sexta-feira, 13 de setembro de 2013

008 – EXPRESSÕES de AUTONOMIA na ARTE


¿ INOVAR por MEIO da TRADIÇÃO ALHEIA ?

BRASÍLIA -  Espanada dos Ministérios -   Natal de 2008 - Foto Círio SIMON
Fig.01 – O  Hemisfério Sul do planeta  é coagido - pela cultura hegemônica  Hemisfério Norte - a seguir as suas festas, eventos e signos. Certamente a heteronomia de uma cultura dependente não podia deixar de e exibir o absurdo do que as casinhas cobertas de neve no  mês de dezembro do Brasil tropical. Não conta a longa tradição dos presépios natalinos brasileiros. Na desoladora instalação, da foto, é impossível inovar por meio deste tipo de cultura alheia. Esta estapafúrdia instalação alheia desconsidera, atropela e desqualifica uma cultura, mesmo consolidada, sem deixar nada de aproveitável.   O resultado é um cenário desolador que não atrai sequer uma única presença humana.. 

REFLEXÕES relativas à ARMORY SHOW, de 1913, e a OPORTUNIDADE e PERMANÊNCIA da MEMÓRIA ALHEIA.

Constituem obras inglórias, senão ridículas, tentar romper com uma tradição que não se possui. E tão inglório como tentar instalar uma nova estética sem possuir mínimas garantias de seu êxito, de permanência e de sua reprodução. E tão trágico como a aniquilação promovida por um bando de vândalos. Constituem propostas de tolos que não possuem o  lastro de uma história pregressa, coerente e como identidade própria. Um autêntico projeto possui meios objetivos para a sua  implantação, seu cultivo e  a sua reprodução.

Fig.02 – Certamente é possível inovar por meio da cultura alheia. Isto é possível, e recomendável, em nações que possuem o contraponto próprio de uma cultura consolidada.  Estas culturas conseguem polarizar as contribuições alheias e as atenções coletivas sobre os signos eventos e festas que lhe são próprios. O grupo de artistas e jornalistas, da foto acima,  estava reunido para conhecer, registrar e divulgar a Armory Show em 1913. Este coletivo possuía um nítido conhecimento do acervo cultura de que eles e o se publico era portador. Coletivo da foto era formado por jornalistas culturais e  que reflete e constitui um índice dos seus leitores e instituições culturais.  Com este conhecimento foi possível selecionar o que fato era revolucionário da arte de Picasso e os seus colegas. Para os jornalistas conta a sua longa e sólida tradição do conhecimento das competências e limites de seus instrumentos de trabalho.  O resultado é um cenário de estímulo recíproco. Cenário da presença humana como mediadora da concorrência reciproca sob um objetivo superior comum, com fluxo renovado e das energias e das forças da arte e da civilização.

A frase de que “o que permanece  é  o pensamento” não é suficiente para um projeto coerente. Diante de um projeto de mudança esta frase pode ter duas leituras antagônicas. Se prevalecer, neste pseudo projeto de mudança, o conceito do conservador ele mantém as pessoas e os grupos na segurança da caverna primitiva. Se for extremo oposto  pode redundar na mudança pela mudança, o que constitui outra forma do jugo da Natureza entrópica. Este jogo ambíguo foi descrito, na década de 1960, pelo estudioso norte-americano, Alvin Toffler antes das suas observações da sua obra “A 3ª Onda”.  Como tal a mudança pela mudança também é outra forma de retorno  para a pré-história.

Porto Alegre – Camelódromo - fila de ônibus em 04.07.2012 - foto Círio SIMON
Fig.03 – Uma fila de passageiros de um ônibus urbano não possui maior vínculo do que o evento do transporte. Os integrantes da fila pouco se importam com um pensamento que ultrapasse este evento do qual  pontualmente fazem parte. Os seus olhares não se encontram, a atenção é para algo pragmático e passageiro. Estes passageiros não possuem, não cultivam e nem reproduzem nada além deste evento.  O resultado é um cenário desolador e não no qual a presença humana nada tira ou acrescenta. Certamente em ambientes destes a obra de  arte seria mera estetização formal e externa à algum sentido intrínseco.

Todo o patrimônio imaterial e material do passado pode ser transferido para um novo tempo e lugar. A mudança deste patrimônio imaterial e material do passado será consequente se for competente na somatória da sua atualidade e das novas circunstâncias. Soma-se a contradição do passado que se quer superar com o presente e, constituindo-se numa forte energia complementar para a sua reprodução num futuro indeterminado. Esta transformação da contradição em complementariedade e num todo orgânico foi proposto por Mário de Andrade[1] para a UNE, em 1942.
O direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência nacional [..] A novidade fundamental, imposta pelo movimento, foi a conjugação dessas três normas num todo orgânico da consciência coletiva”.
A memória está mais associada à “atualização da inteligência”. Porém este processo necessita se precedido pelo fazer do experimentar e do pesquisar. Sem esta carga empírica a “atualização da inteligência” corre sempre o risco de jogar pela janela a criança junto com água do banho. O entusiasmo pelos estudos intelectuais das tradições populares no Brasil, realizados após o fim da Segunda Guerra Mundial, o surgimento da UNO e da UNESCO, foram contemplados, sistematizados e publicados pelo jovem Luís Rodolfo da Paixão Vilhena, cuja vida foi ceifada precocemente por um acidente de trânsito, em 1994. Porém a sua obra intelectual não encontrou grandes ecos e fortuna da publicidade numa cultura ainda sujeita ao colonialismo e à escravidão voluntária. No máximo as suas narrativas foram vistas na categoria de outro modismo intelectual tradicional. Sob esta ótica contribuem apenas para manter o habitus do colonialismo cultural sofisticado e importado. Na prática provocam uma definitiva heteronomia da vontade cultivada na pedantearia e na concorrência acadêmica pela fama e por cargos.


[1] - ANDRADE, Mario O movimento modernista: Conferência lida no salão de Conferências da Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no dia 3 de abril de 1942. Rio de Janeiro :Casa do Estudante do Brasil, 1942,  p.45.
Esta conferência evocava os resultados culturais da Semana de Arte Moderna de 1922. Mario da Andrade havia sido umas das figuras centrais desta Semana. Ele se indispusera em 1938 com o Estado Novo. A conferência ocorria no auge desta ditadura que entrava em guerra com o Eixo.
Mário coloca a nacionalidade como primeiro principio os concluía com busca da construção de uma consciência coletiva.

DETROIT - Delegacia - The Observer-   domingo  02 de janeiro de 2011
Fig.04 – A ruina de uma delegacia de polícia de Detroit.  O acervo de fichas, de fotos e registro policiais é algo passageiro e incapaz de ultrapassar este projeto pragmático de vigilância e segurança. A hegemonia da era industrial permitiu cultivar uma insistência absurda e trabalhar no automático. Os promotores deste acúmulo estão longe, em outras terras e povos. Buscam aplicar a mais valia do capital onde podem repetir a fazer frutificar este mesmo absurdo. Passam ao largo do sentido inerente à  Armory Show, de 1913. Despojando-a inteiramente de sua carga civilizatória transformam-na em marketing e propaganda tão somente.  O resultado não podia ser diferente: Detriot abandonada á população empobrecida.  As novas colônias virtuais improvisadas e acríticas recebem apenas um produto com a marca da “generosidade” na busca de “escravos voluntários”.

A condição primordial para uma ruptura epistêmica, estítica ou cultural é possuir um pensamento próprio, uma tradição estética ou um hábito próprio com os quais se entra em desacordo e se busca mudanças. Seria absurdo romper com o alheio. O que acontece neste rompimento com o alheio é a singela troca de um tipo de heteronomia ou colonialismo por outro colonialismo ou servidão.

ARQUIVO da PREFEITURA de PORTO ALEGRE - CP 18.05.2013
Fig.05 –  O acúmulo da era industrial de processos padronizados em rígida ordem taylorista constitui um acervo documental incapaz  de ultrapassar o seu próprio projeto pragmático de vigilância oficial e de segurança. Pouco importan um pensamento que ultrapasse  este evento. Os olhares não se encontram, a atenção é para algo Estes registros não possuem não cultivam e nem reproduzem nada além deste evento .  O resultado é um cenário desolador e não nem sequer uma presença humana.

Estas reflexões podem orientar algumas observações relativas ao centenário da Armory Show norte-americana de 1913. Uma cultura behaviorista e que age na acumulação de bens certamente está alerta a qualquer  novidade que possa alterar esta acumulação. Se de um lado esta sociedade torna-se resistente de mudança no seu processo acumulação diante do êxito explícito, no lado oposto sabe que o cerne do seu processo patrimonialista é atravessado pelas forças da obsolescência programada introduzido pela era industrial.



DETROIT - Palco de Teatro - in The Observer – domingo-   02 de janeiro de 2011
Fig.06 – A insistência em desconhecer o sentido da Armory Show, de 1913, permitiu à hegemonia da era industrial. Era industrial baseada no capital fugaz, capaz de criar ambientes nos quais predomina a obsolescência programada e pontual e no qual celebraram eventos marcados para sua ruína. A plateia e o palco do teatro Detroit são índice desta ruína. Ambiente ao qual pouco importa um pensamento que ultrapasse esta obsolescência programada e pontual. Os olhares não mais se encontram, a atenção é para algo que possa virar peça de colecionador qualquer. Sem uma presença humana o resultado é um cenário desolador.

Estas tendências estéticas são pouco divulgadas, ou então divulgadas sob pautas e conceitos inadequados à sua natureza, ou, ainda divulgadas no meio de uma nuvem de preconceitos e desqualificações onde perdem todo o se sentido original. Mesmo que não aceita estas tendências estéticas lucra com ela ao fazer contraste, contraponto e o contraditório às suas estéticas preferenciais. Se não servem para outro propósito, podem constitui-se numa pausa e um ponto do qual é possível contemplar o panorama estético das artes entre 1920 e 1940.

OTAVIO CORRÊA e a utopia de um gesto político in http://www.ciriosimon.pro.br/pol/pol.html
Fig.08 – Na década de 1920 os movimentos populares de rua preconizavam a Revolução de 1930 e  continham os seus germens. O civil sul-rio-grandense Otávio Correa somou-se aos militares  no episódio dos “Dezoito de Forte” e pereceu fisicamente com eles momentos após esta sua penúltima foto. A memória deste seu gesto extremo permaneceu e sobreviveu na cultura nacional.

Contudo as narrativas que resultam da sua aproximação não podem omitir e nem ser um ponto de alienação da nova infraestrutura industrial e urbana que emerge neste período.

Fig.08 –  Preconizando, em 1925, um dos lemas da Revolução de 1930  o artista Helios SEELINGER (1878-1965) intitulou  esta obra de “Rio Grande de Pé pelo Brasil”. Plasmou, na parte superior, a Memória Farroupilha de um passado que se quer glorioso. Esta memória e glória foram adotadas por gerações de estrangeiros que acudiram ao Brasil e que reviveram esta memória e glória para seu tempo e lugar. Para tanto o artista carioca se inspira a parte inferior da tela nos movimentos populares da década de 1920 como os da rua como dos “Dezoito de Forte” até às dos salões, clubes e jornais.
A simples odisseia desta pintura gigante certamente diz do entusiasmo das horas de sua concepção, da sua execução e sua não colocação no lugar ao qual havia sido destinado. Passado este momento ela foi esquecida nos porões do Palácio Piratini. Depois sua descoberta por Fernando Corona e Cristina Balbão e que a destinaram ao Museu da cidade de Piratini, onde cumpriu um exilio da memória oficial e, em  2013, encontra-se em recuperação no “hospital” do MARGS
[Ver esboço desta obra em MADRUGADA. Porto Alegre; Revista (1926), Nº 5  junho de 1926]

A Armory Show pode ser considerada com um divisor de águas. A pintura seguiu ou se opôs radicalmente as tendências apontadas pela Armory Show de 1913. Para reagir ao corpo estranho, ela mergulhou as tintas nas realidades nacionais e regionais. Os pintores mexicanos José Clemente Orosco (1883-1944), David Alfaro Siqueiros (1896-1974) e Diego Rivera (1889-1975) exaltaram a história da sua gente e atraiam as atenções internacionais sobre a sua obra. A pintura norte-americana, ainda sem os holofotes internacionais, buscava os seus temas tipicamente regionais[1]. Assim a lírica de Edward Hopper (1892-1967) nos devolve sensações visuais puras do seu quotidiano. As pinturas exaltadas de Thomas Hart Benton (1889-1975) acompanham visualmente os sons country e mostram o sonho americano enraizado no regional. Grant Wood pintou o seu clássico “Gótico Americano”. em plena crise norte-americana.


[1]  - Este povo norte-americano ainda encabulado diante da cultura europeia, ainda é visível na obra de
TOFFLER Alvin, O povo e a cultura. Rio de Janeiro : Lidador 1965, 254


JORGE HERMANN - CONFLUÊNCIAS - uma crônica visual da REDENÇÂO – 2012
Fig.09 –  O artista plástico Jorge Hermann propôs-se a buscar as diversas CONFLUÊNCIAS do passado e do presente que se acumulam no espaço urbano do parque da Redenção ( Farroupilha) de Porto Alegre. Plasmou uma série de registros gráficos que perscrutam e materializam expressões desta Memória coletiva e as suas diversas manifestações materiais dos seus frequentadores. Num registro metafísico do seu próprio fazer  artístico surpreende um concorrente na mesma atividade do que ele. A presente imagem afirma que esta memória continua a se construir, modificar e projetar num futuro como aqueles  que querer os seus traços fisionômicos registrados por um artista gráfico de rua. Um procedimento que era proibido ao povo brasileiro ao longo dos 300 anos de Regime Colonial lusitano. Bem sabiam os instruídos colonizadores que uma simples imagem fisionômica específica de um sujeito do povo autóctone era um grande perigo  para a sua hegemonia absoluta e predatória.

O uruguaio Joaquin Torres Garcia (1874-1949) criou uma verdadeira escola em Montevidéu, por meio de a sua pintura. Cândido Portinari (1903-1962) está despontando no Brasil com as suas buscas nas temáticas nacionais O que estes artistas possuem em comum é o conhecimento e o convívio com as tendências estéticas europeias. Os pintores Ferdinando Leger (1881-1955) e André Lhotte  (1885-1955) ocupam lugar de destaque neste continente.

FONTES BIBLIOGRAFICAS
TOFFLER, Alvin – Questões básicas de sociologia cultural 2ª ed. Rio de Janeiro: Lidador 1967 , 255 pp
-------O povo e a cultura. Rio de Janeiro:  Lidador 1965, 254 p.

VILHENA, Luís Rodolfo da Paixão (1963-1994). Projeto e Missão: o movimento folclórico brasileiro 1947-1964.   Rio de Janeiro: Funarte 1997. 332p.

FONTES NUMERICAS DIGITAIS.
ACAMPAPAMENTO FARROUPILHA 2013

O APOGEU e o VAZIO de 2 IMPÉRIOS.

ARMORY SHOW

BIENAL de CURITIBA

9ª BIENAL do MERCOSUL

DEONTOLOGIA das COLEÇOES PÚBLICAS

INSTITUTO de ARTES e a DIVIDA de CIDADE de DETROIT
Vender VAN GOGH para salvar a cidade de DETROIT


MUSEU do GAUCHO em PORTO ALEGRE

NADA CRESCE na SOMBRA das GRANDES ARVORES
[ RIEN NE POUSSE À L’OMBRE DES GRANDS ARBRES]

VAN GOGH perde a  sua AURA

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