terça-feira, 30 de abril de 2013

062 – ISTO é ARTE.



ARTE está ACIMA e

ALÉM das 

INTRIGAS IDEOLÓGICAS e ESTÉTICAS.

Não se deve argumentar com todo mundo, nem praticar argumentação com o homem da rua, pois há gente com quem toda discussão tem por força que degenerar       
 Aristóteles –Tópicos – [Penúltimo aforismo][1].




GOEBELLS INAUGURA a EXPOSIÇÂO  ENTARTETE KUNST” no dia  19.07.1937 em Munich
Fig. 01 – O mestre da intriga Joseph Goebbels (1897-1945) manipulou a intriga política,  cultural estética com desastrados resultados práticos. Doutor em literatura alemão do século XIX pela Universidade de Heidelberg soube captar o clima reacionário e abrir o espaço ao Mein Kampf de Hitler que transformou em bíblia do regime nazista. Aqui inaugurando a exposição das Entarte Kunst –ARTE DEGENERADA - em Munich. Este mesma exposição circulou depois pelas principais cidades da Alemanha. A intriga funcionou pois esta agressão provocou uma reação igual e contrária e que marcou a arte de todo pós-guerra

A criatura humana necessita de palavras para dar forma ao seu próprio pensamento, encadeá-lo em discurso linear e unívoco, e assim, expressá-lo. Entre as palavras, portadoras deste pensamento, o emissor do discurso destaca aquelas de sentido mais forte. Estas privilegiadas na escolha ganham mais força e impacto na medida em que são contrastadas com outras que se deseja derrotar. Esta escolha é artificial e independente da realidade que elas descrevem. A desproporção, as intrigas e as omissões intencionais reforçam o contraste.

Fig. 02 – Os prosélitos populares que acorriam às exposições da “Entarte Kunst” inaugurada em Munich e que circulou, depois, pelas principais cidades da Alemanha. Joseph Goebbels com a sua tese sobre as aspirações românticas da classe média alemã entendia dos seus sonhos de felicidade, os mitos da sua cultura homogeneizada pela indústria cultural. Faltava apenas apontara ‘um culpado’ por isto não acontecia e alimentar a intriga com as palavras e discursos do seu chefe imediato.

As intrigas, de qualquer natureza, possuem a sua fonte nos interesses transfigurados em ideologias acompanhadas de estéticas com características de onipotência, onisciência, onipresença e eternas. Esse universo artificial, para ganhar mundo, joga-se contra é um outro universo diferente e que pertence a círculo de fora. As intrigas reforçam interesses pontuais escolhidos na realidade. Estes detalhes são transformados em algo verdadeiro, belo e justo contra algo externo que é desqualificado como falso, o feio e o injusto.
A fragilidade do pensamento e a falta de segurança nas suas próprias convicções internas fazem com que os intrigantes necessitem, externamente, de um cortejo de prosélitos imantados pelas intrigas e um aparato de eventos e de rituais que beiram ao ridículo.

Fig. 03 – Os violentos contrastes ente o tipo ariano germânico e a estética daquele apontado como  ‘o culpado de tudo’ algumas amostras sem sentido da e que impedia o sonho romântica do reino dos mil anos de hegemonia, da felicidade e comprometia a imagem externa da nação e as sus riquezas.
O exemplo clássico é a ideologia nazista que escolheu a raça ariana como seu paradigma. O não ariano era falso, feio e injusto. Até o presente esta ideologia possui seus efeitos revividos de intrigas ideológicas, estéticas e tecnológicas. 
O campo de marketing e propaganda municiam a sua fonte nos interesses transfigurados em ideologias acompanhadas de estéticas características. Esta propaganda necessita dos contrastes entre opostos. Opostos construídos a partir de detalhes da natureza transformados em verdadeiros, belos e justos. O consumismo e o pragmatismo acrescenta o componente de algo desejável pois o desejável é algo verdadeiro, belo e justo. Portanto vale o sacrifício de sua aquisição é transformação em propriedade simbólica ou física.


Fig. 04 – O período colonial brasileiro foi orientado e perpassado pela propaganda da fé que armou imensos cenários, aplastrantes cerimônias nas quais os cincos sentidos humanos eram encerrados e conduzidos para a corte celeste e com trânsito obrigatório e único pelo trono da metrópole.  Mestres da intriga antecipavam qualquer desvio deste caminho único e fatal. Desvios que eram prevenidos pelo “Tribunal da Consciência” e em casa de residência no desvio do caminho único era punido, em Portugal,  com a fogueira purificadora, a forca ou garrote vil na Espanha
Porém este ‘cliente’ jamais pode descobrir a verdade inteira. Assim o regime colonial manteve o Brasil inteiro subjugado pelo interesse da posse lusitana. Posse lusitana reforçada pela estética da Contrarreforma (Barroco) e pela instrumentalização do juízo e da fogueira da Inquisição.
A necessidade da esquematização entre extremos é característica das culturas em processo de transição como o helenismo grego, o maneirismo e a atual pós-modernidade.  Nestas culturas de transição a cena é dominada pelo ecletismo. Esta geleia geral do ecletismo constitui o refúgio de todas as covardias, nas palavras de Mário de Andrade. A escolha, a decisão e adoção de extremos maniqueístas são elogiados como virtude. Virtude na medida em oferece para a comunicação humana escolhas unívocas e lineares e encontra facilmente a quem se opor frontalmente. O cenário da intriga esta pronto a espera dos seus atores no papel de protagonistas e antagonistas.

Pano de Boca de Teatro na Coroação de Dom Pedro I desenhado por Jean Baptiste Debret
Fig. 05 – Os artistas, os técnicos e os teóricos da Missão Artística Francesa eram os artistas da corte de Napoleão Bonaparte. A Revolução Francesa despojara o Barroco do seu sentido místico ao qual contrapôs a Razão. A deusa Razão buscou ocupar os cinco sentidos cultivados pela Contrarreforma e os coloca ao serviço de Regime Imperial como havia praticado com Napoleão Bonaparte

A independência, a troca de regimes e as sucessivas rupturas das diversas revoluções permaneceram os interesses pelas intrigas, de qualquer natureza, transfigurados em ideologias acompanhadas de estéticas características. Há muito mais interesse nestas intrigas e posições do que uma larga visão da realidade. Esta pode chata, cheia de arrependimentos pelos caminhos tomados individual ou coletivamente e certamente onde se chega ao presente no qual o colonialismo e a escravidão estão mais presente do que nunca.

Fig. 06 – O anarquista luta pelo retorno absoluto para a ordem da Natureza onde reina a entropia implacável e o caos. Para instalar este caos uso a intriga entre a posse monetarista e os despossuídos da fortuna. O anarquista  despeja o seu mal estar da civilização sobre o Estado que ele percebe como “culpado de tudo” devido ao marketing e propaganda que valeu dele para estabelecer intrigas entre o micro e macro poder. Porém movimentos desta Natureza não prosperam pois os conflitos os joga este anarquista em perene contradição e que o condena ao jogo perpétuo de  intrigas internas logo após a sua conquista de alguma posição. A anarquia é uma ferramenta externe útil num primeiro momento, para subverter a ordem estabelecida. Porém logo ela será descartada, mais cedo ou mais tarde, devido ao seu perpétuo retorno para o domínio da Natureza implacável.

No lado social o contraste entre a arte alta e a baixa. Onde abastados e no ócio desqualificam necessitados e no perene trabalho
Ninguém propõe luta de classes, de interesses e antagonismos insolúveis. Em seu lugar a instalação de um hábito de integridade intelectual que sabe contemplar serenamente um passado nem sempre tão glorioso como alguns querem. Isto leva para a avaliação do presente com todas as potencialidades. Potencialidades coerentes com uma legítima soberania que sabe que deverá pagar o preço de suas escolhas.

Paris 01.05.1968. Reprodução do Le Monde  - maio de  2008
Fig. 07 – Quem possui a fala possui o poder. A mitificação da fala impõe um discurso uniforme e linear e para qual o jovem é considerado incompetente. A intriga é sustentada por uma gerontocracia que deseja impor a sua vez e a própria voz. Esta gerontocarcia impõe a norma "seja jovem e te cale"

A escolha pela intriga constitui o caminho do fechamento sobre si mesmo. O solipsismo estético gera a cápsula na qual o seu próprio autor perece e é olvidado como um câncer maligno.  Uma das características comuns destes intrigantes é a sensação que passam nos seus discursos é de que a História começou quando eles nasceram. Outra é facilidade que encontram de transformar em mito qualquer uma das suas “descobertas”. Aproveitam imediatamente para jogar a ‘sua’ descoberta contra tudo e todos que escapam a sua magnifica e única inteligência possível na ‘sua’ civilização e assim jogar combustível para perpetuar a intriga.
Este intriga perpetuada constrói e abre os fornos crematórios do Holocausto, arma e justificam o garrote vil, as fogueiras e a forças da inquisição e todos os horrores das Guerras Santas até desembocar no Vietnã, no Iraque ou no Afeganistão.

Fig. 08 – O imenso campo simbólico fornece para a criatura humana - e para o estudioso da arte – signos e índices  provenientes de todas as latitudes e de todos os tempos. Este criatura humana acumulou ao longo dos séculos (DIACRONIA) amostras e signos em cada etapa (SINCRONIA) e que acumula uma sobre a outra. Este acúmulo permite escolhas, fornece ferramentas e estimula o cultivo de mentalidades especificas e que afastam a necessidade da oposição e o maniqueísmo e da intriga gratuita.
Para ler o gráfico clique sobre gráfico
A intriga estética elevada como método em arte por Wölfflin mostrando slides em dois projetores de obras de arte com mesmo tem porém e épocas distintas. Esta contraposição foi praticada também por Worringer ao opor duas estéticas distintas e buscando o contrate entre os ambientes físicos distintos nos quais se desenvolveram como contraste entre arte praticada nos tropicais e nas regiões glaciais.
Porém o filósofo Wittgenstein, o psiquiatra Freud e Thomas Bernhard (1931-1989) perceberam na difusa cultura que se formou em Viena e mostraram que o problema das artes não se esgotava na contraposição maniqueísta de índices colhidos ao acaso e  arbitrariamente. Evidente que o pensamento explicito de Kant, de Schiller e Goethe a Filosofia Alemã construíram sistemas de pensamento sem necessitarem das intrigas ideológicas com outros sistemas alheios aos paradigmas que adotaram. De outro lado Habermas demonstrou - na sua obra ‘Interesse e Conhecimento’ - as raízes deste pensamento que necessita os contrastes eternos entre o bem e o mal, as luzes e as trevas e a vontade e poder. 
Em vez deste maniqueísmo de oposição de pares é possível considerar no mínimo três eixos na leitura de uma realidade cultural política, estética ou social construída a partir da inteligência, da vontade e do direito humano.

Fig. 09 – Numa visão cartesiana a cultura, as ideologias decorrentes e a própria arte, além da mentalidade social (SINCRONIA) e da mentalidade do seu Tempo (DIACRONIA) põem ser percebidos e analisados sob a ótica do se ambiente ecológico (LUGAR) è possível estabecer contraste ente eventos e obra particulares. Porém a visão do todo (ENTE) como a expressão da vida pela Arte (SER) não pode ser ignorado ou afastado deste todo. Esta alienação da obra e da ação humana destes três vetores é a ambiente que a intriga necessita para armar o seu jogo solerte.

Os mais renitentes onipotentes, oniscientes, onipresentes e eternos intrigantes sabem que do limite de suas forças, do seu conhecimento, de seu mundo e do seu tempo. Infelizmente descobrem tarde estes limites e as dimensões equivocadas das intrigas ideológicas e estéticas nas quais se meteram por ignorância, má vontade com o contraditório ou mesmo com o mau caráter de que são portadores. O seu modo de SER evidencia o seu ENTE limitado e intrigante.

GABRIELA SIMON BUMBEL - em 27.04.2013 - pintando e falando com a mãe ao telefone
Fig. 10 – Por mais frágil e incipiente que seja qualquer projeto humano representa uma vitória sobre o condicionamento de heranças da espécie e constitui a promessa de um mundo construído sobre a justiça, a beleza e vontade no qual a mesquinha intriga não possui lugar. Gabriela, do alto dos seus 33 meses,  ligada por telefone à mãe e, com a sua mão canhota, maneja os instrumentos básicos da pintura como a humanidade faz desde a mais remotas eras. Qualquer mitificação ou naturalização desta cena pode estragar tudo..

Nas vertentes da origem e das raízes das intrigas estão, de um lado, o MITO do GÊNIO e do outro a NATUREZA. Este reducionismo é necessário para o marketing e para propaganda reduzir o discurso é torná-lo linear e unívoco. Reducionismo que constrange a Arte a se comportar no campo da Comunicação e no âmbito de um marketing e propaganda primária e redutora da criatividade humana.
A liberdade de deliberar e de decidir - proveniente de qualquer projeto humano, por mais frágil incipiente que seja -  conduz esta criatura humana para além dos condicionamentos de qualquer maniqueísmo. Liberdade que a conduz para muito além e acima de intrigas que criaturas interesseiras, limitadas ou mal intencionadas em alimentar o colonialismo e a escravidão voluntária.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

BERNHARD, Thomas (1931-1989) – O Sobrinho de Wittgenstein – Tradução de José A. Palma Caetano . Rio de Janeiro : Assírio&Alvin, 2.000 -ISBN: 972-37-0603-2

GOETHE, Johann Wolfgang von.Teoria de los colores.Buenos Aires:1945. 466p.

HABERMAS, Jürgen. A Filosofia Hoje.  Trad. Sonia Ramos.  Rio de Janeiro: Salvat, 1979. 140p.           ______. Conhecimento e Interesse. Trad. José Heck.  Rio de Janeiro : Zahar, 1982. 367p.
KANT, Emmanuel (1742-1804). Crítica da razão prática. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d.  255p.
______. Crítica da Razão Pura.  Trad. J. Rodrigues de Moraes. Rio de Janeiro: Tecnoprint. S/d. 271p.
SCHILLER, Friedrich (1759-1805) Sobre a Educação Estética. São Paulo : Herder, 1963. 134 p

WITTGENSTEIN, Ludwig Joseph Johann (1889-1951). Tractatus lógico-philosophicus. São Paulo : EDUSP  - 1993.  281p.

WÖLFFLIN, Heinrich  (1864-1945)  Conceptos fundamentales  de la história del arte [3ª ed] Madrid: Espasa Calpe, 2007, 439 p. ISBN 978867023855
--------------Enciclopédia Universalis Madrid: Universalis, 1990, v.23,  p. 874 (verbete Wölfflin).
          
WORRINGER,  Wilhelm (1881 - 1965).  Abstraccion y naturaleza.  1.ed. 1908.  México :  Fondo de Cultura   Econômica, 1953. 137p.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
ANARQUISTAS em MUSEU de NOVA YORK

ARQUITETURA da DESTRUIÇÂO - vídeo

BIBLIOGRAFIA de livros digitais gratuitos sob a ótica da Propaganda e  Marketing

CENTRAIS IMPERIAIS

Os EXTREMOS não são CIÊNCIA e nem ARTE.

PODER ORIGINÁRIO

RESPEITO CONFUNDIDO COM MEDO

SOLIPSISMO

Thomas BERNHARD (1931-1989)

TRIUNFALISMO em ARTE


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terça-feira, 16 de abril de 2013

061 – ISTO é ARTE.



ARTE - MONUMENTOS – CIVILIZAÇÃO

- COLUNA VENDOME no CHÃO PARIS  em 17 de maio de 1871
Fig. 01 – A Coluna Vendôme derrubada pela Comuna de Paris em 1871. Cada novo regime, ao chegar e se instalar no poder, busca se apropriar do patrimônio público e destruir tudo aquilo que não é coerente com a sua nova ideologia que se deseja implantar, cultivar e reproduzir. Os novos regimes e inseguros de si mesmos sempre praticaram estra ação. As dinastias egípcias mandavam raspar a mensagens das anteriores e escrever os seus nomes para se afirmarem.

As grandes civilizações superiores preferem os monumentos visuais onde podem deixar registrado o estágio e o índice do seu desenvolvimento e os seus apogeus. Mesmo admitindo que o que permanece é o pensamento a maioria das civilizações prefere a  vista
 Não só para agir, mas até quando não nos propomos operar coisa alguma, por assim dizer, preferimos a vista aos demais sentidos. A razão é que ela é, de todos os sentidos, o que melhor nos faz conhecer as coisas e mais diferenças nos descobre”
                                                                     Aristóteles, 1973, p.211, .Metafísica L.I cap. 1.
Não se trata da figuração. As pirâmides do Egito ou o padrão infinito são visuais sem serem figurativos.

A imagem desce ao coração da matéria penetrando ali na realidade do mundo”.
como escreveu Goethe, (1945 : 11) [1] .
Chartier foi mais categórico: "com a imagem não se discute". (1998: 179)

No conjunto e resumindo: trata-se da culminância da civilização.


[1] - GOETHE,Johann Wolfgang von.Teoria de los colores.Buenos Aires:1945. 466p


MUNIZ Vik – Releitura da Medusa de Caravaggio     http://historiadaarte2009.blogspot.com.br/2009/11/medusa.html
Fig. 02 – As artérias das metrópoles contemporâneas transformam-se em verdadeiras serpentes da cabeça das Medusas urbanas. As suas vitimas preferidas são as vidas humanas. O novo regime colonial, que instalam,  não são só devoram os vestígios das civilizações anteriores, mas retiram e aniquilam qualquer sentido e tornam arcaicos e incômodos estes índices das gerações anteriores. Estas preferem a cremação aos antigos túmulos perpétuos.

 Porém a maior parte do tempo a humanidade viveu as idades médias, a época das trevas e agarrado ao dia a dia da sobrevivência. Pouco importava qualquer transcendência destes universos empírico do aqui e do agora. Nestas épocas usam-se os santos de pau ocos das Missões Jesuíticas para cochos dos animais. Ou o contrário estes mesmos santos são objetos de cobiça e transformados em patrimônio material de uma classe que se julga superior a estas crenças primitivas e coletivas.

ALVES, José Francisco.  A Escultura pública de Porto Alegre – história, contexto e significado. Porto Alegre: Artfolio, 2004, p. 172
Fig. 03 – A obra de Joice SCHLEINIGER da Praça Japão de Porto Alegre sofre o abandono e simples desmantelamento. Resultante de um belo projeto para humanizar os espaços públicos da metrópole com obras de jovens artistas denota os mesmos índices do colonialismo e da mentalidade de transformar o trabalho do artista em algo pontual e passível de ser esquecido no momento seguinte, como a maioria das obras públicas que povoaram posteriormente o Parque Marinha do Brasil.

Ainda em 2013 as máscaras dos Hopi[i] foram em leilão em Paris e transformados em objetos particulares de colecionadores.

Fig. 04 – A apropriação dos objetos simbólicos dos povos considerados inferiores e incompetentes pela lógica dos regimes coloniais encheram os museus de objetos que perdem o sentido tanto para o colonizador como pelo colonizado. Para o poder do regime colonial esta apropriação do mundo simbólico do colonizado era uma demonstração de sua superioridade econômica,  política, militar ou eclesiástica. Passado este regime estes objetos simbólicos perderam para o colonizador o sentido de seus múltiplos poderes. A tradição e os suportes nos objetos materiais de equilíbrio do mundo dos povos nativos o autorizam as mais desencontradas reações emocionais contra o seu opressor oportunista.

 Os museus dos países colonialistas estão recheados, fazem se restaurações para ganhar dinheiro e se apaga tudo o que a geração ou o partido anterior no poder.

Fig. 05 – A apropriação do espaço público segue a mesma lógica do regime colonial brasileiro. Esta apropriação colonial é possível na medida em que não interfere ou atrapalha o poder político, militar ou eclesiástico. Assim o brasileiro deixa evidentes índices do regime colonial e da mentalidade cuja designação de “colono” foi transferida impropriamente ao inocente imigrante.

- Adianta vigiar e punir estes neo-bárbaros?.

Se o objetivo for apenas vigiar e punir os pichadores sob a ótica e o pretexto do lucro com um hipotético turismo lucrativo, a resposta é: NÃO. A resposta é SIM se o objetivo é procurar as raízes do mal e as formas adequadas para curar a barbárie pela raiz e sem usar qualquer meio aversivo. O punir destemperado e carente de tempo e oportunidade produz os efeitos contrários conforme advertiu Sêneca (Consolo à Hélvia, p.3) que:
não se deve combater de frente a violência e no primeiro instante das dores da indignação,  porque só se consegue instigá-la ainda mais e, assim, aumentá-la. Assim como nas doenças nada mais pernicioso para a saúde do que um remédio prematuro”.

Fig. 06 – As agressões e desqualificações atingem indiscriminadamente tudo aquilo que evoca a escravidão e o regime colonial. A antiga IGREJA do ROSÁRIO de Porto Alegre,  erguida com o trabalho dos escravos e de sua busca para se adaptarem e fazerem as pazes com o Regime Colonial - que os explorava  e arrancava os derradeiras forças - foi insensivelmente posta abaixo e arrasada.  Esta demolição não só tentava apagar os últimos vestígios desta identidade e cultura - ao qual o Brasil e as suas instituições - mas até o presente não recebeu uma reparação condigna e à altura da civilização que se dizia superior e universal.

Nesta cura da barbárie o primeiro passo é conhecer o mal (inteligência). O segundo é admitir (vontade) este mal. O terceiro é a profilaxia em tempo adequado e proporcional à vontade e ao mal diagnosticado. Evidente que o remédio tardio e a procrastinação indefinida da correção são piores do que o remédio prematuro.

Fig. 07 – O monumento à Júlio da Castilhos, erguido entre 1908 e 1913, ao longo dos governo de Carlos Barbosa e de Cândido José de Godói, seus operoso secretário das Obras Publicas e da Fazenda marcou um período civilizatório ímpar na cultura sul-rio-grandense. Este projeto não compreendido e muito menos assimilado. Por isto foi imediatamente esquecido e os seus agentes destinados ao mito e ao olvido. No seu isolamento conceitual e estético foi entregue não só ao olvido, mas às agressões mais vulgares. A administração e as gerações seguintes foram incapazes e incompetentes para entender, ampliar e reproduzir algo como este projeto único. Não se faz aqui apologia da estética, nem da ideologia e muito menos da política partidária que deu forma e materializou este monumento,  mas ao projeto civilizatório compensador dos quais ele era o portador físico.

No conhecimento certamente repercute a frase “pouca saúde e muita saúva”. A duas piores pragas que se desenvolveram na cultura brasileira foram o Regime Colonial reforçado e alimentado pela escravidão. Regime Colonial que avilta a tudo e a todos transformando tudo em lucro e patrimônio material controlado por alguns em beneficio próprio. Escravidão na qual uma classe, que se julga superior e separada das demais, avilta a vontade da maioria. Maioria que lhe deve obediência e servidão e para isto transforma  o trabalho de todos em benefício próprio e exclusivo.  Apesar de oficialmente e declarados legalmente extintos eles continuam, na prática, a devastar o inconsciente coletivo de uma forma continuada e se reproduzindo nas formas mais evidentes até as mais subliminares.

Fig. 08 – A reação ao colonialismo e aos horrores da escravidão não podia ser mais eloquente do que a barbárie armada e letal desta imagem. Evidente que esta reação deste bando não produz mais do que barbárie. Porém a busca do poder pelo mais forte, armado e ágil não respeita a vida, os valores materiais ou simbólicos dos que aproveitaram ou ainda gozam algum usufruto do colonialismo ou escravidão.  Revivem a saga dos quilombos,  do cangaço ou do Contestado. Atualizam no território nacional brasileiro as insurgências populares latino-americanas contra o regime colonial e a escravidão. Diante desta mentalidade não há monumento, civilização e arte a ser pensada, implantada e reproduzida por tempo indeterminado.

Apesar de diagnosticado por todos existe uma resistência absurda em admiti-los, mesmo contra as mais evidentes provas.

 O pouco apreço pelo coletivo é uma das demonstrações do colonialismo e da escravidão. Este coletivo imposto pela lei pela lei, pela vigilância e desconfiança e pela violência e truculência de um pensamento tão primitivo como aquele que deve ser punido. Este que deve ser punido procura todas as brechas e ocasiões para depredar o que ele sabe que é do seu opressor. Com isto ganha notoriedade entre os do seu bando e os próprios donos de plantão do poder. Não sente nenhum contrato e nem remorso em agredir o que os agentes do poder constituído. Não representa o menor valor para ele.

Fig. 09 –  Índices corrompidos do que deveria ser civilização. Os enfoques exclusivos no processo material corrompe ecologicamente a paisagem e desvia as mentes de um projeto civilizatório, no mínimo compensador dos tributos que uma nova tecnologia exige para se humanizar e ser um autêntico instrumento de melhoria social, política e econômica.  O sorridente jovem, que foi capaz de matar seis motoristas de taxi certamente possui o mesmo esgar do bando da fig.08. Quando um grande número de civilizações usou as colinas para construir as suas acrópoles e os seus lugares sagrados a cultura atual as consagra e reserva para a tecnologia.

A preservação dos monumentos públicos, de outra parte, jamais pode ser prioridade diante dos mais frios assassinatos e atentados ao patrimônio de suas vitimas[i]. Porém estes atentados à vida humana, a depredação e a agressão ao patrimônio público e privado,  decorrem da servidão aos bens materiais.  Servidão que tira qualquer sanção moral dos atos destes delinquentes.

NAU dos INSENSENSATOS -  Nrenmberg - Alemanha  - Google Earth

http://www.flickr.com/photos/46614817@N04/5431808956

http://naofoinogrito.blogspot.com.br/2012/10/nao-foi-no-grito-056.html
Fig. 10 – Em todos os tempos e lugares da terra, a sedução pela propaganda e marketing fez as suas vítimas. A imprensa industrial esclareceu,  nas primeiras edições,  acentuou e condenou  as causas desta irracionalidade coletiva. A Nau dos Insensatos numa das primitivas edições ganhou forma visual e que foi retomado no teatro por Molière, por Delacroix na pintura ou, em monumentos como o de Nuremberg da imagem.

 Estes infratores agem presos aos grilhões de um regime colonial. As suas vontades próprias deixam de existir na medida em que são substituídas e subjugadas pelas condições sociais e matérias alheias e carentes de qualquer sanção moral. Condições sociais alheias implantadas, alimentadas e reproduzidas pelos conceitos subliminares da escravidão coletiva. Escravidão coletiva louvada e alimentada pelo marketing e pela propaganda exógena e traduzida apenas por bens materiais. Marketing e propaganda exógena contra a qual a cultura local é incapaz de desenvolver um meio de defesa eficaz ou um antídoto pontual.

Fig. 11 – As quatro estátuas quebradas do Chafariz da Praça da Matriz de Porto Alegre foram reinstaladas e cercadas em outra praça. A população lhes é indiferente, pois está carente de orientações e de informações em relação à sua história e o seu sentido. No máximo as percebe como índices ligados a um projeto de um poder central de um regime político cuja vigência está vencida.

Esta eficácia e antidoto à escravidão e ao colonialismo  torna-se visível nos índices de uma plena convicção e uma noção sadia de liberdade e competente para deliberar e de decidir. Índices nascidos da vontade humana que reina soberana e harmoniosa tanto sobre as condições inerentes à uma vida digna, como sobre os bens materiais e imateriais.  A arte, como ação humana, leva ao terreno da ética, pois Kant vinculou a vontade da ação humana com a moralidade e a autonomia, ao afirmar na Crítica da Razão Prática (Livro I, teorema IV), que “a vontade possui moralidade no limite da sua autonomia” , o que faz com que a ação  do artista busque a ampliação permanente do limite da sua autonomia.

Fig. 12 – Imagem de um dos monumentos da era industrial cuja vigência e sentido se perderam no tempo marcado e  guiado pelo relógio mecânico. Porto Alegre possui bairros inteiros sujeitos à entropia natural e cultural. As reciclagens destes prédios para outros fins e os museus tecnológicos demonstram a passagem da era marcada pelos bens simbólicos para aqueles que constituem os bens virtuais. Deste prédio só sobrou a imagem enquanto que ele foi demolido.

Uma cultura, ainda incapaz de elaborar um projeto, sustentar a sua autonomia e muito menos reproduzir um pacto social, não possui o direito a uma memória positiva e muito menos a uma civilização.

CATTELAN Maurizio “If a Tree Falls in the Forest and There is no One Around it, Does it Make a Sound  1998  Taxidermized donkey, television, bridles, cotton cloth, cord 150 x 154 x 46 cm

Fig. 13 – Na medida em que a imagem da televisão constitui uma realidade virtual o seu suporte tecnológico ainda é da era industrial. Esta por sua vez sobrecarrega o mundo da Natureza com o lixo que produz. O mundo da escravidão e do colonialismo cultural ra parece e cobra os seus tributos. Carente de um projeto civilizatório compensador, fundado no respeito e a coerência de cada uma destas etapas, o mundo virtual também possui a força de reconduzir para o exercido pelo mais forte e competente e imposto ao mais ignorante.

Na elaboração, na sustentação e na reprodução deste pacto social, não há espaço nem para a mentalidade mítica e muito menos admitir que ele seja um produto natural. Impõe-se um projeto coerente com o trabalho possível aqui e agora.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, José Francisco.  A Escultura pública de Porto Alegre – história, contexto e significado. Porto Alegre : Artfolio, 2004, 264 p. : il  ISBN 85-99012-01 -0 CDU: 730.067.36(816.51)



ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.



CERTEAU, Michel de.  A invenção do cotidiano.  Petrópolis : Vozes,  1998  2 v.



KANT, Emmanuel (1742-1804). Crítica da razão prática. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d.  255p



SÊNECA, Lúcio Anneo(4 aC– 65dC)Consolo à Hélvia, Brasília: Domínio Público, S/d, 47 p.




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