.

Menos compreensível é que, ainda hoje, passados mais de vinte séculos, exista quem pretenda atribuir foros de dogma político a superstição que ligar a sorte da democracia aos discurso. Digo-lhes aqui, confidencialmente, que esta solução não satisfaz completamente os meus sentimentos. Se me fosse permitido, como brasileiro, formular um voto, pediria, com todo o respeito a S. Ex. o senhor Getúlio Vargas, que houvesse por bem fechar as portas da Câmara e do Senado e atirasse as chaves na baia da Guanabara, bem ao fundo.”
Fig. 06 –   O nome Hippolyte Léon DENIZARD RIVAIL (1804-1869) e  a obra “Education publique” (1828)  submergiram no seu pseudônimo  Alan Kardek e pela vulgarização e reducionismo das suas ideias realizadas pela Revista Espírita a partir de 1858. No Brasil esta doutrina seguiu o mesmo destino de vulgarização e reducionismo que sofreu Augusto COMTE do seu CATECISMO POSITIVISTA.  Isto apesar do pintor Pedro AMÉRICO haver defendido, em 1867 na sua tese “SISTEMA das CIÊNCIAS” defendida diante de 2.000  pessoas na Universidade Livre de Bruxelas. Em Porto Alegre Olinto de Oliveira foi certeiro na distinção entre COMTISMO e POSITIVISMO defendido em dois artigos publicados em 1897 no Correio do Povo

Em outro artigo intitulado “medicina e espiritismo” de 1944, nas pp. 54 -62.

Durante muito tempo os espíritas e os médicos viveram em santa paz cada qual nos seus domínios. De certa maneira pode-se dizer que o espiritismo nasceu da medicina. O pai do espiritismo era médico. Chamava-se Rivail, de seu verdadeiro nome. Observador curioso, dado a experimentação cientifica, sucedeu-lhe ver coisas que os outros não viam, ou viam de modo diferente. Eram fenômenos pouco habituais e de uma natureza especial. Não estavam na Ciência Oficial e acadêmica. Procurou explica-los. Como além de obscuro e místico, possuía imaginação, não lhe custou nada abrir uma fresta na consciência, por onde passou um raio de sobrenatural. Não era uma claridade ofuscante antes uma penumbra discreta. Ninguém ignora que fantasmas gostam de sombra. Eis porque o espiritismo é uma espécie de filho natural da Medicina. Por que brigam agora? Para mim, como para os ilustres membros da Sociedade de Medicina e Cirurgia, a doutrina espírita é pueril, extravagante, arbitraria, fantasista. Num ponto porém divergimos, se a Sociedade me observar que são, principalmente os pobres de espíritos que sustentam o Espiritismo, advertirei ser inútil e, ao de mais injusto, pedir providencias à polícia contra a tolice humana”.
Quanto as médicos que se dedicam à ARTE e à POESIA - mesmo já na terceira idade - Fábio de Barros artigo  Poesia nova” no qual, sob o seu pseudônimo habitual Vitoriano Serra escreveu, em 1944 pp.  135-142 que:
EMÌLIO KEMP num desenho de um seus estudante e publicado na  REVISTA ESTUDO - nº1 -  1930 - p.13   .
Fig. 07 - O  médico, jornalista, poeta  e pedagogo Dr. Emílio KEMP LARBE (1874-1955)[1] havia defendido tese de doutorado na mesma área de pediatria do que o Dr Olímpio OLINTO de OLIVEIRA.  Fernando Corona recebeu preciosa ajuda no planejamento do Jardim de Infância de INSTITUTO de EDUCAÇÃO FLORES da CUNHA de Porto Alegre da parte do Dr, Emílio KEMP e proveniente  da sua  condição de pediatra profissional

 Emilio Kemp teve a gentileza, que lhe agradeço, de oferecer –me um exemplar do seu novo livro e versos. Novo, em mais de um sentido. Novo, pela data da composição, que é recente (1938-1942); novo pela forma, que é novíssima e se afasta, nalguns dos CANTOS de AMOR ao CÉU E À TERRA, daquela em que o poeta vazou suas emoções, por volta de 1900, ao publicar uma primeira coletânea de poesias... São porem infidelidades que suas musas já lhe terão perdoado, em consideração do muito que ele as tem sabido amar. Não nos iludamos; este poeta novo é um poeta velho. Uso a expressão sem a intenção depreciativa que ela parece ter para a moderna geração de escritores e poetas.  Os moços, no seu justificado entusiasmo, e com a admiração que lhes merece a própria obra, acreditam nada dever ao passado, e o tratam com desdém, esquecidos que, um dia, serão igualmente velhos e olharão o presente com desconfiança. Nem tudo é mau na velhice, nem tudo é bom, na juventude. Mas é natural e mesmo útil que os velhos sejam prudentes e os moços revolucionários. Por esse conflito de ideias estabelece-se um justo equilíbrio e, após a luta fica no campo alguma coisa de que as gerações posteriores aproveitam. Em arte, como na vida, o instinto me conduz. E quem não vê que o instinto é um guia mais fiel e mais seguro que a inteligência?” .

Ilita comentou que se constitui num texto muito interessante. Como os anteriores não trata diretamente da arte visual mas nos traz a baila a maneira de Fabio de Barros posicionar-se frente aos fatos. Cirio Simon informou que o  medico, jornalista e pedagogo Emílio KEMP LARBE tinha defendido tese de doutorado na mesma área de Olímpio Olinto de OLIVEIRA.  Assim  Fernando Corona recebeu preciosa ajuda do Dr. Emílio KEMP no planejamento do Jardim de Infância de INSTITUTO de EDUCAÇÂO FLORES da CUNHA de Porto Alegre. Os presentes comentaram que o governo do Estado do Rio Grande do Sul dedicou a titularidade de uma das suas unidades escolares ao Emílio KEMP.
Fig. 08 –   Público atento e interagindo com a exposição de Ilita PATRÌCIO e  Dirce ZALEWSKY no momento em que estas apresentavam, no dia 28 de setembro de 2017, a sua pesquisa relativa ao PENSAMENTO do crítico de arte, medico psiquiatra Fábio de BARROS O projeto, de 2017, do grupo de PESQUISA da AAMARGS,  é estudar, debater e continuar a investigar os representantes que se dedicaram ao campo das ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL por meio das expressões do seu pensamento ainda disponível, significativo e ativo no presente.

No artigo  Literatura e Psiquiatria” Fábio de Barros registrou em 1944,  pp. 143 – 147:  
Informaram os jornalistas desta semana, que o meu eminente amigo professor Austregésilo, médico e membro da Ilustre Companhia, dando seu inestimável concurso aos vários atos com que se celebra, no Rio, o centenário de Machado de Assis, pronunciará na Academia Brasileira de Letras uma conferência, analisando, sob aspectos psiquiátricos, a obra do grande romancista [....] Não me parece que exista relação necessária entre o físico e o moral, entre o sistema nervoso e a alma. Mas, quando mesmo se demonstra a existência dessa relação, que adiantaria a verificação sob o ponto de vista estético? Explicar a obra pelo autor não se me afigura um processo de crítica recomendável, em todos os casos. Nem sempre é possível encontrar na obra literária da neurose ou da psicopatia do escritor...Eis por que eu desejaria que a obra literária de Machado de Assis, como toda a obra de arte, seja estudada e examinada em si mesma, na sua própria beleza especifica, independentemente das condições que a fizeram nascer. Aliás, se alguma cousa valem alguns homens, é exatamente por que, a despeito das suas fraquezas ou das misérias da sua natureza material, conseguem elevar-se a alturas a que não podem atingir a enorme maioria dos seus semelhantes, e, criando uma forma de beleza, nos tornam a vida mais tolerável. E é ainda uma verdade que devemos louvar a beleza, desinteressadamente e onde quer que ela encontre, como louvou Aristóteles, que o considerava o melhor e o mais raro dom dos deuses e a condição mesma da felicidade.
Fábio de Barros expôs  sua posição face as narrativas  histórias quando na  “História de Hitler”  escreveu, 1944  p 209, que

 a ficção, na história, utiliza os acontecimentos e dá-lhes uma forma de arte, da mesma maneira que a escultura tira do mármore a estátua. Todo o historiador é um artista, quando não seja, apenas um imbecil. Os gênios e os monstros são igualmente necessários à completa harmonia do universo, que, sem eles, nos pareceria menos perfeitos. Sem Hitlers e sem Bonapartes e também sem Mussolinis e sem Göbbels – a comédia humana seria de uma horrível insipidez e o mundo de uma intolerável monotonia. E a vida não será de toda má, se tivermos o bom senso de distinguir as coisas, prevenindo-nos de confissões que nos exponham ao risco de cairmos de novo, no caos primitivo”
Mesmo nos piores e críticos momentos Fábio de Barros não perde o rumo ou se deixa fascinar pela propaganda de um mundo em confronto de morte. Ao tomar posição no artigo “Delenda Cartago!” distingue o que deve ser destruído e aniquilado e o que necessita ser preservado e continuar a ser cultivado como civilização Assim escreveu, 1944  p 209, que : 

talvez não acreditem o que vou dizer. É uma confissão arriscada neste momento; corro este risco: eu admiro a Alemanha e o povo alemão. A filosofia e a poesia alemãs foram o cimento da minha educação intelectual. Devo-lhes o gosto pela cultura clássica e pelo velho iluminismo, tão desdenhado hoje e no qual se formou o meu espírito. Da Alemanha e do povo alemão conservo n’alma recordações que se não apagaram porque são recordações de mocidade. Como não admirara terra e o povo de onde surgiram Kant, Winkelman,  Schopenhauer , Schiller e Lessing, Goethe e Heine , Tieck e Novalis, Dürer, Beethoven e Bach? Como não admirar a Alemanha criadora do maior movimento de ideias que embalou século XIX, no seu nascimento, o Romantismo, a Alemanha liberal, sonhadora e revolucionaria de 1848, que se insurgia contra o despotismo militar e levantava barricadas nas ruas de Berlim contra os batalhões de Prittwitz? Eu poderia dizer alguma coisa da velha Alemanha, “loira guardadora de ursos”, amante da paz e do estudo, que nos fazia rir os atrevidos generais de Bonaparte, que a julgavam capaz somente de produzir poetas e filósofos. Há trinta anos, eu visitei, como viajante sentimental, algumas das cidades, onde as antigas e poéticas tradições haviam resistido à devastação da sólida bota prussiana e nelas respirei o sutil e cativante perfume do passado, que, como o de certos vinhos guardados por muito tempo, produzem a embriaguez eufórica e generosa de um filtro mágico. Mas não enganarei ninguém, dizendo que foram os pensadores e poetas alemães que me ensinaram a detestar a Prússia e o prussianismo... Continua na p. 228, “eu que sempre admirei a Alemanha honesta e sonhadora, em verdade vos digo: é necessário destruir, a todo custo, o nazismo nas suas origens mais profundas. A severidade, a dureza do ataque é o preço da nossa tranquilidade futura, que está sendo alcançada com incalculáveis e ingentes sacrifícios. Queremos a paz: ela é o melhor dos bens a que podemos aspirar”.

Preparando cenários para ao baile “PHILOSOPHIA”  no  Theatro República – Porto Alegre. In Revista Máscara  -  1925     http://prati.com.br/bwg_gallery/sociedade-revistas
Fig. 09 –   A gênese do SALÃO de OUTONO de 1925 está no grupo que preparou, em manga de camisas,  os cenários do BAILE de CARNAVAL denominado “PHILOSOPHIA” de fevereiro de 1925 . Um dos princípios para gerar projetos de pertencimento é o trabalho coletivo. Esta norma é particularmente perceptível na formação de movimentos estéticos. O medico, psiquiatra e crítico da arte  Fábio de BARROS  estava envolvido nas formações de grupos de músicos. Com esta experiência Fábio esteve ao lado dos artistas visuais de Porto Alegre quando estes resolveram socializar as suas obras que Joaquim LE BRETON denominava de “ARTES NOBRES”. Fabio de BARROS as distinguia das “ARTES MENOS NOBRES”

No artigo “A Arte e a Moral” Fábio de Barros conduz o seu pensamento por meio de amplos critérios nos quais se adivinha a sua formação psiquiátrica e as canecões e suas escolhas estéticas. Assim registrou  1944 p.  230 que

 li, não lembro onde, ser difícil que um sermão sobre a castidade se mantenha inteiramente casto, de princípio ao fim. E isso é quase toda a literatura e quase toda a arte. Que seja assim, não é de admirar. A função da arte é produzir certo gênero de emoções que se propagam por contagio nervoso..... Talvez se explique assim a predileção da literatura moderna, pelo menos, a de certas escolas literárias, pela pintura e pela análise de sentimentos anormais, pelo estudo dos casos patológico e, até mesmo dos teratológico, e o gosto de nos mostrar o homem sujeito aos seus grosseiros instintos atávicos....”..

Recorte  colagem de uma página do Diário de Francis PELICHEK – Arquivo do IA-UFRGS 
SALÃO de OUTONO de 1925   Porto Alegre Revista Máscara - ano  VII nº 7 junho 1925   
Fig. 10 –   Uma interferência do artista tcheco Francis PELICHEK sobre uma página da Revista Máscara que fazia um ampla reportagem  do SALÂO de OUTONO de 1925. PELICHEK esteve envolvido tanto na preparação do BAILE de CARNAVAL como na SALÂO de OUTONO. De outra parte é necessário destacar a verve e experiência carioca de Helios SEELINGER, como a do medico, psiquiatra e crítico da arte  Fábio de BARROS  e Tasso CORREA ambos com a sua formação acadêmica realizada no Rio de Janeiro e onde viveram o clima de carnaval carioca.

 Fábio de Barros  continua na p. 240 que: 
é uma lei da psicologia que as ideias tendem a realizar-se e os sentimentos a se exteriorizar. A arte, que nos sugere ideias e sentimentos , pode , desta sorte , oferecer normas à conduta e dar uma direção ao espirito... Eu sei perfeitamente que arte não é o mesmo que a moral. Uma coleção de poesias não é um catecismo de direção espiritual”.

 Este pensamento ganha forma na 241
Eis porque uma arte que se compraz em explorar as ideias menos nobres e os sentimentos que deprimem, em vez de exaltar o indivíduo; que nos mostra o homem degradado, pinta a vida nos seus aspectos mais repulsivos, e vê o mundo através de um pessimismo dissolvente, uma arte, no fundo, inferior, sob o ponto de vista moral, é também inferior sob o ponto de vista estético”
Na mesma linha Fábio BARROS prossegue, 1944, p.247:

 que o artista interprete e reproduza a natureza, muito bem. É um modelo excelente sob a condição de não ser olhado de muito perto. Aliás, naturalistas ou românticas, pintando o homem, o que ele pensa e sonha, o que ele sente e imagina, a arte não sai do círculo estreito dos fatos naturais. Mas “a natureza só é bela velada e talvez fosse preciso representar a arte, como o amor, com uma venda nos olhos.” A natureza – e nela compreendo o coração do homem – tem mistérios que não querem ser revelados, e nos advertem com um” noli me tangere”.
Neste ponto Fábio BARROS na eterna problemática do TOTEM e do TABU em cujos extremos : 
uma grande curiosidade pode converter-se num crime cujo castigo, é a morte do ideal. Foi o crime e, também o castigo de psique. Mas, sem o ideal nenhuma arte é possível”.

Fig. 11 –    Heitor  MALAGUTI foi  o libretista do texto italiano da ópera  CARMELA (1902) de José de ARAUJO VIANNA. Por sua vez Fábio de BARROS havia composto em fevereiro de 1898 a música  da ópera ESMERALDA cantada por Stela Teixeira. Teatro S. Pedro, música de Fábio Barros e João C. Fontoura, libreto de V. Oliveira, Arnaldo D. Oliveira e V. Vereza

Diante da obra inacabada de Heitor Malagutti (1872-1925),  um artista com qual Fábio de Barros conviveu no antigo Rio de Janeiro antes de Pereira Passos e Oswaldo Cruz. Na apreciação da obra do pintor o cronista de arte escreveu 1944, p. 248 que :
para traçar um retrato de Malaguti eu precisaria de graça leve, das musas da Antologia, eximias no fundir, para a eternidade em dois ou três versos alados e sutis, de uma melancolia sorridente, a fisionomia de seus amigos mortos....Conheci-o em 1902. O Rio de Janeiro daquele tempo era a velha cidade colonial de vielas irregulares e menos cosmopolita, pois a febre amarela realizava então, um trabalho de nacionalização mais seguro que o em que nos empenhamos hoje...”. e prossegue na p, 251 “conheci Malaguti , nas portas da confeitaria Colombo. O maestro Araújo Viana fez as apresentações. Malaguti nasceu sob o céu límpido da Itália e veio para o Brasil ainda nos braços maternos. Criou-se no Rio, numa rua de subúrbio, como os pássaros e as flores, à lei da natureza, que lhe concedeu sensibilidade delicada, a inclinação e o gosto naturais para a arte, o amor da liberdade e quase tudo quanto ele sabia, que era muito, porque é a vida. Adolescente tocava flauta numa banda musical de bairro e conheceu Carlos Gomes. O mestre descobriu no menino disposições para a música e propôs-se a leva-lo para Milão. Voltou ao Rio já homem, não musico mas pintor e poeta, apaixonado por Dante e dos clássicos latinos, especialmente Horácio, e com um sentimento ainda maior de liberdade dentro do coração. Grande critico dele mesmo e dos outros. É pena, costumava dizer, com frequência, aos seus companheiros de arte, vocês tem talento, mas são escravos, e em arte precisamos ser livres. Pintor deixou poucos quadros, todos inacabados. No seu modesto atelier havia sempre uma tela, no cavalete, a espera da mão do artista. Tinha a imaginação poderosa e fecunda. Perdia-se em projetos, sem forças para realiza-los. Creio que seu último quadro foi um nu quer deveria ser admirável- Beatrix- em cuja moldura em estilo dórico, como o pórtico de um templo pagão, mandou gravar um versículo bíblico. A figura era de uma adolescente, de pé, a cabeça ligeiramente inclinada para a direita, de olhar curioso e surpreso pelo estudo novo de vida que lhe inundava o sangue. Pendia-lhe, do pescoço, uma fileira de pérolas, que se lhe insinuavam entre os seios virgens, apenas núbeis, e iam enroscar-se lhe nos pulsos como duas serpentes. Como fundo, longínquo, numa perspectiva fugidia, um pôr do sol luminoso, sobre o outeiro da Gloria, em face para o mar, com as suas palmeiras esguias e a silhueta da velha igreja. O quadro figurou inacabado, no salão de Belas Artes de 1903 ou 1904   passou despercebido, apesar de suas grandes qualidades. Malaguti foi um artista que poderia ter sido grande, mas faltou-lhe aquela constância paciente, que para Bufon era a condição mesma do gênio.
Na obra “Palavras Ocas”, editado no ano de 1921, e da qual se preserva a grafia original no tema “A Moral das Ligas” Fábio de Barros escreveu na p 58 que
em geral, a moralidade ou a imoralidade não constituem uma qualidade inerente à natureza das coisas. O conceito ético depende da ideia que associamos aos fatos. Esta conclusão é perigosa para todos os moralistas e para a “Liga”, mui especialmente. Pense-se, apenas, que a Liga deve, por função, pronunciar-se constantemente, com o zelo peculiar á sua alta dignidade social, sobre a vida diuturna da cidade, sobre nossos usos e costumes, e, portanto, revelar o pensamento íntimo, a série de imagens mentais que circunstâncias, de ordinário indiferentes á moral, despertam em sua consciência impoluta. Desde o momento em que alguns cavalheiros puros, se congregam para fundar uma “Liga pela moralidade pública ” investida de uma autoridade omnimoda  para julgar a conduta alheia , dando-a como moralmente digna ou indigna ,  é de supor que os membros da terrível agremiação tomassem todas as providencias para assegurarem a posse de uma certeza moral insofismável e absoluta.....” Na p 61 Fabio é incisivo...  “Os artistas, os poetas, sambem-no todos, são os mais imorais dos seres. O caminho da arte é o caminho da perdição. Ela é volúpia, ela é sensualidade, ela é o desregramento dos sentidos...”
 Na p 63 conclui irônico...
“Positivamente, em matéria de moralidade, as únicas ligas que me seduzem são as de seda…”
Os presente lembraram a atualidade desta discussão face a uma exposição realizada em Porto Alegre violentamente contestada, defendida e que a instituição resolveu encerrar antecipadamente. Nas suas competências e dos seus limites Fábio de Barros esteve consciente, como é possível verificar em “ADVERTÊNCIA AO LEITOR” ao iniciar a sua obra intitulada “A Colheita” publicada em  1944
Compõe   este volume alguns artigos que publiquei no “ Correio do Povo”....Aos que me lerem por estima pessoal não será difícil verificar que em cada artigo deixei um traço de mim mesmo: o conjunto delas será um retrato, grosseiro, mas fiel e sincero, que a amizade poderá reconstituir quando eu já não for dentre os vivos, o que acontecerá em breve, tenho certeza. Medindo o espaço já percorrido, no caminho da existência é fácil calcular que pouco me resta a andar até o ultimo marco. Sem contar com que é natural, outras causas estão cooperando para encurtar o último trecho da jornada. Sinto a vida fugir-me rapidamente, como a água por uma falha imperceptível do vaso que a contem. Não indago o que virá após. Seria perder tempo, sem proveito. Quem conseguira penetrar no mistério da morte?”
Jacinto GODOY e equipe da SANTA CASA – Porto Alegre: Revista Máscara – 1925
Fig. 12 –  O Dr. Jacynto GODOY[1] com a sua equipe médica ativa, em 1925, na Santa Casa de Porto Alegre. O medico psiquiatra Fábio de BARROS foi vice-presidente da “Sociedade de Neuro-Psiquiatria do Rio Grande do Sul” tendo como presidente o  Dr. Jacynto GODOY com reunião regulares mensais entre os anos de 1938 e 1940

Ilita PATRÍCIO fez uma avaliação de sua pesquisa e os resultados obtidos. Em “Comentários finais” escreveu: 

Não encontrei textos específicos sobre pintura ou escultura, no material que tive acesso, apenas fragmentos que tentei recolher. Durante seu período no Hospital Psiquiátrico  São Pedro  também não achei muito material especifico sobre seu trabalho , penso que era pelo fato de ser vice-diretor do Dr Jacintho Godoy. Seus temas preferidos eram a literatura e história. Conhecedor dos pensadores gregos, romanos, franceses alemães. Fazia citações em várias línguas. Observador dos costumes e crítico dos mesmos. Vários artigos sobre o papel da mulher na sociedade. Li com prazer os textos do Fabio de Barros, tentando construir uma imagem de suas ideia sobre arte e a vida. Este recorte certamente será diverso quando os textos forem lidos com outros olhos. Confesso que a seleção foi subjetiva, deixe-me levar pelo instinto como Fabio me ensinou. Este é um pequeno começo para desencadear um trabalho mais completo sobre este médico multifunção!”.
Fig. 13 –   O panorama de Porto Alegre, no início do século XX, visto de uma das ilhas fronteiras e estampadas numa litografia da gráfica Weingärtner. A capital do estado do Rio Grande do Sul foi o cenário das críticas e crônicas de artes do  medico psiquiatra Fábio de BARROS. Apesar de sua origem em Uruguaiana ele escolheu o lugar, o tempo e a sociedade metropolitana para exercer a sua ciência e arte. De outra parte foi fiel a esta escolha até os seus últimos dias. A tendência natural era migrar para o Rio de Janeiro com clima mais ameno e uma intensa variedade de vivências estéticas, políticas, técnicas e econômicas.
Ilita escreveu um  Apêndice” no qual, por curiosidade, trouxe alguns dados extraídos da obra  Estrychnina” 1997, de Luís Augusto Fischer. Este escreve que

 “ Porto Alegre,  em 1881. ano de nascimento de Fabio de Barros, pertencia ao regime da Monarquia. Se inaugurava o primeiro chalé da Praça Quinze, a cervejaria Bopp,  o Prado no Menino Deus e a exposição Brasileira Alemã. Apareceu o jornal “ Koseritz Deusche Zeitung. Primeira eleição direta para o parlamento nacional quando Porto Alegre tinha 1687 eleitores e se iniciada a construção do Asilo da Mendicidade. Já em  1900, Porto Alegre contava, com 73.674 habitantes. Em contraste o Rio já contava com 612.933 cidadãos, são Paulo 239.820, salvador 205,813 Recife 113.106.A capital gaúcha vinha e um crescimento populacional constante e homogêneo, desde o começo do século, diferentemente de São Paulo, que entre 1840 e 1890 tinha população parecida com a Porto Alegre mas estourou nos últimos dez anos do século. Entre os vários jornais que circulavam então temos A Reforma, (1869-1912), Jornal do Comércio (1864- 1911), e a Federação (1884-1937) órgão oficial do partido Republicano. Todos traziam textos dos mais significativos intelectuais e artistas da época. Na política, Fabio de Barros nascido então em 1881, viveu a época da Guerra Civil de 93, luta mais sangrenta que o Brasil terá visto. Foi a revolução da degola, a revolução da truculência aberta e impudica. De um lado o Estado positivista republicano engendrado pelo jovem Júlio de Castilhos, Assis Brasil, Borges de Medeiros, Pinheiro Machado, Ramiro Barcellos, todos nascidos entre 1851 e 1863. Do outro lado uma composição heterogênea de republicanos descontentes, monarquistas saudosos, liberais assustados e caudilhos apeados do poder, resistindo com maior ou menos consciência, à impiedosa avalanche modernizadora representada pela República”.

INTERAÇÃO entre os dois primeiros professores de HISTÓRIA da ARTE do RIO GRANDE do SUL
Fig. 14 –   A lista dos artistas que apresentaram obras, em 1925, no SALÃO da ESCOLA de ARTES do INSTITUTO de BELAS ARTES. Ângelo GUIDO percorreu, analisou cada artista e publicou na REVISTA da EDITORA GLOBO de  dezembro de 1929. A avaliação e critica das obras, que Ângelo GUIDO expunha neste salão, couberam ao jornalista, cronista e crítico de arte, medico psiquiatra Fábio de BARROS. A repercussão social e econômica, deste SALÃO, foi duramente atingida pela QUEBRA da BOLSA de Nova York do dia 24 de outubro de 1929. Esta roubou toda atenção pública que este evento poderia ter recebido.

Conforme recomendo texto de Ilita PATRÍCIO que foi seguido até este ponto, a rica e polifacética figura e obra de Fábio de BARROS merecem a sua lembrança e a busca de prolongar o mais possível o seu PENSAMENTO. Muitas outras descobertas é possível  fazer nas ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL. Uma delas é evidenciar a sua relação com o INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL e os seus mestres  
Fábio de BARROS foi o primeiro professor de História da Arte ESCOLA de ARTES do INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL Não se profissionalizou e nem assumiu as funções deste cargo, pois psiquiatra o Dr. Fábio era membro da COMISSÃO CENTRAL do IBA-RS e o regulamento proibia o acúmulo e esta profissionalização  Assim Ângelo GUIDO (1893-1969)  tornou-se o primeiro professor já profissionalizado no magistério de História da Arte do IBA-RS na condição universitária.

Os dois mestres interagiam no espaço cultural de Porto Alegre ao longo da primeira metade do século XX.

Uma destas interações deu-se no SALÃO da ESCOLA de ARTES do INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL - aberto no dia 15 de novembro de 1929, no foyer do Theatro São PEDRO. Fábio de BARROS manifestou-se em relação à obra de  Ângelo Guido que havia escrita extensa crônica e apreciação deste SALÃO. Esta matéria foi capa  na Revista do GLOBO no número ano 23 no seu primeiro ano  e com amplo texto ilustrado das páginas 4 até 7. No entanto Ângelo Guido também expunha as suas obras e que ele calou. Os editores da revista deram esta tarefa de registro e análise estética para Fábio de Barros. Este publicou, sob a título “O PINTOR da VIDA”, a sua apreciação nos seguintes termos:

As telas  de Ângelo Guido são desdobramento, através de um temperamento individual de artista, do movimento vibratório da vida.

Fig. 15 –   As metáforas que o medico e psiquiatra Fábio de BARROS - evocou na sua experiência pessoal diante da obra pictórica de Ângelo GUIDO - remetem o expectador a fazer a mesma experiência diante das “MANCHINHAS PINTADAS” de Ângelo GUIDO No texto de Fabio de BARROS é notável a sus capacidade de lidar com o repertório médio do seu leitor e potencial observador da obra que é objeto de sua crônica e crítica.

A vida é a preocupação principal deste pintor. Vida de trabalho, ou vida de sonho, talvez mais sonho que de trabalho, mas enfim, sempre vida. Nas suas magníficas cenas de praia, o interesse humano sobrepuja o pitoresco. . O mar está ali para dar sugestões à alma que se avizinha como a rapariga apaixonada que traça com a ponta da sombrinha, em letras que a água apagará sobre a praia, com o tempo apegar-lhe-á, no coração, o pensamento que se arremessa par o céu, e luminosa se quebra contra o rochedo, como na paisagem, o que lhe interessa é sempre o drama, no aspecto dinâmico da luta de forças, o concerto de magias. Nada mais contrário ao temperamento da Ângelo Guido, que a imobilidade. O que ele ama é a vida, os músculos em atividade, os nervos vibrando, a selva borbulhando na cor dos vegetais, as forças misteriosas que agitam a natureza. Daí uma técnica larga, rápida, ampla, de pinceladas que mancham com segurança de uma emoção, em contrastes de cores cruas, em que mais se sentem do que se percebem os detalhes. E apesar disso, existe nos quadro de Ângelo Guido, uma extraordinária harmonia de colorido: é que o jogo dos valores é estudado rigorosamente. Compreende-se que para chegar a este resultado  devia começar o pintor, por desviar-se dos caminhos trilhados e procurar, por sua própria conta, novas vias para alcançar a sua meta. Felizmente, uma intuição, um como instinto discriminatório  guia-lhe o braço na descoberta de efeitos. Ele os alcança e realiza sempre pelos processos mais simples como nas coisas que se produzem espontaneamente. Não se lhe percebem, rebuscamentos técnicos, preciosismo de fatura, coisas para colherem a atenção e surpresa. A poesia, não está os objetos, está em nós mesmos. E onde quer que caiam,  ou pousem os olhos de Guido, praia e escapa, árvore e silhueta de mulher, logo um eflúvio de poesia se derrama impregnando o ambiente, a comunicar-se simpaticamente na alma de quem contempla os quadros. O espírito do artista vibra em todos eles.”
Fábio de BARROS.
Texto publicado no FACE BOOK do GRUPO de PESQUISAS da AAMARGS
Fig. 16 –  A capa da REVISTA da GLOBO de  dezembro de 1929 que apresentaram obras do SALÃO da ESCOLA de ARTES do INSTITUTO de BELAS ARTES inaugurada no dia 15 de novembro de 1929. Esta data sublinhava e era parte da comemoração da PROCLAMAÇÂO da REPÚBLICA do BRASIL. O IBA-RS  tinha surgido sob este regime republicano e, numa época. Na qual  o ESTADO do RIO GRANDE do SUL e demais estados brasileiros tinham sido elevados ao patamar de  “SOBERANOS”. Assim estes estados tinham os seus PRESIDENTES e um PALÁCIO PRESIDENCIAL. Assim era importante evidencia a artes deste ESTADO SOBERANO. Esta tarefa cabia ao  SALÃO da ESCOLA de ARTES do INSTITUTO de BELAS ARTES    Ângelo GUIDO e Fábio de BARROS interagiram por meio da REVISTA do GLOBO que pode ser vista como parte final deste ESTADO SOBERANO SUL-RIO-GRANDENSE. Cabe a evidente crítica que esta SOBERANIA ESTADUAL era uma forte barreira para a interação na NAÇÂO BRASILEIRA. O ESTADO NOVO (1937-1945) irá derrubar estas frágeis e inconsistentes barreiras que estes ESTADOS SOBERANOS haviam construído ao redor de si mesmos.

Com seu exemplo pessoal, Olinto conseguiu seduzir grandes nomes da medicina de Porto Alegre para as artes. Além do médico João Birnfeld que, estava ao seu lado, no momento da fundação do Instituto, o seu exemplo conseguiu levar para o Instituto o diretor da Faculdade de Medicina Sarmento Leite. O seu cunhado, Raimundo Gonçalves Vianna. Fábio de Barros e Mário Totta são outros médicos, que seguiram o seu exemplo e dedicaram os seus melhores momentos ao trabalho na Comissão Central do Instituto. Isso sem falar do médico que era presidente do Estado na época da fundação do Instituto.



Fig. 17 –   O prestígio profissional do medico psiquiatra Fábio de BARROS fez com que ele fosse escolhido para chefiar a equipe médica brasileira que se deslocou para o teatro da I GUERRA MUNDIAL.. O Brasil entrou no conflito depois de ser atingido no seu patrimônio e de perder vidas humanas

Conforme Aldo Obino[1]O Fábio chefiou a missão brasileira na guerra de 1914; tirou retrato com Machado de Assis e escreveu peças teatrais. Foi um médico ilustre na Guerra de 1914, mas tinha um vício:  bebia e talvez algo mais...”.


[1] OBINO, Aldo. Notas de arte. Org, Cida Golin.  Porto Alegre : MARGS/Caxias do Sul : Nova Prova EDUCS,   2002,  p. 19. https://www.ucs.br/site/editora/catalogo/artes/aldo-obino-notas-de-arte/

Fábio de BARROS está presente na reunião da Comissão Central do IBA-RS e assina na sessão do dia 04 de outubro de 1921 e da qual nunca se desvinculou para assumir o papel e as funções de professor de História da Arte. Inclusive o numero de pagantes da Escola De Arte não permita manter um quadro funcional além de Libindo Ferrás e Francis Pelichek. Enquanto isto  Fabio preferiu  a larga polêmica e o papel didático dos periódicos de Porto Alegre ainda sem a concorrência do rádio e muito menos da TV. Assim podia exercer e reforçar as suas posições de polemista sem se restringir a uma sal de aula de uma escola que raramente atingia o número de vinte estudantes de arte e num torno no qual frequentavam as escolas “sérias e de futuros profissionais”.

Fig. 18 –   As crônicas e críticas do medico psiquiatra Fábio de BARROS constituíram um rico e variado acúmulo de narrativas publicadas nos periódicos diários impressos mensais e prontas para receber o formato de um livro. É necessário notar a autocritica deste acúmulo e que o tempo lhe permitiu realizar. Na obra “COLHEITA” de 1944 e com estrutura semelhante as “PAVRAS OCAS” de 1923 ele chega até as raias da crueldade implacável consigo mesmo quando publicou que o leitor “poderá verificar que em cada artigo deixei um traço de mim mesmo: o conjunto delas será um retrato, grosseiro, mas fiel e sincero, que a amizade poderá reconstituir quando eu já não for dentre os vivos, o que acontecerá em breve, tenho certeza”.
Fontes bibliográficas da pesquisa de ILITA PATRÍCIO

AZURENHA,Paulino; LOBO,Souza;TOTTA,Mario; Estrychnina, Porto Alegre: Artes e Oficios, ( 1998)
DO RIO, João; A Alma encantadora das ruas - São Paulo: Companhia de Bolso . (1997)

FRANCO, Sergio da Costa Porto Alegre ano a ano: cronologia histórica:1732-1950. Porto Alegre: Letra & Vida . (2012).

BARROS, Fabio de Colheita .Oficinas Graficas da Livraria do Globo . Porto Alegre (1944)
--------Palavras ocas (chronicas e commentarios) Porto Alegre :   Globo 1923  260 p.

CÂMARA, Armando, BARROS, Fabio de Porto Alegre: Revista Estudos , (1943)

Yonissa Marmitt Wadi et Nádia Maria Weber Santos. Debats O Doutor Jacintho Godoy e a História da Psiquiatria no Rio Grande do Sul /Brasil 2006

GODOY, Jacintho. A psiquiatria no Rio Grande do Sul . Porto Alegre: edição do autor, 1955

OBINO, Aldo. Notas de arte. Org, Cida Golin.  Porto Alegre : MARGS/Caxias do Sul : Nova Prova EDUCS,   2002, 152 p. https://www.ucs.br/site/editora/catalogo/artes/aldo-obino-notas-de-arte/
SANTOS, Nadia Maria Weber Espaços e narrativas da loucura em três tempos (Brasil, 1905/1920/1937) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULINSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANASPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIAHISTÓRIAS DE SENSIBILIDADES .2005 (Brasi)

BARROS, Fábio
----Hiantesthesias organicas: syndromo thalamico. Porto Alegre 
       : Faculdade de Medicina de Porto Alegre   Tese (cátedra de Clínica Neuriatica)  1926 102 p.
-----Sobre a existencia de um : syndromo  choroide autonomo.Porto Alegre : Faculdade de Medicina de Porto Alegre . Tese (cátedra de Clínica Neuriatica)  1926  36 p.

Outras fontes bibliografia da pesquisa que consta em
VILLAS-BÔAS, Pedro. Notas de bibliografia sul-rio-grandense-autores. Porto Alegre: a Nação-SEC-IEL, 1974  e Dicionário bibliográfico. Porto Alegre : EST-EDIGAL 1991.
------Esmeralda (Ópera, fev.1898, cantada por Stela Teixeira. Teatro S. Pedro, música de Fábio Barros e João C. Fontoura, libreto de V. Oliveira, Arnaldo D. Oliveira e V. Vereza);
------O ritmo da Arte (conferência),  Porto Alegre : Globo  1908, 19 p. não numeradas;
------A liberdade profissional no Rio Grande do Sul:  a Medicina e o Positivismo(conferência) Porto Alegre : Globo  1916, 29 p.);
-------Saudação ao Prof. Georges Dumas na Faculdade de Medicina . Porto Alegre : Globo  1917, 14 p;
--------Aberrura oficial dos cursos (discurso in Revista dos Cursos da Faculdade de Medicina,  Porto Alegre : Globo  separata 1924, 10 p);
------- Sobre a existência de um Síndromo talâmico. Porto Alegre : Faculdade de Medicina/Globo  1926, 36 p.
---------A missão de Sào Francisco  in Conferências franciscanas Porto Alegre : Globo  1927,  pp.138/52 ; Colheita.  Porto Alegre : Globo  1944, 327 p”. 
Fig. 19 –   Mais uma entre as raras fotos do medico psiquiatra Fábio de BARROS encontradas na pesquisa de Ilita PATRÍCIO. Os pequenos índices da imensa produção de Fábio de BARROS que serviram para presente postagem  necessitam ainda de muita pesquisa. Porém mais urgente é a consolidação desta memória em instituições confiáveis e reversíveis para dedicados pesquisadores competentes para que reconhecer valores autênticos e ao nível deste professor, jornalista, crítico de arte e cientista pioneiro e expoente nestas áreas  no RIO GRANDE do SUL.
Fontes numéricas digitais

Dr. Jacybro GODOY (1886-1959) https://nuevomundo.revues.org/1556


Fábio de BARROS no MUSEU de MEDICINA de POTO ALEGRE
Fábio de BARROS e  a Música
Hetore  MALAGUTI

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