segunda-feira, 21 de novembro de 2016

192 – ESTUDOS de ARTE.


ARMINDA LOPES na busca do ESPLENDOR da VERDADE.

Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 01 –  Armindo LOPES expressa a sua busca da verdade na interação do corpo, mente e ecologia.  As suas obras ganham pleno sentido na sua intensa exposição à luz solar tropical.

Arminda Lopes demonstra as possibilidades de uma artista visual sul-rio-grandenses transcender as suas próprias circunstâncias por meio de sua obra de arte coerente com sua vida. Coerência sustentada por um pensamento que se materializa num projeto ético cultivado continuamente num árduo trabalho com a sua próprias mãos.

 Neste projeto Arminda não se nega olhar de frente a condição humana nas circunstancias brasileiras, trabalhar com as suas próprias mãos a partir da sua condição de gênero e no desafio de realizar a busca do esplendor da verdade na difícil arte da escultura.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 02 –  Na sua aprendizagem Armindo LOPES não se recusou se submeter aos exercícios mais exigentes e austeras para atingir da alegria da liberdade da criação  expressa a sua busca da verdade na interação do corpo, mente e ecologia.   A composição no quadrado de 30 x 30 cm é clássica na aprendizagem da modelagem e no domínio dos meios formais plásticos dispostos  sobre esta superfície que permite infinitas variações de relevos, sombras, luzes, ângulo, linhas e pontos de convergência e dispersão de  forças ordenadas por meio de um esquema mental .

Neste projeto Arminda  progrediu no processo ensino-aprendizagem a partir do modelo industrial. Modelo industrial no qual o estudante partia de um curso preliminar no qual aprendia todas as técnicas da arte. Progrediu neste caminho sob o olhar e o controle de mestres qualificados. Neste estágio ela praticou e experimentou estas técnicas já consagradas e aceitas no campo das artes visuais. Com este trabalho orientado a escultora atingiu a sua autonomia. Nesta autonomia ela está trabalhando na formação de outros mestres. Com o objetivo de estimular e transmitir as primeiras fases da formação  ela abre o seu atelier consolidado. Recebe especialmente para crianças e grupos que necessitam verificar a prática deste processo de ensino aprendizagem. Estes grupos, mesmo que não enveredem para a prática das artes visuais, serão apreciadores com experiência e contato com obras originais. Eventualmente serão pessoas qualificadas para adquirir ou aconselhar aquisições destas e outras obras originais.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 03 –  Nas duas composições com a figura humana Armindo LOPES vale-se de traços essenciais..  O desenho foi a forma de os escultores estabelecer a relação entre suas concepções com a materialidade dos materiais tridimensionais. Miguel Ângelo praticava  o desenho ou DESÍGNIO como a forma de DESIGNAR o que ele via na matéria bruta  e uma conexão com “il Dio in noi” no registro de Francisco de Holanda[1].

No meio de suas pesquisas não esqueceu a atualização de sua inteligência e a formação de uma visão crítica de sua obra. A melhor forma de realizar esta atualização e ter uma visão crítica é a constante socialização desta obra em exposições, recepção de visitas e a sua circulação nos meios de comunicação de massa ou orientados para especialistas e outros concorrentes ao campo das artes visuais. 


[1]   HOLANDA, Francisco.  Diálogos de Roma: da pintura antiga. Lisboa: Sá da Costa,        1955,  158p.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 04 –  Armindo LOPES desenha e esboça as suas obras e registra a contabilidade de sua produção plástica de uma forma estruturada..  Ao mesmo tempo no seu escritório mantém pesquisas estéticas, contabilidade e controla compromissos e contratos numa vasta rede de contatos regionais e internacionais.

Ela sabe que o autêntico artista transcende e consegue criar a partir de um projeto sustentado por um pensamento coerente com as suas próprias circunstâncias. As aparentes facilidades das suas pesquisas estéticas resultam  da atualização da sua inteligência. Quem observa atenta e longamente a obra de Arminda Lopes percebe um constante e gradativo exercício de escolhas coerentes. Escolhas que também significam perdas de caminhos fáceis, porém fugazes e de rápida entropia. Assim ela distingue perfeitamente a OBRA que permanece e aquela que é simples TRABALHO sujeito às leis da obsolescência programada para o consumo.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 05 –  A figura humana sob as mais variadas expressões ganha a sua primeira forma em numerosos desenhos.  A linha do seu mestre Vasco Prado[1] dedica um grande tempo e as melhores  energias para o exercício do desenho antes de se entrega à difícil, cara e demorada obra tridimensional. Como no caso de Vasco Pardo Arminda  produz, organiza e  e guarda esta produção.
O constante exercício do desenho, do traço e de expressão bidimensional a levam às suas conquistas tridimensionais do espaço. E vice-versa: o volume a matéria impõe rigorosos limites em linhas, em perfis e traços que alimentam e enriquecem aquilo que ela registra sobre o plano



[1] VASCO PRADO: A escultura em traço -Curadoria e organização editorial de Paulo Amaral – Porto Alegre: EST Edições 2015 108 p. Il.   ISBN 978-85-68569-10-8

Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 06 –  Além de ganhar as três dimensões as produções de Armindo LOPES possuem variadas silhuetas.  A escultura necessita que o seu observador se desloque ao redor destas obras tridimensionais para perceber uma série destas silhuetas  

A longa ascese estética - a que Arminda LOPES se submeteu por livre e espontânea vontade - está produzindo os seus frutos na forma de pesquisas estéticas que se concretizam em esculturas, modelagens e desenhos. Agora ela trata de socializar este saber. Socialização que ela realiza com segurança pois ela sabe que está principiando algo que ela domina e maneja em todo os sentidos e direções.
Em arte não cabem desculpas. Quem a pratica sabe que a escolha foi por livre e espontânea escolha. O máximo possível diante de uma dúvida ou eventual erro é recomeçar ou realizar tantas versões até ficar plenamente convencido do acerto da busca do esplendor da verdade na sua obra.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 07 –  Outras duas composições verticais no desenho de Armindo LOPES.  Estas composições ultrapassam qualquer tema, título ou representação de um determinado evento. Elas constituem o prazer da criação e do exercício da linguagem gráfica e base de obras tridimensionais.

Esta pesquisa estética ganha sentido pleno num momento de instabilidades, de mudanças no mundo social, político e econômico.  Quem a pratica a pesquisa estética demonstra que a sua escolha pela escultura foi livre e espontâneo. Numa eventual dúvida, ou erro, ela sabe por que, quando e onde recomeçar ou realizar tantas versões e experimentos até ficar plenamente convencido do acerto da sua busca. Como na pesquisa estética no mundo social, político e econômico é impensável qualquer improvisação precipitada e inconsequente com um projeto que se desenha claramente na mente dos seus agentes. No caso de dúvida ou erro sempre é possível o retorno à sua origem na medida do caminho seguido no projeto mentalmente seguro e sempre reversível em todos os pontos.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 08 –  A figura feminina refletindo diante do espelho pode ser metáfora da reflexão mental pela qual esta criatura busque se representar com os índices do seu corpo que colheu nas suas experiência no mundo externo a ela. Em obras desta natureza Armindo LOPES busca também o esplendor da verdade seja ela qual for.

Nestes momentos de crise - do modelo industrial do estados nacionais - a artista consciente sabe, como cidadã, que ela vai ter de suprir o projeto civilizatório compensador que o Estado deveria exercer. Porém este Estado Nacional  não sabe, não quer e não se sente em condições de cumprir este contrato que ele assumiu com o cidadão. Contrato pelo qual o cidadão delega esta violência ao seu Estado Nacional abdicando de praticar a justiça com as próprias mãos e meios.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 09 –  A  verdade da angústia, do suplicio quotidiano e das violências gratuitas q a que está sujeito o corpo humano e especialmente feminino ganha formas veementes e dramáticas nas esculturas de Armindo LOPES.  Numa instalação subterrânea criou uma instalação na qual os corpos humanos flutuam suspensos através de ganchos diante da morte e transfiguração colocada ao final deste conjunto flutuante.

 As obras de Arminda representam simbolicamente este abandono e desesperança de figura humana diante de um contrato não cumprido. É neste momento  em que a figura humana, e principalmente a feminina,  representa e projeta a angústia diante da barbárie crescente neste vazio de civilização.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 10 –  As máscaras humanas, modeladas em argila por Armindo LOPES, se aglomeram sobre um mural e são metáforas das multidões humanas de todos os tempos na busca do seu destino.  As faces humanas, no entanto, obedecem a quem as modela como as notas musicais de um compositor.

As práticas da violência vinda da barbárie, da corrupção e prepotência deflagram o grito da figura central da Guernica de Picasso. A obra de arte empresta os seus meios sensoriais para evidenciar a desesperança. A sensibilidade ferida toma forma na arte com o objetivo de denunciar e mover inteligência e a vontade individual e coletiva. No caso brasileiro e sul-rio-grandense a crescente barbárie sustenta novas, estranhas e corruptas pirâmides sociais, políticas e econômicas paralelas ao Estado nacional.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 11 –  O casal humano nas mãos e na mente de Armindo LOPES está diante do seu destino irremediável.  Esta obra atualiza mesma questão – “De ONDE VIEMOS?, o QUE SOMOS? E PARA ONDE VAMOS? ” do artista Paul GAUGUIN especialmente diante do prolongamento da existência humana .
 


Porém Arminda sabe que seus exercícios e obras físicas são práticas estéticas e não propaganda ou panfletos emocionais que exploram sentimentos humanos. Se na concepção da escultora existe espanto, desesperança e as suas mãos tremem ela não abdica da sua pesquisa plástica.  Na sua denúncia  as figuras tomam formas materiais para representar o espanto, a desesperança e as suas mãos tremem eles acidentes sobre projetadas no plano sobre-humano das civilizações. Civilizações que confiaram às artes representar, para os sentidos humanos, do que significavam de universal. Significativo que todos querem guardar do melhor e de significativo de todos de tempos e lugares.



Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016

Fig. 12 –  As três dimensões das  produções de Armindo LOPES possuem variadas silhuetas. Nesta imagem desta obra de grandes proporções esta mesma lógica ganha sentido e leituras na medida das luzes  e sombras.  Arminda LOPES expressa a sua busca da verdade na interação do corpo humano, luz e sombras.  Sombras e luzes que ela procura e provoca nas construções plásticas que as fazem vibrar de forma diferenciada a cada variação da luz natural ou artificial.
 


    Além de evidenciar a desesperança e  sensibilidade ferida Arminda LOPES busca também o esplendor da verdade naquilo que que todos querem guardar do melhor e de significativo de todos de tempos e lugares. Numa séries de obras de artes ela quis fazer emergir formas femininas em triunfo. A linguagem plástica - dos volumes jogados no espaço tridimensional - exalta e glorifica com o objetivo de mostrar o caminho possível. Não se trata de hedonismo, ou de um gozo visual inconsequente. Trata-se do contraste que torna mais profunda a dor e do outro lado esta mesma dor ganha um lenitivo e uma esperança nestas formas femininas em triunfo.

Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 13 –  A interação do corpo, da mente e do ambiente ao ar livre, luz solar e/ou artificial fazem desta obra de Armindo LOPES mais uma busca da verdade.  As suas obras ganham as dimensões do mundo da beleza nativa brasileira.

O alvo da artista é a busca do esplendor da verdade nesta dialética entre o desespero e a esperança. Esplendor que toma o corpo físico da figura humana para afirmar a verdade inegável da dor. Na direção oposta este corpo humano revela, os traços da saúde, da segurança nos seus gestos e atitudes.



Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 14 –  A descoberta e a epifania do  esplendor da verdade fazem desta obra de Armindo LOPES uma síntese e uma metáfora das orantes dos primórdios do cristianismo.  A vertical do corpo de pé e o arco horizontal dos braços a remetem ao mundo da transcendência sem se prender a nenhuma ideologia ou crença formal e canônica.


Com esta dialética e oscilação entre extremos as teses propostas por Arminda tem a sua antítese num polo oposto. A síntese sempre converge para busca do esplendor da verdade. Esplendor da verdade que impõe o cultivo do hábito da integridade intelectual, moral e estético.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 15 –  A luz da vela reforça a ambientação de transcendência e fazem das obras de Armindo LOPES o centro da humanização de qualquer ambiente  As autênticas obras de arte possuem este poder de transmitir o máximo no mínimo de sua forma.


Arminda Lopes já está muito longe e já percorreu os caminhos das tendências estéticas passageiras e passa por cima de tabus e contradições artificialmente colocados no seu caminho. A sua obra, o seu pensamento ou pessoa escapam, de outra parte,  de levar pelas costas um alfinete classificatório para serem exibidos num quadro teórico ao lado de outros exemplares raros de artistas visuais do Rio Grande do Sul.

A sua obra necessita que o observador refaça os caminhos percorridos até o presente pela artista, conheça fisicamente a sua obra e as suas circunstâncias. Pela capacidade que esta artista adquiriu - e demonstra no presente - é possível esperar muitas mudanças e rupturas intelectuais, estéticas e técnicas no percurso desta escultora na busca do ESPLENDOR da VERDADE.  


FONTES BIBLIOGRÁFICAS da PRESENTE POSTAGEM
HOLANDA, Francisco.  Diálogos de Roma: da pintura antiga. Lisboa: Sá da Costa,        1955,  158p.

PRESTES, Cézar. Arminda Lopes: miseráveis a estética da dor. Porto Alegre: MARGS- Nova Prova, 2007, s/p. il col  https://www.estantevirtual.com.br/dasraizesaosfrutos/Arminda-Lopes-Miseraveis-a-Estetica-da-Dor-192581733

VASCO PRADO: A escultura em traço -Curadoria e organização editorial de Paulo Amaral – Porto Alegre: EST Edições 2015 108 p. Il.   ISBN 978-85-68569-10-8

FONTES NEMÉRICAS DIGITAIS
Face book Arminda Lopes
ENTREVISTA TVE-RS
Este material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
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