quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ISTO é ARTE - 013


A INFORMÁTICA, a MAIÊUTICA e a ARTE ou

a realidade, a retórica e a imaginação não possuem limites.

Imagem do jornal alemão SPIEGEL veiculada em 17.08.2011

Fig. 01 – O projeto do  ensino massivo parte do principio de que a informação intelectual é causa suficiente para aprendizagem e que ela provoca mudanças significativas nas condutas individuais, como consequência.  Em um único docente é suficiente para uma platéia que pode ser acumulada, sem limite de número, ao redor de um único professor, de recursos também acumulados e  disponibilizados  de uma forma impessoal e asséptica. Para o seu pleno êxito basta eliminar as subjetividades do estudante, do docente e do administrador.

A complexa realidade da civilização contemporânea impõe aproximar a INFORMATICA, a MAIÊUTICA e a ARTE. Ou, ao menos, buscar possíveis caminhos e pontes entre estes distintos campos de forças.

Fig. 02 – A  linha de montagem incipiente de Henry Ford (1863-1947) e que por meio da rigorosa aplicação das teorias de Frederick Taylor (1856-1915) levou este experimento aos limites possíveis . Este projeto pode aplicado ao  ensino massivo.  O estudante vem em caixas, ou séries, separadas por idade que desfilam, sem limite de número e sexo, diante de único docente, que lhes aplica  os conhecimentos  acumulados e dos quais é especialista em  disponibiliza-los  de uma forma impessoal e asséptica. Para o seu  êxito pedagógico, basta eliminar as subjetividades do estudante, do docente e do administrador.

A atual crise da Arte, como o da Educação, não se descola da crise da passagem da era industrial para a pós-modernidade. Superestrutura e infra-estrutura não são determinantes uma da outra nem contraditórias. As suas energias podem ser complementares. Esta complementaridade existe, se mantém, na medida em esta contradição encontra guarida em projetos humanos amplos e de  coerência interna suficiente para aguentar esta tensão entre contrários.  As energias da Natureza transformam tudo em pó. No pólo oposto os projetos humanos conhecem e respeitam estas energias das quais extraem as forças para mover a complexa realidade da civilização contemporânea.

Foto de Andrew MOORE - NYT 21.08.2011

Fig. 03 – A era industrial produz para a obsolescência enquanto ela mesma torna-se também obsoleta e produto descartável.  Imagem do século 21 de uma fábrica do século 20 em DETROIT. A informática e a robotização insistem na concepção do design de produtos  nos quais os robôs podem serem programados para produzir cada peça como única e personalizada. Com esta estratégia acelera-se a obsolescência e o descarte após um uso programado e irreversível de cada produto.


Tanto ARTE como EDUCAÇÃO são entes primitivos com o quais se trabalha sem defini-los de forma unívoca e linear. Se tentássemos isto já estaríamos de retorno às práticas das linhas de montagem unívocas e seriais da era industrial. Para entender um pouco, destas imensas e imponderáveis áreas, há necessidade de visitar os fundamentos e o chão sobre as quais a civilização contemporânea construiu as bases da sua educação.  Educação para a crise da passagem da era industrial para a pós-modernidade. Educação na qual as novas energias instauram novas práticas complementares e cumprem aquilo que as antigas prometiam, sem atingir o que prometiam. Educação na qual as instituições escolares são fundamentais, pois:

Mais vale ser um aluno medíocre numa escola excelente do que ser um aluno excelente numa escola medíocre                        

                                                       Agnés Van ZANTEN in


Fig. 04 –  Obsolescência e descarte da era industrial Imagem do século 21 de uma fábrica do século 20 em Montenegro – RS.

Práticas que nos obrigam a trocar o pneu do carro enquanto ele está rodando e tendo como passageiros a todos nós. A educação que recebemos, está em todos os nossos horizontes, neurônios e hábitos levando-nos ao passado. Assim a quase totalidade das tentativas desembocam numa endogenia que possui o demérito de só piorar qualquer projeto e comprometem qualquer solução prática. A ruptura epistêmica  é um desafio para o qual há necessidade de efetivo preparo, vontade especifica e um projeto especifico para tal. 

Fig. 05 – O pouso na Lua em 20 de julho de 1969 e Festival a de WOODSTOCK de 15 a 18 de agosto de 1969 aparentemente nada possuem e comum, a não ser a proximidade de datas e mesmo país promotor dos dois eventos. Ambos não produziram resultados imediatos.  No entanto o contexto espacial concretizou equipamentos únicos. O evento cultural rompeu um contexto dado e expressou possibilidades de convívio humano que derrubaram barreiras e abriu a mente para se apropriar das possibilidades técnicas que a corrida espacial colocava nas mentes e nas mãos de jovens inventivos

Projeto com base num direito de ultrapassar qualquer competência comprovada pela experiência. Inclusive de ocupantes de cargos gerenciais chaves da administração pública ou privada. Ao inovar e criar o olhar, a atenção e os projetos voltados ao futuro no qual gerenciamento reforça o passado. O aqui e o agora estão cego para os novos caminhos abertos pela pós-modernidade.  Steven Paul “Steven” Jobs (1955-2011) foi um entre muitos dos que encarnou este novo tempo e que se mantiveram longe e acima da linha de montagem da escola da era industrial.

Fig. 06 – Desde o dia 04 de outubro de 1957, com lançamento do Sputnik,  os diversos programas espaciais levaram  muito material e ambientes com vida útil muito mais breve e descartáveis,  do que aquele que era industrial produziu na face do Planeta Terra.


O respeito ao tempo é outro item apesar de toda pressa velocidade e urgências. Existe um tempo para a implementação de um projeto, por melhor que seja a sua concepção mental e teórica, e outro tempo para a implantação, que são completamente distintos. Gastaram-se fortunas e, que o TEMPO não respeitou, pois ele não foi respeitado. Em todo território nacional espalharam obras que se tornam imediatamente obsoletas. Implantadas, ao açoite de um tempo governamental fixo e sem o estágio do seu teste na sua implementação.

Imagem do jornal alemão SPIEGEL veiculada em 17.08.2011

Fig. 07 – O meio de transporte que a jovem eslava usa, em 2011, certamente lhe é muito mais útil e resolve, a longo prazo, os seus problemas práticos e imediatos do que os caros e sofisticados equipamentos espaciais já obsoletos e descartados..

Obras que queimaram a etapa da experimentação e do tempo da implementação. Obras implantações imediatas e definitivas, de cima para baixo e do centro para a periferia. Obras que produziram não sô desconforto, como resultado, mas a ruína destes esforços, capital e aversão a tudo e todos envoltos neste processo. Aversão que se traduz em negação de votos para os temerários do FAZER pelo FAZER para aparecer na mídia.

Fig. 08 – O treinamento para condutas arcaicas e superadas é coerente com um mundo arcaico e superado  Política, indústria eletrônica e cultural juntam-se em Brasília, ao comércio e ao poder econômico para acumular, num mesmo lugar serviços, capital e tecnologias


Agora o processo educacional necessita ser retomado pela raiz, pois existem os alunos e os estudantes assim como existem os professores e os educadores em novas circunstâncias.  Estes últimos conduzem o processo do E-DUCERE - ou "tirar de dentro para fora" ou o processo pedagógico que Sócrates propunha como a "maiêutica", pois a mãe dele era parteira. A inteligência é fecundada pela informação que ela recebe num processos coerente com a "maiêutica". De outro lado uma gestação - exitosa e desejada - só ocorre se a vontade e a sensibilidade estiverem envolvidas e comprometidas como um todo, e o tempo todo, com esta fecundação.

O estudante coerente também constitui e legitima o seu educador, apesar de toda a cultura escolar da era industrial afirmar o contrário. Este estudante consegue transformar este tabu em totem na medida em que tiver preparados os valores de cidadania, as ferramentas e os repertórios. Como condição da gestação desejada e exitosa o meio social, familiar e econômico, prepara e une a fecundação intelectual, moral e estética. Isto é possível na medida em que o poder flui entre iguais que não se reconhecem nem como patrão e nem como peão. Em especial quando a civilização exige uma flexibilidade e a rapidez mental que as novas tecnologias estão trazendo a partir da nova geração. Pessoas adultas dependem e estão aprendendo cada vez mais as competências e os limites que as ferramentas eletrônicas exigem dos seus usuários.

Imagem do jornal alemão SPIEGEL veiculada em 17.08.2011
Fig. 09 – O campo e a energia limpa exigem a mudanças tecnológicas e mentais

Aquele que se coloca o projeto de ser um EDUCADOR PROFISSIONAL necessita da competência e adotar sólidas convicções, na sua liberdade e autodeterminação. Antes de se perguntar COMO EDUCAR, ele necessita responder as questões primordiais e orientados pelas perguntas A QUEM EDUCAR, para o QUE e para QUEM EDUCA. Estas respostas são necessárias para ele realizar contratos claros com seus estudantes. Sem estas respostas ele educa para a heteronomia das vontades, alheios aos sentimentos mais profundos e pessoais e sem esperança de atingir qualquer direito legítimo e autônomo.

Imagem do jornal francês Le MONDE veiculada em 15.10.2011
Fig. 10 – A dura realidade da era industrial da linha de montagem custa para ser desmontada. Com todos os avanços tecnológicos e conceituais “a única novidade numa sala de aula é a lâmpada elétrica” A mesma cena de um solitário professor entre fileiras de alunos ao estilo da escola medieval  Nesta condições torna-se impossível o estudante constituir o seu educador.

A autonomia na educação sempre gerou estudantes, que antes de mais, sabiam achar o caminho e a direção do saber. A mediação escolar da era industrial insistiu no acúmulo de conhecimento e, que na prática, pouco o ajudavam vida afora, a não ser galgar degraus de escada no topo da qual nada encontravam,  além de um diploma. A pós-modernidade coloca as condições da aprendizagem. O educando, identificado e personalizado novamente, recebe o convite e as condições do caminho junto com as chaves e os códigos do se acesso ao imenso conhecimento acumulado pelas gerações anteriores. Faz o caminho fora do rebanho e da massa enquanto cultiva as suas próprias energias distintas e únicas.

Fig. 11 – A  ARTE reflete contrastes em Obre de de WILLINGER Frank- 1959 State Britain - 2006

Este último caminho é bem mais desafiador, rico e trabalhoso, tanto para EDUCADOR como para o ESTUDANTE, do que o acumulo do conhecimento pronto e universal e treinamento da memória vigente na era industrial.

A pós-modernidade não se resume em caprichos, em intrigas e em ironias. Não lhe são estranhas a segurança, a lógica e a beleza.

Das considerações acima é possível concluir de que a INFORMÁTICA, a MAIÊUTICA e a ARTE - ou  a realidade, a retórica e a imaginação - não possuem limites conhecidos. Elas são três irmãs gêmeas. Uma mais fecunda e bela do que a outra. Vivem em perpétuos ciúmes e desentendimentos entre elas. Contudo quando se encontram e convivem, elas constituem a glória. Nesta sua glória reinventam juntas e constroem um mundo mais seguro, lógico e belo do que o atual.

FONTES
POUSO na LUA em 20.07.1969

WOODSTOCK 15-18.08.1969
Imagem do jornal alemão SPIEGEL veiculada em 17.08.2011
Fig. 12 – Mesmo que, se a abdução de ARTUR BERLET em Sarandi- RS  em 14 de maio de 1958, tenha sido apenas uma experiência mental, a sua conduta pessoal e os seus relatos posteriores revelam que as potencialidades das sinapses neurais humanas estão muito além de qualquer código humano  pode traduzir e daquilo que o equipamento mais sofisticado é capaz de gerar, administrar e reorganizar permanentemente ao longo de um século de funcionamento ininterrupto. Independente de sua existência física esta descrição continua a descrições da fabulosa Atlântida ou do Eldorados dos aventureiros


ARTUR BERLET DIZENDO-SE ABDUSIDO em SARANDI – RS em 14 de maio de 1958

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ISTO é ARTE 012

INTERAÇÃO ENTRE CIÊNCIA e ARTE no
JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE – RS .

Fig 01 – JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE. Portal na Av Salvado Franca nº 1427 -  integrada na III Perimetral de Porto Alegre

O objetivo desta postagem é privilegiar o visual do Jardim Botânico de Porto Alegre reforça-lo com alguns textos e fontes. Para mostrar a vida e suas formas possíveis nesta instituição, escolhe-se algumas imagens colhidas no dia de 16 de outubro de 2011 na primavera meridional. Os textos percorrem alguns referencias da ecologia, da econômica, da cultura e da política que se materializam nesta instituição urbana de criação humana.
No entanto as imagens e textos não são suficientes para explorar esta instituição.  O tempo, o conhecimento, a vontade e a sensibilidade individual são determinantes e primordiais para um contato físico para realizar uma experiência produtiva, profunda, ampla e pessoal desta instituição.
 As imagens e as palavras que seguem apenas pretendem preparar esta experiência física e indicar um necessário mergulho nas fontes conceituais da Ciência que se materializaram nestes 81 hectares do solo de Porto Alegre.

Fig 02 – A avenida de acesso ao Jardim e a o Museu de Ciências Naturais. O portal de entrada imita o ritmo visual e plástico desta avenida.

O mergulho sensorial pleno na realidade física, cultural e da vida fornece muito mais saber do que toda a ficção e a imaginação humana. Este saber é, além disto, mais direto, sólido e fértil para a existência e a cultura humana. Pois a ficção e imaginação são partes mínimas de todo o processo das realidades físicas, culturais e da vida como um todo.
Sem a renovação continuada desta dialética entre a experiência sensorial e a reflexão conceitual as palavras e as imagens da “Ecologia”, do “Meio Ambiente” e do “Verde” passam ao mundo de um repertório gasto e corroído. Qualquer mediação é inócua, se não prejudicial ou contraproducente em longo prazo, se este mergulho sensorial na realidade não acontecer, for mal feito ou frustrado.
                         A cápsula cultural, gerada pela vida urbana, necessita periodicamente desta interação entre a experiência sensorial e a reflexão conceitual.  Cápsula que se protege e se multiplica no âmbito de uma membrana ao modelo da célula viva.  Membrana competente para interagir com o seu meio ambiente. Neste meio seleciona o que lhe é favorável, elimina e se defendendo do que lhe é indiferente ou nocivo.

Fig 03 – Esta paisagem do  JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE lembra as composições européias.

Na escolha humana de um ponto a observar, reconstruir e preservar não há como prosperar qualquer onipotência, onisciência, onipresença e eternidade. A visita a um jardim botânico pode ser um lembrete deste ponto de vista.
Uma visita atenta ao Jardim Botânico de Porto Alegre é uma oportunidade de abertura para interação da cápsula cultural com a Natureza mediada e poderá mostrar a todos este caminho do saber integrado e integral. Supõe uma bagagem de conhecimentos básicos, vontade determinada e sensibilidade preparada por meio de um tempo adequado para esta interação acontecer e atingir êxito. Com este contato sensorial diferente a cada idade, cultura e hora do dia, o que é conhecido que se renovará. Renovação consequente na medida em que esta visita for conduzida com a mente e o coração abertos para mudanças efetivas e continuadas.

Fig 04 - A paisagem interna no setor de coníferas e palmeiras do JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE.

Na presente postagem não se deseja ingressar no rico e variado campo das forças da Ciência em seu setor da Botânica da qual este autor não possui formação. No âmbito da Arte ele busca afastar qualquer esteticismo fixo, batido e único.
Para quem realizar esta experiência estética repete-se com Diderot “vá ver e julgue por você mesmo se isto é Arte”. Na Botânica remete-se aos profissionais qualificados, suas fontes e laboratórios.

Fig. 05 – A depressão do terreno do JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE ostenta um mato nativo da floresta Atlântica ainda jovem, levando adiante uma franca recuperação da paisagem original. Neste texto e imagens não é possível registrar os ruídos dos pássaros, batráquios e insetos que estão retornando ao seu hábitat.

 No caso o convite é observar por todos os sentidos humanos e refletir no âmbito e mergulhado no âmbito do mundo da Botânica.  Este recorte de um dos seus “jardins” possui o seu papel no qual a Instituição mesma, qual sábia mestra propicia as condições de experimento e aprendizagem. O seu Ente também está no seu Ser.
O utilitarismo do cultivo de plantas úteis e esteticamente agradáveis aos sentidos humanos, devem ser procurados em outros lugares.
O Jardim Botânico de Porto Alegre se inscreve na linha do pensamento e da mentalidade da harmonia, da coerência entre espécies num determinado ambiente. Esta instituição não construiu a sua base do seu poder sobre especulações de utilidade transitórias ou meras estéticas de moda que comandam valores que lhe são estranhos.  Quem é determinante nesta instituição é a autêntica Ciência e a Arte ao tentarem interpretar a Vida e os seus suportes no Planeta.

Fig 06 – A ponte e o lago do JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE na altura da III Perimetral

A Ecologia teve a sua fase heróica. Este Jardim Botânico de Porto Alegre representa um pálido índice da luta para consolidar alguns pontos desta conquista. Luta pela Natureza que é múltipla como a Arte.
Esta luta buscou aliados e experiências para marcar desde as suas origens a sua coerência na política pública. Aliados e experiências como aquelas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Este, por sua vez, filia-se a um fluxo de uma corrente de pensamento enciclopedista das instituições e das ações de cientistas do Iluminismo e dos saberes do século XIX.
Um Jardim Botânico é uma amostra e um índice material de viagens e de descobertas propiciados pelos os novos meios de comunicação de pesquisas integradas e de investimentos de trabalho e de capital. Meios de comunicação e pesquisas que consolidaram saberes esparsos que deram tempo à Botânica. Saberes que resultaram do debruçar-se, estudar e descrever estas formas de vida e as suas circunstâncias em todo o Planeta.

Fig. 07 – O casal de cisnes negros do lago superior, próximo ao Museu de Ciências Naturais.

O Jardim Botânico de Porto Alegre constitui uma enciclopédia a céu aberto e com os seres vivos. Ele se integra na vasta enciclopédia formada por zoológicos, museus de raridades e curiosidades.
Na sua construção física e nas escolhas formais predominou a mentalidade e a cultura mais próxima possível da Natureza. Assim o Jardim Botânico de Porto Alegre contornou o modelo cultural do jardim francês de régua e do compasso e coercitiva com a vegetação sujeitas a ditames racionais. O seu caminho escolhido também foi diferente dos requintes dos jardins japoneses e das suas buscas invasivas e controles humanos excessivos sobre as plantas. A Mata Atlântida não iria obedecer certamente, por muito tempo, aos caprichos de um grande bonsai a céu aberto e sem dispor recursos a fundo perdidos e sem profissionais longamente treinados. O paradigma do jardim inglês, de uma cultura e clima frio do paralelo 50º, dificilmente podem ser transpostos para o paralelo 30º.
O seu projeto e execução e se inspira nas suaves elevações e dobras dos terrenos da coxilha da massa granítica de Porto Alegre. A vegetação hospeda é comandada pela flora local e aquela dos banhados que ali se formam. Esta vegetação é adensada. Neste adensamento evitou-se gerar ciúmes e hostilidades que as plantas maltratadas e mal acompanhadas podem gerar entre si mesmas. As competições que lhes tirem a luz do dia, acompanhadas por sufocamentos recíprocos no seu desenvolvimento. São espécies em plena vida.

Fig. 08 – Composição de vegetais entre fragmentos do granito da colina sobre a qual de assenta este JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE .

O ESTADO do RIO GRANDE do SUL se expressa no Jardim Botânico de Porto Alegre e ali materializa um ponto visível da sua política ambiental. Na criação desta instituição os seus idealizadores agiram muito antes dos movimentos sociais, políticos e econômicos que se tornam depois moda. O seu pensamento foi orientado pelo que pudessem materializar, preservar e mostrar o possível neste mundo ambiental. Agiram como pioneiros naquilo que, depois, se vulgarizou sob as denominações de “meio ambiente”, “ecológicos” ou de “verdes”. A instituição Jardim Botânico de Porto Alegre integra-se e é uma expressão maior de uma política coerente que se derrama pelos parques, reservas naturais e ecossistemas preservados e a serem preservados.  Este projeto e instituição contrapõem-se a uma política imediatista do usufruto até o esgotamento. Imediatismo e usufruto que transforma a Natureza num meio hostil, não só para a espécie humana, mas da longa cadeia vital que, se rompida num elo,  compromete a sua permanência na face deste planeta.

Fig 09 – Outra composição de vegetais entre fragmentos do granito da colina sobre a qual de assenta este JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE . São as espécies que todos conhecem. Contudo a coerência da sua organização faz com ganhem destaque sem concorrência e saturação de elementos.

O município de Porto Alegre tem tudo a ganhar com a existência do Jardim Botânico. O poder público de Porto Alegre dita a política, administra e conserve uma vasta rede de parques, avenidas e ecossistemas que necessitam, não só de um laboratório a céu aberto, mas da formação qualificada e continuada de um quadro de cientistas e técnicos. Estão ali o extraordinário parque do Delta, os ecossistemas do seus morros, as dobras naturais do terreno e a administração da água natural que ali flui. Mais adiante estão os parques Saint Hilaire e Itapuã.
A sua política mantém uma rede de parques urbanos como o Marinha do Brasil, o Parque de Redenção além das vias arborizadas.
A própria localização física da implantação do Jardim Botânico de Porto Alegre foi um acerto da escolha urbano. O entorno abriga instituições não só de prestígio, mas de pesquisa como da PUC-RS e a ESEF da UFRGS. O acesso popular - sem grandes gastos técnicos e pecuniário - foi facilitado, sobremaneira, com a 3ª Perimetral de Porto Alegre que passa em frente ao seu portal de acesso principal.

Fig 10 – O lagarto é uma das espécies animais que está reencontrando o seu antigo hábitat JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE. Aqui está se livrando da camada de pele do inverno  anterior com os primeiros raios de sol da primavera.

Pode-se comparar um JARDIM BOTÂNICO como uma IMAGEM da NATUREZA. Constitui uma imagem criada e articulada pela criatura humana a partir do se conhecimento de época e lugar.
Como a imagem – das presentes ilustrações - é algo que já não existe mais, captada que foi num determinado momento. Da mesma forma o que passou para o âmbito e foi incorporado à esta instituição, nunca existiu ou já não existe mais na Natureza.  Assim há necessidade de distinguir o Jardim Botânico da Natureza. Ela existe não só para prevenir ou remediar as intervenções humanas na Natureza nem sempre felizes e consequentes. Esta instituição obedece e se rege, além disto, por diversas razões e leis próprias.
Assim também vale para o Jardim Botânico a observação do artista Pablo Picasso para Brigite Bardot de que se a modelo quisesse ver a Natureza que olhasse pela janela.
De outra parte o observador do Jardim Botânico necessita descobrir o fio do pensamento humano que o criou, mantém e o reproduz no tempo.

Fig 11 – O ciclo da vida da folhas mortas do JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE recobre a camada do solo antes nu e exposto aos raios solares diretos. Este processo propicia bases da reprodução de espécies vivas e que formam, por sua vez, a cadeia vital para surgimento e desenvolvimento de outras formas vivas na medida em que são sabiamente conduzidos.

Uma imagem está sempre no lugar daquilo que não existe mais. Ela representa uma saudade e, como fragmento, constitui uma reserva para o futuro daquilo que ela já foi no passado.
A experiência de uma visita ao Jardim Botânico, ganha o seu sentido pleno e interesse neste ambiente reconstruído como uma imagem gerada pelo pensamento humano. Esta visita a esta instituição artificial humana não substitui e não impede outras experiências diretas com a Natureza.

Fig 12 –As bromélias  do JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE estão hospedadas ao redor de um banhado natural e que mantém um riquíssimo ecossistema próprio

Nesta reconstrução humana da Natureza é significativo comparar este Jardim Botânico com a postagem PRAÇA PROVÍNCIA de SHIGA JAPÃO em PORTO ALEGRE, publicada neste blog no do dia 19 de agosto de 2011
É flagrante como na PRAÇA PROVÍNCIA de SHIGA em PORTO ALEGRE transparece a cultura do JAPÃO muito mais contida, detalhista do que a cultura ocidental e a brasileira em particular.
Nesta comparação entre a cultura nipônica, ocidental e brasileira não é possível ignorar a vasta obra do arquiteto e urbanista Burle Marx na valorização das formas, cores e disposição da vegetação tropical. No entanto a Praça da Província de Shiga como os jardins de praças de Burle Marx dão um passo a mais e diferente do rumo do Jardim Botânico que se preocupa com o conforto dos vegetais. Esta instituição não insiste tanto no seu viés estético e complementar da Arquitetura e do Urbanismo. Neste aspecto o Jardim Botânico torna-se um imenso repertório de cores e formas a serem conhecido nas suas cores e formas a serem adequadas em outros ambientes onde o vegetal é um complemento. No Jardim Botânico este mesmo vegetal é o fim em si mesmo.

Fig 13 – Outra bromélia do JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE Ao fundo da imagem a vegetação do banhado.

O Jardim Botânico de Porto Alegre busca a autonomia de sua existência e não é possível colocá-lo na heteronomia do mundo utilitarista imediato. Quando toda a cultura tende a se mover na direção marketing, comércio e interesses imediatos a mediação entre a Ciência e o publico tornam-se problemáticos.  Este público torna-se insensível, cego e surdo diante de algo que não é mediado e decodificado para a sua linguagem. Esta insensibilidade ocorre na medida em que se aproxima desta instituição e não encontra a forma de mediação à qual ele está habituado e não corresponde ao seu repertório. A barreira já inicia pelos nomes das poucas plantas que conhece apenas e tão somente pelos seus nomes populares.

Fig 14 – A típica “beleza perigosa” das flores que atraem insetos que são presas das aranhas camuflada atrás as folhas de uma árvore do  JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE.

O administrador público desta instituição, apesar destas barreiras culturais, não pode estabelecer o seu fim e se esgotar nesta decodificação e mediação.  A Ciência, como em toda a Arte, possui o seu limite que não pode ultrapassar.
 A arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre-passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário” Nittzsche  2000, p.134
 Tanto a Arte como a Ciência, se por acaso ultrapassar este limite, tornam-se outra realidade estranha à sua lógica interna.

Fig 15 – A florada no JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE

O Jardim Botânico de Porto Alegre também pode ser visto e avaliado como um projeto civilizatório compensador da violência que o Estado está compelido a exercer. No contrato entre o cidadão e o Estado este fica encarregado de exercer a violência física que o cidadão renuncia a exercer com os seus próprios meios. Levado às últimas consequência, este contrato geraria o Estado carrasco e o Leviatã a que todos devem temer, senão odiar. O Estado, para mostrar que existem outros caminhos e induzir a condutas positivas os integrantes do seu Poder Originário, propicia condições à práticas positivas, socialmente aceitas e que conduzem à civilização.
Um Jardim Botânico é uma das instituições que não só possui o papel de propaganda estatal dos jardins suspensos da Babilônia, mas induz os seus cidadãos a comportamentos que todos podem aprovar, usufruir sem risco e nobilitantes na sua essência.

Fig 16 – A floração primaveril de um dos cipós no JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE

 O marketing, a propaganda e o comércio seguem interesses imediatos e caminhos alheios ao Jardim Botânico de Porto Alegre como instituição programada para tempo indeterminado. No seu mundo de concorrência, de resultados imediatos e produtos programados para a obsolescência. Estas empresas e corporações agem no mundo do TRABALHO enquanto uma instituição visa a OBRA.  
O Jardim Botânico de Porto Alegre é uma instituição que age para gerar OBRAS que permaneçam por tempo indeterminado. Quando mais tempo permanecem, mais valor e significado estas obras adquirem. A OBRA é típica da ARTE e da permanência no tempo.
 As duas realidades não são excludentes. Trata-se de transformar em complementaridades esta contradição entre a obsolescência programada e a permanência no tempo.
O Estado contemporâneo também foi constituído para esta mediação entre a obsolescência natural e a permanência.
 Uma das características do que é permanente e da sua ação continuada, é agir sem estardalhaço, entropia e ruído. A autêntica Arte e  Ciência agem sem estardalhaço, entropia e ruído.
Assim o silêncio encontrado no Jardim Botânico é um índice da autêntica Ciência e da Arte das quais é uma das expressões físicas e sensoriais.

Fig 17 – JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE jerivá em flor, forma -  contra o fundo azul - as cores da bandeira nacional. Por vários motivos voltou a ser o vegetal preferido para as vias públicas urbanas.

A figura do catalão Ramon de PEÑAFORT MALAGARRIGA y HERAS 1904-1990- (Ir. TEODORE LUIS FSC) é um dos articuladores do fio da história do pensamento que deu forma física ao Jardim Botânico de Porto Alegre. Este cientista foi motivado pela concepção de uma instituição que ele denominou de “Geobiológico” e a manteve como uma espécie de ONG antes do tempo. Desta instituição física e conceitual ele passou ao espaço publico na criação do Horto Florestal de Pelotas, atualmente integrado no âmbito federal por meio da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Para a materialização do Jardim Botânico de Porto Alegre contou com a ajuda administrativa, técnica  e financeira estadual e municipal.

Fig 18 – PRIMÓRDIOS do HORTO FLORESTAL da UFPel de PELOTAS - RS  o Irmão Teodoro Luis.segue o velho lema monástico do “ORA ET LABORA”, que pode ser traduzido para a REFLEXÃO e EXPERIÊNCIA FÍSICA . Esta máxima produziu no mundo Botânica, além de toda a base da agricultura medieval européia, conduziu as experiências de êxito de Gregor Johan Mendel (1822-1884)  No Rio Grande do Sul conduziu e orientou o saber botânico de Balduino Rambo SJ (1905-1961) e o Ir, Teodoro, o criador do Instituto Geobiológico de Canoas



Este sábio catalão desceu do mundo das relações ideais entre as camadas geológicas da Terra e o surgimento e manutenção da vida nas suas mais variadas formas procurou materializar este interação num espaço físico mínimo mas necessário como é o Jardim Botânico de Porto Alegre.
As suas descobertas botânicas não o deixaram indiferente aos benefícios e as descobertas intuitivas do povo que passou a comprovara em laboratório e experimentos científicos. O Rio Grande do Sul possui uma antiga indústria fitoterápica e cujas origens se perdem na Pré-História humana desta região. Ele passou a colaborara e orientar também estes laboratórios na sua fase artesanal.
Contudo deverão serem pesquisados e documentados em outro âmbito.

Fig 19 – A floração de uma das 7 variedades da popular “pata de vaca” no JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE. Planta nativa da Mata Atlântica tradicional remédio e que está conquistando cada vez mais espaço na urbanização tanta pela sua florada em diversas cores e pelo porte apropriado às diversas redes de fios das vias públicas. Os cientistas a classificam no . Reino: Plantae – Divisão: Magnoliophyta. Classe: Magnoliopsida. -  Ordem: Fabales – Família: Fabaceae – Subfamília: Cesalpinioideae  - Género: Bauhinia. - Espécie: B. forticata - http://pt.wikipedia.org/wiki/Pata-de-vaca

- Ao tratar deste tema estamos tratando de ARTE?
Na sua essência trata-se da CIÊNCIA BOTÂNICA. Contudo a CIÊNCIA supõe pensamento, criatividade e projetos humanos. Como tais bebem da mesma VIDA humana. Na medida em que a autêntica Arte é gratuita. 
Para uma resposta mais ampla: “se um Jardim Botânico é Arte  haveria necessidade de um retorno no âmbito  histórico ao mundo de Leonardo da Vinci. Esta criatura humana sabia, antes de mais nada, como artista que “um quadro é uma coisa mental”.  e alguém profundamente interessado nas condições ambientais e um experimentador continuada desta circunstâncias. Como a Natureza em si mesma não é Arte. Uma floresta - ou qualquer outra formação viva ou geológica - não constitui Arte por si mesma.
A passagem da Natureza para a esfera estética acontece na medida em que esta transferência se produz, se conserva e socializa por meio de um pensamento.
Acredita-se que o Jardim Botânico de Porto Alegre foi produzido, se reproduz e se socializa como tal por meio da mediação deste pensamento que atravessa toda a sua existência. Pensamente que na forma de um ente primitivo jamais é unívoco e linear. No entanto possui a orientação, a fecundidade e as forças da sua própria recriação permanente como instituição.

Fig 20 – JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE palmeira originária do Madagascar [Os cientistas botânicos classificam esta planta no Reino: vegetal. Divisão Magnoliophyta. Classe: Liliopsida. Ordem: Arecales. Família: Arecaceae. Gênero : Bismarckia]..
O Jardim Botânico de Porto Alegre é uma autêntica e legítima INSTITUIÇÃO. Como tal não concorre com nenhum outro congênere. Todas as comparações são sempre odiosas. Como Instituição também não concorre a prêmios, recompensas e nem faz  propaganda ou marketing de si. Certamente faz publicidade na medida em que pertence e integra o serviço público. Como tal é obrigado a prestar contas ao poder originário. Este o subsidia pelos impostos que em contrapartida paga uma pequena taxa para as necessidades imediatas de sua manutenção. Publicidade que realiza em congresso de seus profissionais e técnicos administrativos a ele vinculados. Publicidade na medida em que também é um laboratório de estudos. Neles os estudantes e acadêmicos dos diversos graus de ensino formal realizam pesquisas e estágios para as Ciências correlatas com a Botânica. Publicidade especialmente na medida em que abre silenciosa, pontual e diariamente das 8h00 até as 18h00 para toda a população que o procura pelas suas qualidades e valores intrínsecos.
Como instituição é possível afirmar que o Jardim Botânico de Porto Alegre está cumprindo o que prometeu desde a sua criação. Na passagem deste tempo uma legião de profissionais o mantém com os sacrifícios pessoais, conhecimentos e abnegação diante das suas limitações orçamentárias. Os seus maiores prêmios são a sua existência e o seu funcionamento ininterrupto.

NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900)  Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179

Fig 21 – Ramon de PEÑAFORT MALAGARRIGA y HERAS (1904-1990) Ir. TEODORE LUIS FSC um dos idealizadores do JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE, do HORTO FLORESTAL da UFPel e criador do INSTITUTO GEOBIOLÓGICO da CANOAS


Ramon de PEÑAFORT MALAGARRIGA y HERAS 1904-1990- Ir. TEODORE LUIS
INSTITUTO GEOBIOLÒGICO
HORTO FLORESTAL de PELOTAS da UFPEL
 livros

Fig 22 – Placa de novembro de 1974 na ocasião da inauguração das intervenções arquitetônicas e urbanistas para o acesso e para a administração JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE e MUSEU de CIÊNCIAS NATURAIS.


Jorge HERMANN

Fig 23 – O artista plástico Jorge Hermann usa o ambiente do JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE para as suas aulas de Desenho e Observação da Paisagem. Formado pelo Instituto de Artes que manteve sempre na sua grade curricular a cadeira de Pintura e Desenho de Paisagem. Assim a ARTE e a CIÊNCIA possuem  no JARDIM BOTÂNICO um lugar de encontro. Também ocorrem Concertos da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) neste ambiente da Natureza.


Fig 24 – JARDIM BOTÂNICO de PORTO ALEGRE portal na Av Salvado Franca nº 1427 -  integrada na III Perimetral de Porto Alegre
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Jardim Botânico – PAO/RS.

Museu de Ciências Naturais – PAO/RS.

Secretaria do Meio Ambiente

JARDIM BOTÂNICO do RIO de JANEIRO – história
 
Balduino Rambo SJ (1905-1961)

Gregor Johan Mendel 1822-1884)

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