segunda-feira, 16 de maio de 2011

ISTO NÃO É ARTE - 15

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

Os EXTREMOS não são CIÊNCIA e nem ARTE.

Querer o bem com demais força e de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar .

GUIMARÃES ROSA, João. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro : José Olympio, 1963, p. 18..

Não se nega a existência dos extremos e dos limites. Eles existem e são um dos territórios preferenciais da Ciência e da Arte. Contudo é difícil a sua sustentação continuada durante longos períodos. A sua sustentação torna-se problemática, em especial, quando trazem mais prejuízos, para a humanidade, do que ela investiu nestes extremos. Os abandonos de cidades e de civilizações pujantes, com projetos temerários, que não deram certo, cobrem todas as épocas, continentes e culturas. A sua sustentação continuada tornou-se impossível, consumindo energias inexistentes e por tocarem extremos onde são jogadas no oposto do seu projeto de origem. Tornam-se caricaturas e pastiches de momentos únicos no seu desenvolvimento em outro momento histórico e social que busca a sua sustentação extemporânea. Apesar dos extremos serem instantes memoráveis para a humanidade, contudo eles não se repetem. Se alguém tentar replicá-los cairá no ridículo, pois a História não se repete, a não ser na forma de farsa.


Fig. 01 – Mohenjo Daro “Cidade dos Mortos” abandonada subidamente em c. 1.700 a.C. e redescoberta em 1925 no atual Paquistão

A narrativa da História Contemporânea das Artes foi escrita e divulgada por seus extremos. Nestas narrativas escritas ou visuais são paradigmas os extremos da Luz e das Trevas, da Ordem e do Caos, da Emoção e da Razão, do Trabalho e do Ócio, do Belo e do Feio, da Verdade e da pura Especulação, da Realidade e da Ficção, da Justiça e da Iniquidade, da Moral e do Amoral... ou, ao menos, são temperos de muitas obras de arte. Há muito de verdade nestes paradigmas destes extremos, na medida em que se percebe que a circulação do sangue comporta-se entre os extremos da sístole e a diástole. A natureza física comportar-se entre a ação e a reação, sem que nada se perca entre estes extremos. Contudo não é possível congelar um destes instantes, pois a fixação, num destes extremos, é sempre mortal.


Fig. 02 – Torre de Babel

O impulso é necessário, e indispensável, para sair da rotina e da entropia natural. Contudo, este impulso torna-se, no momento seguinte, um projétil perigoso e, as vezes, mortal, sem um projeto continuado do aproveitamento desta energia de origem.

Buscam-se, a seguir, descrever comportamentos entre extremos, tanto na Ciência como na Arte e caracterizar as suas conseqüências para ambas.


Fig. 03 – Chichen Itzá Templo do Guerreiros – de cidade abandonada pela cultura maia

Tanto na Ciência como na Arte, temos cientistas, como artistas, encabulados ou ao contrário, pensando e agindo como temerários. Tanto o cientista como o artista podem cultivar sentimentos que os tornam envergonhados de si mesmos, das suas convicções e cheios de bloqueios conceituais e formais. Contudo ambos possuem o mesmo destino do cientista ou artista temerário que queima o campo artístico e põe a correr todos os seus observadores diante de sua onipotência, onisciência, onipresença e com projeções de eternidade que cultivam em relação a si mesmos, à sua Ciência e à sua Arte. Ambos aniquilam a sua efetiva capacidade criativa e de produzir algo para deixar como significativo quando desaparecem, além de simples ruínas sem sentido e utilidade.


Fig. 04 – Machu Pichu – Cidade abandonada pela cultura Inca e redescoberta em 1911

A economia investiu muito dinheiro, criou instituições caras, enquanto empresas e governos criaram programas espetaculares, centrados em atividades de formação de atitudes de seus gerentes de tecnologia como na cultura, que visa elevar a criatividade e cirentistas e artistas. No entanto a epistemologia conduziu estudos para entender o caminho lógico para estruturar e desenvolver o conhecimento da criatividade tanto do cientista como do artista. Na tentativa de explicar e entender os mistérios das suas descobertas, de suas criações e das circunstâncias nas quais elas ocorreram, contudo há pouca inteligibilidade e consistência na recapitulação da vida e dos processos que seguiram os grandes cientistas e artistas.


Fig. 05 – Ruina de um teatro Romano - na atual Libia

Tanto os filósofos como os hitoriadores de arte deram-se conta que muitas das suas prórias teorias.e narrativas não passavam de racionalizações de suas crenças e hipóteses, tranformados em mitos, para justificar seus próprios desejos subliminares às metodologias das quais se estavam valendo (Antiseri, 1996,pp 20-36). A reconstrução histórica, das descobertas e criações, está repleta desses mitos ilusórios e difusos. Mirko Drazen Grmek(1924-2000) enumerou alguns tipos de racionalizações que são usadas muitas vezes como abordagens epistemológicas para explicar a criatividade na Ciência e na Arte.


Fig. 06 – Filipino Lippi (1457-1503) – “S. Felipe exorcisa no templo de Hirápolis” c. 1487-1502

Ele constatou em muitos casos os filósofos e os hitoriadores de arte que eles estão fascinados pela novidade do produto ou da obra de arte e negligenciam o estudo do longo e penoso processo, cheio de dúvidas e tropeços antes de chegar ao produto ou da obra final. Mas pode ocorrer o extremo oposto, quando.os filósofos e hitoriadores de arte, se perdem na longa genealogia de uma descoberta científica ou de uma obra de arte, e, assim, perdem-se em recuperar descobertas menores, deixando solitário e sem uma explicação convincente a descoberta espetacular e revolucionária ou a obra prima de arte tranformadora de um genelogia estética. Pior, quando reduzem estes feitos humanos à pura legenda. Legenda que encobre o feito, que antes era vivo e grandioso, sepultado-o debaixo de um mito totalitário definitivo e formado por detritos estranhos. Legenda cuja fonte é a mente onsciente e onipotente do epistemólogo que deseja ser genial com a sua propia descoberta e assim tornar-se famoso.


Fig. 07 – Goethe capa do livro os “Sofrimentos do Jovem Werther”. 1775

Esta mente do epistemólogo - que se deseja onipotente, onsciente e grandiosa - está no caminho natural de sua auto-biografia comandada pela propagando e pelo marketing pessoal. O seu objeto de estudo é mero detalhe, ou pretexto de sua própria razâo, quer seja outro cientista, artista, invento ou obra de arte. Esta mentalidade reifica tudo com o objetivo de impressionar o leitor com as suas próprias conclusões e que deseja lineares, unívocas. O resultado será que este leitor será desviado e conduzido e preso ao círculo de ferro desta mente onipotente, onsciente e grandiosa e não atigirá, ou compreenderá, o feito científico ou artístico, No extremo oposto está a aceitação do fatalismo de que este feito científico ou artístico já estava escrito nas estrelas e que mais cedo, ou mais tarde, alguém atingiria este estágio da sua criação. A obra de arte, ou invenção, relegada aos esxtremos de uma autobiografia ou como feito natural, são desqualifcadas como vestígios e índices do feito primordiais do pensamento e da criatividade humana.


Fig. 08 – Arman (Armand Pierre Fernandez -1928-2005) - Acumulações

O extremo oposto é da invenção, ou criação da obra de arte, que nascem prontas, magnificas e completas. Narrativas desta natureza fazem renascer e dão suporte ao mito de Atenas saltando, da mente de Zeus, adulta, guerreira e inteligente. As narrativas de muitos filósofos da ciência e hitoriadores de arte deixam esta impressão, apesar das muitas dúvidas, trabalhos e penosas escolhas que eles próprios tiveram para elaborar estas mesmas narrativas. No entanto ocultam, ao seu leitor, estes trabalhos dolorosos, caminhos tortuosos e escolhas para apresentar-lhes uma narrativa pronta, bem editada, única, linear e, principalmente, palatável. A era da informática permite esta edição limpa e palatável e sepultam todos os penosos trabalhos da elaboração de uma obra, como as múltiplas versões de “Madame Bovary” de Gustave Flaubert

Uma narrativa linear, unívoca e exitosa, passa facilmente, na sua edição final, a falsa convicção de que a criação do novo é algo linear, unívoco e que Ciência e Arte caminham de êxito em êxito na História de Longa Duração. Isto é especialmente verdadeiro em manuais escolares que realizam um discurso por cima e por fora de dores, de trabalhos e de escolhas crueis. No extremo oposto podem passar a sensação de que a criação de algo novo foi um episódio revolucionário único que quebra todo paradigma e o contínuo científico ou estético. Acoplado a este tipo de narrativa surge a imagem do gênio revolucionário. Este tipo de gênio nada deve a ninguém, que só teve incompreensões e oposições, que teve de vencer com raro e único golpes de mestre que o separaram de toda a população do seu tempo e local. Agora é necessário erguer-lhe um monumento reparador desta incompreensão e injustiça.


Fig. 09 – John BONAFEDNu com esqueleto” – New York Thimes em 02.01.2011

Em outro oposição entre extremos estão em confronto o mundo empírico e o teórico. No mundo empírico o cientista deve ser escravo do seu laboratório e de exaustivos experimentos para chegar a criar algo novo. O artista enquanto isto não pode perder um minuto da sua curta vida e produzir contínuamante para impregnar-se, inicialmente, de todos os recursos de que dispõe para depois criar a sua obra. No extremo oposto está a metafísica e as teorias as mais amplas e abrangentes do fenômenos da criatividade que se supõe origem das luzes e guias de todos os passos do cientista e do artista. A sua invenção ou criação nascem destas altas luzes intelectuais.

Em outros extremos o cientista, ou artista, não pode contrariar as suas próprias convicções anteriores, ou da sua comunidade, em especial quando possuem um histórico multi-secular de práticas e crenças. Assim há necessidade de concessões a esta cultura e estas circunstâncias, pois, como é sabido, aquilo que é 100% original não se comunica e não encontra público para receber esta novidade. No extremo oposto o cientista, ou o artista, avança impávido em continuadas rupturas epistêmicas com a sua própria cultura, e confrontos continuados com as convicções e práticas dos seus semelhantes e sem se importar de si mesmo ou com os outros.

Não é menos devastador o mito extremo da onipotência de um único projeto intelectual orientador de um pensamento estético e de raciocínios científicos e estéticos lineares, diretos e determinantes para todo o processo criativo. Esta onipotência confronta-se com o extremo oposto que deixa fluir a corrente criativa imanente ao ser humano, em linhas imprevistas e caprichosas e ao sabor do fluxo cultural natural de uma sociedade dada ao ócio, à frouxidão conceitual ou ao “laisser-faire” desordenado. Defrontam-se os extremos da “Abstraktion” e do “Einfülung”, como os descreveu Wilhem Worringer (1881 - 1965).

Outros dois extremos recapitulam a oposição e Naturalismo e e Realismo desenvolvido na arte e na ciência do século XIX. De um lado a genética do gênio resulta da evolução da espécie humana no qual certos indivíduos possuem dotes imanentes extrardinários sobre o comum da espece humana. Seguindo as concepções de Platão estes seres superiores devem ser selecionados e estimulados a dar todo o seu potencial. No extremo oposto, toda a criação da especie humana é moldada por estruturas sociais, econômicas e culturais detereminantes, externas e independentes ao indivíduo singular. (Grmek1984, p. 13).


Fig. 10 – HIROSHIMA Nuvem resultante da explosão da bomba atômica sobre Hiroshima, no dia 06 da agosto de 1945, as 08h15min, e que matou instantaneamente cerca de 70.000 pessoas.

O extremo mais difundido, contudo, é a esperança única e simples na ordem e na fé exclusiva de um progresso único, continuado, cumulativo e linear. O monetarismo crescente, as tecnologias de ponta e urbanização crescente fazem esquecer, na cultura ocidental, o extremo oposto de experiências milenares, de que outras economias são possiveis e que a urbanização é apenas pontual. Cientistas e historiadores de arte ocultam o que aconteceu com civilizações afluentes como a nossa. Não põe no devido relevo e que a humanidade pagou preços exorbitantes, para qualquer dos seus benefícios, e que melhor foi para estes povos abandonar, na floresta ou no deserto, estas metrópoles com todas as suas comodidades aparentes.

A conclusão geral que se chega é que a CIÊNCIA e a ARTE são coerentes com a VIDA e com uma CIVILIZAÇÃO e não se SUSTENTAM, de FORMA CONTINUADA, nos seus EXTREMOS. A humanidade teve mais longos períodos ao estilo da Idade Média européia do que os esplendorosos e pontuais Renascimentos. É mais difícil existir e evoluir sem usar as muletas dos extremos..

No entanto este blog participa da convicção que os extremos não são o destino final, e fatal, de pessoas e, muito menos, de civilização inteiras apesar da freqüência em que acontecem estes extremos. E não se trata aqui de denúncia ou qualquer outro sentimento menor. Mas a convicção de que a criatura, e como as civilizações, são competentes para conhecer e lidar positivamente com estes extremos. Com este conhecimento e habilidade tornam-se competentes para conduzir os seus juízos e as suas ações numa permanente homeostase das forças que os arrastam ora para um, ora para outro extremo.


Fig. 11 – Pintura Russa IVANOY, Aleksander Andreyevich (1806-1858) Aparição do Messias, 1837-1857 (detalhe) Museu Nacional de Moscou

http://www.googleartproject.com/museums/tretyakov/the-apparition-of-christ-to-the-people-the-apparition-of-the-messiah

O próximo post irá discorrer sobre o tema de que, na Ciência e na Arte, a virtude não está ao meio dos extremos de forças opostas. Ao exemplo do coração humano, que não ocupo o centro geométrico do peito e de uma homeostase, entre estas forças opostas, não se encontra situado num ponto simétrico central.

FONTES

ANTISERI,Dario (1940 - ) Il pensiero occidentale dalle origini ad oggi, vol. 2, ed. La scuola, Brescia

Antiseri D. (1996), Trattato di Metodologia delle scienze sociali, UTET, Torino http://it.wikipedia.org/wiki/Dario_Antiseri

FEDERICI Maria Caterina – BATTISTI a Francesco M. et alii Creatività e Sviluppo locale Scelte collettive e trasformazioni sociali New York Lulu Press Edizioni di Sociologia - 2006 pp.40-1 ISBN 978-1-4303-0900-0

http://www.lulu.com/product/paperback/creativit%C3%A0-e-sviluppo-locale/1324391

http://www.epistemologica.it/Papers%20e%20Download/Laboratorio%20didattica%20e%20ricerca/Conoscenza,%20sviluppo%20e%20nuove%20tecnologie%5B2%5D-1.pdf

FLAUBERT Gustave

http://www.vidaslusofonas.pt/gustave_flaubert.htm

GOETHE, Wolgang Sofrimentos do Jovem Werther

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://madamepickwickartblog.com/wp-content/uploads/2010/05/goethe5.jpg&imgrefurl=http://madamepickwickartblog.com/2010/05/romana-goethe-erotica-faustina/&usg=__L1MkiixDWgmmA44ABv4ogfR5n6g=&h=375&w=618&sz=56&hl=pt-BR&start=5&zoom=1&itbs=1&tbnid=XdznFVypvWhaCM:&tbnh=83&tbnw=136&prev=/search%3Fq%3Dwerther%2Bgoethe%26hl%3Dpt-BR%26biw%3D1419%26bih%3D726%26gbv%3D2%26tbm%3Disch&ei=M2u5TY6BN8LYgAfDgKlZ

GRMEK, Mirko Drazen (1924-2000). (1984), Per un ademitizzazione della presentazione storica delle scoperte scientifiche, in Cimino G., Grmek M. D., Somenzi V., La scoperta scientifica. Aspetti logici, psicologici e sociali, Armando, Roma http://en.wikipedia.org/wiki/Mirko_Grmek .

HIROSHIMA – Bomba atômica

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bombardeamentos_de_Hiroshima_e_Nagasaki

MONDRIAN http://en.wikipedia.org/wiki/Piet_Mondrian

WORRINGER, Wilhelm (1881 - 1965). Abstraccion y naturaleza. (1ª.ed.alemã em 1908). México : Fondo de Cultura Econômica, 1953. 137p. Leia o texto original em:

http://www.archive.org/stream/abstraktionundei00worruoft#page/n3/mode/2up

Abstraktion und Einfülung http://www.dictionaryofarthistorians.org/worringerw.htm

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