terça-feira, 7 de junho de 2011

ISTO NÃO É ARTE - 20

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

TIPO não é ARTE.

A busca do “tipo” manifesta-se nas mais diversas épocas e latitudes, tomando corpo na política, cultura e comunicação humana com intensas repercussões no campo das forças da Arte

O nazismo tentou, na sua política, colocar em pauta a questão do “tipo” com as mais amplas projeções culturais. Não só errou, mas fez muito mal. Na busca do marketing e propaganda de sua ideologia, fez algo irreparável para as mentes fracas, gerou males de proporções dantescas para o seu próprio povo e espalhou sementes que germinam até os dias atuais e nos mais variados contextos e culturas de toda a humanidade. Por estas razões há imenso cuidado para entender e manusear corretamente esta semente do “tipo”, que produziu tantos enganos, males irreparáveis e não confundi-la com Arte, a priori.

Para os líderes nazistas a Arte do seu tempo era “degenerada”. Estas manifestações não cabiam nos pequenos e unificados repertórios destes criminosos. A Arte do seu tempo deveria ser, para eles, reduzida aos elementos estéticos mínimos possíveis, e, melhor ainda, se ela fosse direcionada para uma leitura linear e unívoca. O seu líder máximo criou uma frase de múltiplas leituras, bem ao seu feitio e reducionista ao máximo. Reduziu afirmando que “ser alemão é ser claro”,(Chipp, 1968, p.478) dando a entender que a Arte alemã também deveria ser clara.


http://digmybook.com/preview/0520014502/Theories-of-modern-art-a-source-book-by-artists-and-critics p. 478

Fig. 01 – Trecho do discurso de Hitler onde exalta o “tipo” germânico.

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Nos processos de comunicação e de recepção, como queria esta ideologia, a busca do “tipo” é sedutora. O sonho de toda a tirania, que se julga constituir a solução total e final, é uma busca intensa do “tipo”, com a finalidade de sedução, de propaganda e de marketing desta solução total e final. Contudo, esta sedução pelo “tipo”, necessita simplificar, esterilizar e matar as atividades de criação, de manutenção e de reprodução de uma identidade viva e polimorfa.


http://digmybook.com/preview/0520014502/Theories-of-modern-art-a-source-book-by-artists-and-critics p. 475

Fig. 02 – Goebbels e Hitler visitam a exposição da “arte degenerada” em 1937.

Para atingir o seu objetivo o repertório, desta atividade, não pode ultrapassar a idade mental de 12 anos para ter êxito na sua implementação. Se a propaganda e o marketing quiserem ser efetivos e causar o efeito desejado, é possível admitir no máximo de 10% de novo e de original para um repertório comum e coletivo. O restante - os 90% da mensagem - necessita ser redundante ou repetição do já visto e conhecido. Na História, a busca da narrativa, a ser veiculada para o maior número possível de receptores, recorre ao “tipo” de uma mensagem palatável, legível e única. Diante do império do “tipo” a verdade sofre as maiores injúrias e são possíveis a admitidas todas as concessões ao lugar comum. A tirania da totalidade subliminares dos processos de comunicação, comandadas pelo “tipo” de uma mensagem palatável, legível e única, reduz-se aos 2.000 vocábulos dominados na idade mental humana média de 12 anos.


Fig. 03 – Arno BREKER (1900-1991) o intérprete da política nazista da busca do tipo formal da sua estética– “Prometeu” – bronze - 1934

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.museumsyndicate.com/images/4/32744.jpg&imgrefurl=http://www.museumsyndicate.com/

Não há como deixar de reconhecer os êxitos espantosos que os fascistas e os nazistas tiveram na implementação das estratégias do reducionismo ao “tipo” legível e unívoco. No entanto não é possível ficar surdo, cego e mudo diante dos males que causaram. O espantoso é que, além de ainda estarem na ordem do dia de tantas outras doutrinas, os reducionismos do “tipo” legível e unívoco continuam a comandar as esferas da política, da cultura e da comunicação humana. Há necessidade também de espanto e de preocupação diante das forças do campo da Arte que continuam a serem magnetizadas pelo reducionismo do “tipo” legível e unívoco. Espanto e preocupação justificáveis após a experiência e o conhecimento das consequências que a Arte já passou, devido ao reducionismo do “tipo” legível e unívoco.


http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Guerra

Fig. 04 – Júlio GUERRA (1912-2001) Borba Gato” - Escultura e mosaico - São Paulo- SP - A busca do Tipo Bandeirante.

No mundo da Arte não é possível falar em “estilo” diante dos movimentos estéticos desta natureza redutora. O máximo que é possível conceder aos movimentos curtos e de intensa incidência, é atribuir-lhes a categoria de “tipologias estéticas”, coerentes com o “tipo” que buscam na sua efemeridade.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Caringi

Fig. 05 – Antônio CARINGI (1905-1981) aluno de Arno Breker – “Bombeador” –bronze – Pelotas – A busca do “tipo” Gaúcho.

No mundo da sociedade a busca e a criação de um EU COLETIVO artificial é proveniente de vários fatores. Estes fatores tomam corpo em “tipologias estéticas unívocas e lineares”. Seria ótimo, se esta busca fosse interrompida quando esta operação tivesse êxito. No entanto o processo possui um fim, uma estratégia e um lucro. Este EU COLETIVO artificial possui por finalidade. Esta finalidade é a sua inoculação, como um novo gene, nos dispersos e variados “EU’s” INDIVIDUAIS para a geração de uma História única, administrável e uma unidade linear e legível deste EU COLETIVO artificial

Numa cultura como a brasileira, que se manteve periférica até o presente, o “tipo” do EU COLETIVO artificial visa o consumo intensivo e padronizado. A sua força é comandada pelo marketing, pelo arquétipo e pela propaganda. Com este objetivo gera-se e mantém-se o EU COLETIVO artificial do “bandeirante” - no lugar do indivíduo paulista que procede de todos os recantos do país. Gera–se o EU COLETIVO artificial do “gaúcho” que nada possui em comum com o sul-rio-grandense de carne e osso. Todos aqueles que não enquadram ou não se deixam enquadra na História única e fixa deste “tipo” do EU COLETIVO artificial são excluídos, inferiorizados e desqualificados pela tirania e pela prepotência deste processo. Muitas vezes a busca do “pertencimento” a este “tipo” do EU COLETIVO artificial, força os híbridos e abortos os mais horrorosos possíveis.

No mundo da Ciência os trabalhos de Franz Joseph GAAL (1758—1828) e Cesare LOMBROSO (1853-1903), criaram e defenderam a FRENOLOGIA como suporte científico da necessidade deste reducionismo ao “tipo” do EU COLETIVO. A justiça, a política e a polícia acharam que a FRENOLOGIA seria um suporte valioso para os seus juízos, seus projetos e para as suas conclusões periciais. Contudo, atualmente, não possui mais a relevância que teve no passado.


http://ciscobh.blogspot.com/

Fig. 06 – Lombroso Fisionomias de revolucionários e políticos criminosos pela PAIXÃO

A construção de uma narrativa de uma História populista qualquer, busca apoio na estrutura destas certezas infantis, unívocas e lineares. Esta narrativa é coagida, de um lado, pelo reducionismo do “tipo” legível e unívoco homeostase múltipla, provoca certezas infantis daqueles que se julgam oniscientes, onipotentes, universais e eternos. No lado oposto o reducionismo do “tipo” legível e unívoco, sofre de ataques constantes e incontornáveis que partem das incertezas senis daqueles que pensam e agem alertados pela entropia permanente que qualquer construção humana ou natural. A autêntica narrativa histórica confessa as suas dúvidas e limites, realiza contratos continuados, abertos e públicos entre o emissor e receptor destas narrativas. Neste processo e trabalho dialético busca transformar em complementares as contradições e os antagonismos destas duas formas em conflito.

Fig. 07 – Jean Fouquet Julgamento do Duque de Alençon c.1459 Diante da entropia e das incertezas e causadas pela Guerra dos 100 anos a sociedade hierarquiza fortemente, cercando-se de estruturas sólidas, legíveis e unívocas e escolhe “tipos” que façam frente à entropia e as possíveis incertezas.

Na cultura, com raízes brasileiras, é inconcebível que intelectuais e políticos estejam ruminando múmias que já foram embalsamadas pela modernidade européia e norte-americana. Contudo o vírus do “tipo brasileiro”, do “branqueamento” da raça e de uma identidade nacional única como uma narrativa única da História nacional é mais profunda e não passa longe das vertentes fascistas e nazista. Não é por acaso que o grupo de Lampeão foi eliminado fisicamente no Estado Novo, em 29.07.1938, já como os regimes nacionalistas totalitários em plena vigência na Europa. As cabeças exposta de Lampião na Faculdade de Medina de Salvador até 06.02.1969, eram também aviso do perigo de um tipo” de raça “inferior” e “degenerada”. Se havia uma raça superior hegemônica, também havia necessidade de supor a existência de uma raça inferior em plena heteronomia cultural, política e econômica.


http://criminologiafla.wordpress.com/2007/08/20/aula-2-o-crime-segundo-lombroso-texto-complementar/

Fig. 08 – Cabeças de Lampião e grupo expostas na Faculdade de Medicina de Salvador da Bahia de 29 de julho de 1938 até 06 de fevereiro de 1969

O nacionalismo das certezas infantis do século XX é tão condenável como as senis incertezas planetárias da poluída e imponderável atmosfera do século XXI. Como não é mais possível retornar à proporção da criatura humana como medida de todas as coisas também não é possível aceitar a desproporção do rebanho humano gerado pelas percepções da tecnologia comandada pelos instrumentos numéricos digitais.


http://www.germinaliteratura.com.br/literaturagf1_julho2006.htm

Fig. 09 – “O Carapuceiro” xilo capa do jornal de GAMA, Lopes (1791-1852) – O carapuceiro: crônicas de costumes 1832-1842)– organização de Evaldo Cabral de Melo – São Paulo: Companhia de Letras 1996, 446 p. ISBN 85-7164-539-6

http://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_Carapuceiro

A cultura brasileira, não tendo outra arma, a não ser o deboche e a irreverência, já atribuiu aos cães os nomes dos títulos nobres imperiais.

A Literatura de Cordel continua a fazer estragos na onipotência dos “tipos” que se querem “acima do raio de trovão”. Um exemplo é xilogravura (fig.09) que acompanhava o jornal “O Carapuceiro” que circulou no Recife entre 1832 e 1842.

No século XXI as certezas infantis, construídas sobre “tipos” forjados, continuam tão condenáveis como os dos nazistas, devido ao que escondem, racionalizam e ao seu potencial de produzir males irreparáveis, em especial em Arte.

FRENOLOGIA

Franz Joseph GAAL ( 1758—1828)

http://www.cerebromente.org.br/n01/frenolog/frengall_port.htm

Cesare LOMBROSO (1835-1903) e a tipologia humana

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cesare_Lombroso

http://criminologiafla.wordpress.com/2007/08/20/aula-2-o-crime-segundo-lombroso-texto-complementar/

A RTE - DEGENERADA

http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1963&secao=265

http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_degenerada

http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=328

CHIPP, Herschel .Browing – Theories of Modern Art: a source book by artist ad crtics. University of Calirnia Press : Berkeley California 1968 – 673 p. ISBN 0-520-01450-2

http://www.abebooks.co.uk/servlet/BookDetailsPL?bi=4633212494&searchurl=isbn%3D9780520014503%26ltrec%3Dt

Em português

CHIPP, Herschel Browning Teorias da arte moderna. 4ª.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002

http://digmybook.com/preview/0520014502/Theories-of-modern-art-a-source-book-by-artists-and-critics

http://digmybook.com/preview/0520014502/Theories-of-modern-art-a-source-book-by-artists-and-critics

p. 478

Arno BREKER

http://en.wikipedia.org/wiki/Arno_Breker

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.museumsyndicate.com/images/4/32744.jpg&imgrefurl=http://www.museumsyndicate.com/item.php%3Fitem%3D32744&usg=__1FFKGgefpxxTEV076ckp59wWVo0=&h=653&w=372&sz=65&hl=pt-BR&start=40&sig2=JebEzsP46NhnRlKeRbSMdA&zoom=1&tbnid=AVsY4HAm8cCZXM:&tbnh=135&tbnw=76&ei=QanrTazECoXAgQfW9PHYCQ&prev=/search%3Fq%3Darno%2Bbreker%26hl%3Dpt-BR%26biw%3D1440%26bih%3D756%26gbv%3D2%26tbm%3Disch&itbs=1&iact=hc&vpx=124&vpy=433&dur=51&hovh=185&hovw=105&tx=80&ty=114&page=2&ndsp=39&ved=1t:429,r:19,s:40&biw=1440&bih=756

CARAPUCEIRO

GAMA, Lopes (1791-1852) – O carapuceiro: crônicas de costumes 1832-1842)– organização de Evaldo Cabral de Melo – São Paulo: Companhia de Letras 1996, 446 p. ISBN 85-7164-539-6

http://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_Carapuceiro

http://www.germinaliteratura.com.br/literaturagf1_julho2006.htm

LAMPIÃO

http://pt.wikipedia.org/wiki/Virgulino_Ferreira_da_Silva


Foto do NYT

Fig. 10 – Iluminação cênica recurso do teatro para destacar “tipos”

Um comentário:

  1. Ainda em 1918,(com 14 anos antes de Hitler!), os comunistas soviéticos mandaram a "arte moderna" para o inferno! E os panacas falam de Hitler!

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