sexta-feira, 18 de março de 2011

ISTO É ARTE - 01

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

REGINA SILVEIRA :

firmeza, porém com ternura.

Este blog abre uma janela na seqüência das suas criticas e denúncias daquilo que o seu autor considera que NÃO é ARTE. Abre esta janela para evidenciar o contrário. Pretende mostra alguém que é artista, sabe que é e, com toda ternura, pede passagem para que a sua obra seja recebida coerentemente com o que ela é. Alguém que age como artista (ENTE) com a sua convicção reforçada com toda a sua obra e trajetória (SER).


http://www.emocaoartficial.org.br/pt/textos/simposio-2004/

Fig. 01 – REGINA SILVEIRA

Se alguém encarna o dito de que a “arte está em que produz (ENTE), e não no que é produzido (SER)” de Aristóteles, este alguém responde pelo nome de Regina Silveira. Frente à obra e da trajetória de Regina é possível entender o “ENTE no SER” da sentença de Heidegger, sem enganar a ninguém. Caso a sentença for verdadeira, é possível invertê-la. Assim o SER da artista conduz ao seu ENTE, em si mesmo inacessível. Regina Silveira vale-se da metáfora da LUZ para orientar o seu observador. O caminho entre o “SER e o ENTE” torna-se ainda mais coerente se forem consideradas as anotações, em relação ao papel da OBRA, deixadas por Hannah Arendt, a discípula de Heidegger.



No seu SER a artista Regina Silveira consegue conjugar a sua firmeza da defesa do seu projeto estético no qual concebe a sua OBRA. Age sem perder a ternura de alguém que sabe que a multidão está próxima fisicamente e a envolvem. Multidão acompanhada pelo ruído característico da nossa época. Multidão que se rege pela norma descrita por Baudelaire de que “ela vai ao espaço público para ver e ser vista”. A OBRA da mestra rege os passos confusos e a orquestra de sons desconexos desta multidão, impondo-se silenciosa, mas com firmeza. Firmeza de projeto no qual ela distingue, em sua mente, o que é essencial na sua OBRA. Orienta os olhos, os corações e as mentes desta multidão por meio da sua ternura e permanente alerta. Em permanente alerta para valer-se de todos os espaços físicos e conceituais mutantes que a multidão lhe concede e nos quais é possível ainda projetar a LUZ do farol que guia os seus projetos.



Para Regina a grande OBRA foi o desafio de aceitar o projeto e as semanas passadas no diálogo formal com a obra de Álvaro Siza. Na concretização da sua OBRA Regina, certamente, não esqueceu as aulas basilares que teve com os seus mestres Iberê Camargo e Ado Malagoli, sem deixar de transparecer as fecundas vivências com Júlio Plaza. Aprendeu e aplicou a lição fundamental de ir além dos seus mestres. Ela vive a arte do seu tempo, arte que é viva e se reinventa como a própria vida. Na arte, a falta desta reinvenção, é sinal de sua morte. Morte que não é esconjurada se ela se refugia na copia de si mesma. Arte vive permanentemente sob a espada de Dámocles[1] pois nela não existe perdão para uma OBRA equivocada.



Equivoco ocorrido na noite da inauguração e que ela não aceitou e nome da sua OBRA e do Museu. Inconformidade que só pode evidenciar o ENTE da artista. Equívoco do qual a artista valeu-se como oportunidade para iluminar a multidão de Porto Alegre. Multidão que necessita percorrer o longo caminho para atingir o patamar dos centros de arte onde este caminho já se elevou e concretizou há muito tempo. Centros e multidões para quem ela expõe a sua OBRA, interage e circula como cidadã do mundo.





http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Segundo%20Caderno&newsID=a3241542.xml

Fig. 02 – REGINA SILVEIRA – Insetos, mesa e baixela.


Este autor encontrou a artista neste trabalho de iluminar e orientar, com firmeza, os seus assessores, ao lado de Vera Chaves Barcelos, outra referencia mundial das Artes Visuais que Porto Alegre possui. Regina, apartada do burburinho da multidão do térreo e percorrendo as suas OBRAS as suas orientações eram dadas em vozes adequadas, educadas e de altíssimo nível. Porém eram firmes e visivelmente em desconforto com os resultados na noite de inauguração do seu projeto e do seu trabalho de meses. Trabalho que não encontrava uma LUZ adequada à sua OBRA na noite que ela deveria mostrá-la para a multidão. Noite em que o Museu encontrava um dos seus momentos culminantes deveria ver-se livre do despencar da espada de Dámocles.


Se a multidão necessita percorrer o longo caminho para atingir o patamar dos centros de arte nos quais este caminho já se elevou e concretizou há muito tempo necessita da LUZ da exposição das OBRAS de Regina Silveira. Suas OBRAS e de seus mestres e colegas mais qualificados e o Museu Iberê Camargo são apenas pequenas mostra do que ainda potencialmente ainda é possível realizar em Porto Alegre.

Porto Alegre possui este potencial, com a magnitude e a experiência de artistas sul-rio-grandenses e da contemporaneidade do Museu Iberê Camargo. Se a capital do Estado ainda não acertou o laudêmio, com a Marinha Nacional, para o uso do seu porto (alegre), não lhe faltam alternativas e potencial de outras soluções nas suas margens ainda incultas e entregues à marginais. Ao olhar do Museu Iberê, em direção ao centro da cidade, configura-se uma outra realidade a ser considerada. Certamente haverá a necessidade de realizar a conexão entre o Museu Iberê com o futuro teatro da OSPA pelas margens do Guaíba e suas águas. Ivo Nesralla estava presente na multidão dos que foram conferir a obra de Regina.

Caberia perfeitamente um Parque de Escultura entre a via pública e as águas. Parque a céu aberto próximo ao Museu com mostras renovadas. Parque com infra-estrutura adequada para onde migrariam progressivamente as atuais obras tridimensionais abandonadas no meio urbano. Parque onde estas obras teriam segurança e interlocução positiva de que tanto padecem pela incúria em lugares nos quais não tem nem voz e vez. O esporte necessita uma quadra de tênis, em Porto Alegre, altura daquelas de Roland Garros e de Wimbledon com todas a comodidades para atletas e publico. O estádio de futebol do Beira-Rio está caminhado para a sua renovação, atualização. Clube e Estádio que certamente teriam muito a ensinar, como nesta margem do Guaíba, passou de uma “bóia cativa” para uma realidade segura, irreversível e positiva.


http://urbanascidadespoa.blogspot.com/2010/05/parque-marinha-do-brasil.html

Fig. 03 –O PARQUE MARINHA do BRASIL entre a Avenida PRAIA de BELAS (já invisível) e as margens das suas ÁGUAS – Um escândalo a céu aberto e cada dia mais impune.

A prática do remo poderia ganhar raias olímpicas projetadas para dentro da margem das águas ampliando e não agredindo o espaço público. O Parque da Marinha do Brasil teria uma garantia de permanecer intocado e ganhando só melhorias e manutenção, inclusive o seu parque de diversões. O lugar do circo ganharia tratamentos a altura para abrigar em Porto Alegre as grandes companhias circenses. Praias artificiais e ilhas com areia tratada e piscinas com água adequadamente controlada, poderia ter a proximidade de restaurantes projetados sobre o espelho da água. A Avenida Edvaldo Paiva (parece ser em Porto Alegre a única com nome de arquiteto) ganharia um sentido e uma racionalidade urbana que ela ainda não possui, apesar de seu uso cada vez mais intenso e necessário. Funcionaria como topo da segurança contra enchentes e ganharia um visual e uma praticidade para acesso a aquilo que está descuidado. Ganharia como artéria urbana e pela complementaridade do aero-móvel realizando o transporte do público e em horários diferenciados entre o centro de Porto Alegre e os pontos como o Gasômetro, OSPA, Câmara, Centro Administrativo, Parque Harmonia, Parques, Beira Rio, Museu Iberê chegando até o Hipódromo entre outros. A Usina do Gasômetro já está consolidada, irreversível e que ganharia em todos os sentidos com este investimentos. Ao natural a população já se aglomera, aos finais de tardes, junto à margem do Guaíba para se despedir do Sol. A OSPA ganharia com todos estes equipamentos e planejamento urbano. O Teatro Por do Sol já é uma realidade e que poderia receber melhorias significativas tanto para artistas como público. O Parque da Harmonia já encontrou a sua vocação do cultivo das tradições campeiras. A poluição d Arroio Dilúvio parece que está com a sua com os dias contados.


Fig. 04 – Avenida PRAIA de BELAS e a distância da água

A Avenida PRAIA de BELAS necessita recuperar a sua conexão com a água antes que mais especulações e expedientes puramente mercadológicos ou de cunho meramente administrativos públicas, lhe furtem as conexões humanas com a água. Nada melhor do que a ARTE e a CULTURA para comandar este processo.

A LUZ projetada sobre o Museu Iberê Camargo, pela artista Regina Silveira, e proveniente dos sues mestres, colegas e observadores mais atentos necessita da liberdade, do carinho e da autonomia continuada, para se manter acesa e fazer sentido. Para cumprir estas condições a OBRA de ARTE e seus criadores não podem sujeitar ao improviso, a outros interesses sem se sujeitar às migalhas de obras jogadas e atiradas ao acaso.


Fig. 05 – CARTÃO CONVITE do Museu Iberê Camargo.

O postulante ao autógrafo ouviu “Eu não gosto de dar autógrafo e isto não é uma obra de arte”. Contudo predominou a civilidade e a gentileza da artista com o importuno.

As obras de Regina Silveira, na sua autonomia, gratuidade e liberdade, nos induzem e obrigam a dar-lhes atenção e abrigo. Abrigo num ambiente que é uma OBRA de arte e com a qual ela soube dialogar e transformá-la numa obra dentro de outra obra de arte. A coerência desta harmonia clama pela atenção, pela sua continuidade e pelo acendimento de outras luzes sobre a nossa capital. Continuidade para descobrir e realçar as potencialidades que ela já possui e recebeu graças ao gênio humano esta apta para evidenciar outras potencialidades ainda latentes. Também Porto Alegre possui um ENTE potencial e que necessita ser desvendado no seu SER.


http://wp.clicrbs.com.br/blogerlerina/?topo=77,1,1

Fig. 06– Museu Iberê Camargo.


O mundo numérico digital, na sua progressiva desmaterialização, necessita refazer o caminho exatamente ao contrário desta desmaterialização. Os cinco sentidos humanos necessitam experimentar - física e empiricamente - o que a tecnologia lhes subtrai cada vez mais. No caminho para fazer a mediação das idéias e sonhos da artista com o seu potencial público, o presente texto materializa-se apenas em letras e imagens. O seu contrário é percorrer e caminhar no meio das OBRAS de Regina Silveira como exigência dos sentidos humanos para conferir as idéias e os projetos da artista. A lição da mestra necessita os cinco sentidos acordados, atentos e vivamente exercidos em relação à sua aula viva. Aula para qual ela traz para a sua cidade natal um capital de bens simbólicos. Ganham a cultura sul-rio-grandense, o Museu Iberê, a OBRA da artista e a multidão, na medida em que souberem receber o capital de bens simbólicos originários do saber e da carinhosa firmeza de Regina

http://wp.clicrbs.com.br/blogerlerina/?topo=77,1,1

Fig. 07 – Museu Iberê Camargo.


ALGUMAS FONTES relativas à REGINA SILVEIRA no

ESPAÇO NUMÉRICO DIGITAL

http://reginasilveira.uol.com.br/

http://reginasilveira.uol.com.br/biografia.php – Walter Zanini

http://pt.wikipedia.org/wiki/Regina_Silveira

http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3119&cd_idioma=28555

http://bravonline.abril.com.br/conteudo/artesplasticas/regina-silveira-galeria-imagens-511020.shtml

http://www.escritoriodearte.com/listarQuadros.asp?artista=92

http://www.emocaoartficial.org.br/pt/textos/simposio-2004/

http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Segundo%20Caderno&newsID=a3241542.xml

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,dilemas-entre-a-midia-e-a-sociedade,684167,0.htm

http://www.medien.tv.reisen.en-a.de/kunst_kultur_und_musik/die_8_art_karslruhe_als_drehscheibe_der_kunst-46033/

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/830084-regina-silveira-inaugura-ceu-bordado-na-fachada-do-masp.shtml

http://wp.clicrbs.com.br/blogerlerina/?topo=77,1,1


PRAIA de BELAS

http://urbanascidadespoa.blogspot.com/2010/05/parque-marinha-do-brasil.html



[O presente blog possui apenas, e tão somente, fins didáticos e culturais Não visa lucro monetário algum, [como não possui patrocínio ou apoio financeiro]


Site básico do autor:

http://www.ciriosimon.pro.br/

sexta-feira, 11 de março de 2011

ISTO NÃO É ARTE - 09

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

CIÊNCIA NÃO É ARTE.

O mundo da RAZÃO possui as suas próprias competências. Estas competências se expressam pela CIÊNCIA e pela FILOSOFIA Natural. A humanidade deve ao mundo tecnológico a sua atual configuração, modo de pensar e de se expressar. Contudo esta autonomia da CIÊNCIA possui competência e limites. Os mais preparados e honestos cientistas reconhecem esta competência e os limites do seu universo. Buscam ampliar este universo por meio da ARTE, respeitando igualmente as suas competências e os seus limites. É notável a forma como o cientista Albert de Einstein (1879-955) harmonizava a CIÊNCIA e a ARTE. Nesta harmonização e respeito ele usufruía e estimulava o desenvolvimento destes dois universos distintos. Com o seu violino cultivava a ARTE, harmonizava e humanizava a CIÊNCIA. A Música o ajudava encontrar e compreender os limites e as competências de ambas, sem forçar ecletismos.


http://en.wikipedia.org/wiki/File:Akropolis_by_Leo_von_Klenze-award-3.jpg

Fig. 01 – Reconstrução ideal da Acrópole de Atenas (1846) - Leo von KLENZE (1784-1864)


O ecletismo é uma justificativa fácil para os apressados e, até, para mal-intencionados. No prefácio da Filosofia da Arte[1] Hipólito Taine (1828-1873). encontra-se uma amostra desta justificativa fácil. Neste prefácio ele enunciava o ecletismo entre Arte e a Natureza escrevendo que ambas estão “sujeitas a condições precisas e leis determinadas”. Desta esperança ele construiu a sua metodologia. como se estuda a temperatura física para compreender a aparição de tal ou qual espécie de planta, o milho, a aveia, o aloé, ou o abeto, deves-se estudar a temperatura moral para compreender o aparecimento de qualquer espécies de arte. As produções do espírito humano como aquelas da Natureza, só podem-se explicar-se pelo meio que as produz” “(Taine 1945, pp.25-26). O seu ecletismo força e conduz as suas especulações “o movimento geral que aproxima cada dia mais as ciências morais com as ciências da natureza e, ao mesmo tempo comunica às primeiras os princípios, procedimentos e direções das segundas, e lhes confere solidez idêntica e lhes assegura progressos iguais “ (Taine 1945, pp.27-28). Contudo o tempo não perdoou esta pressa e este ecletismo forçado. Taine foi esquecido e poucos seguem o seu caminho positivista.


Já o pintor e filósofo paraibano, Pedro Américo de Figueiredo e Mello (1843-1905), fez distinções e lançou contraditórios ao vitorioso positivismo da sua época. Ele doutorou-se em Filosofia pela Universidade Livre de Bruxelas, com a tese « LA SCIENCE et les SYSTÈMES: questions d´histoire et de philosophie naturelle ». [2]. A tese foi apresentada publicamente por Pedro Américo em 13 de janeiro de 1869, com a assistência de 2.000 pessoas e defendida, por ele, a longo de 3 horas, diante de qualificada banca. (Silva, 2006 pp. 99 e 100). Banca que se sentia incomodada, nas suas convicções positivistas, pelo jovem candidato brasileiro de 26 anos, Na época em que Taine ainda estava vivo e era considerado a glória positivista, logo após Augusto Comte (1798-1857), Pedro Américo registrava numerosas distinções entre Arte e Ciência,

É possível ler na tese do jovem candidato a doutorando, entre outras distinções:

o friso de Partenon, o Júpiter Olímpico, e tantas outras obras de arte, permaneceram superiores a todos os esforços que se fizeram para igualá-lo. Enquanto a filosofia dos gregos, ideal e sublime, parece diminuir, mais e mais, aos olhos das gerações modernas. Isto se deve ao fato de que a arte grega construiu a sua arte sobre a natureza, enquanto os filósofos a construíram sobre o ideal. As duas eram grandes, pois as duas haviam sido convocados para sustentar a liberdade de um grande povo. Contudo a grandeza da arte repousava sobre dados que se encontram em todas as épocas, dados positivos,impessoais e observáveis; a grandeza da filosofia, ao contrário, repousava quase inteiramente sobre o ideal subjetivo, móvel e mutante”.(Pedro Américo 1869, p.30) ,


. A Ciência busca ser contínua e reproduzível. A Arte possui momentos culminantes e que são irreproduzíveis. Pedro Américo, ao se aproximar de Fídias, observou neste artista:

“a natureza lhe oferecia os materiais sobre os quais deveria exercer a sua inteligência, a imaginação os aproximava e ensaiava combinações novas, a razão os escolhia, enquanto a mão hábil as fixava no ouro, na prata e marfim, depois, com suprema segurança, Fidias ao submetia à multidão. A obra esplêndida de seu gênio era fortalecida pela tripla aliança da natureza, da imaginação e razão” . (Pedro Américo 1869,p.31)


A citação, e o destaque conferida aqui ao pintor Pedro Américo, deve-se a que ele ter sido o 1ª brasileiro, ao que saiba, a defender tese em Filosofia, nas concepções institucionais contemporâneas além das suas profundas vivências nas manifestações mais expressivas da arte de sua época.





[1] - TAINE Hipólito Filosofia del Arte - Buenos Aires Espasa Calpe – Coleção Austral. 1945 , 355 p.


[2] - FIGUEIREDO e MELO, Pedro Américo de – LA SCIENCE et les SYSTÈMES: questions d´histoire et de philosophie naturelle. Bruxelles : Gustave Mayolez, 1869, 169 p.

MELO, Pedro Américo de Figueiredo e – A ciência e os sistemas: questões de história e de filosofia natural. João Pessoa : Editora Universitária, 2001, 143. : il ISBN 8523701192

Texto e livro recebido pelo auto, em 2007, pela prestimosa mediação do Prof. Dr. José Flávio SILVA -Professor de Filosofia da Universidade Federal da Paraíba –JOÃO PESSOA - Paraíba



http://www.googleartproject.com/museums/altesnational/view-of-the-flower-of-greece

Fig. 02 – Reconstrução dos trabalhos da Acrópole de Atenas August Wilhem JULIUS interpretando Leo von KLENZE (1784-1864)

Clique sobre a imagem para ampliá-la


Na convicção do jovem pintor e filósofo, a Arte atinge momentos e obras culminantes que depois tornam irreproduzíveis e sobre os quais não há como retornar ou imitar. Mesmo que sejam as pinturas Altamira e Lascaux - que a geração de Pedro Américo ainda não conhecia em 1869 - são únicas e insubstituíveis. A CIÊNCIA fracassa na busca de reproduzir estes momentos, vividos pela humanidade e das obras de arte ali produzidas. Fracasa de devolvê-los, na sua integridade ao presente, apesar dos esforços e de todas as buscas realizadas pela alta TECNOLOGIA disponível em nossos dias


Em relação a Pedro Américo, o Diário Oficial da Bélgica registrava, no dia 16 de janeiro de 1869, unanimidade da banca na atribuição da maior distinção para sua tese e conferia o grau de adjunto da Universidade de Bruxelas (Silva, 2006, p.99). .


Em Porto Alegre o esteta e médico Olinto de Oliveira já no final do século XIX distinguia o Comtismo do Positivismo e discordando, inclusive, de Aristóteles[1]. O médico pediatra Olinto de Oliveira elucidou suas preferências e distinções:“já por índole, já por temperamento, conservo-me sempre afastado das cogitações da política militante, da qual me arredam ainda mais as minhas ocupações favoritas: o estudo das ciências que cultivo e das artes que me seduzem”[2]. Nesta complementaridade é possível encontrar a mentalidade de Einstein com o seu violino. Coerentes com a CIÊNCIA e a ARTE, a sociedade de Porto Alegre ,confiou-lhe duas tarefas. Na CIÊNCIA, a de consolidar a sua profissão[3] . Na ARTE, Olinto foi o presidente da Comissão Central do Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul estimulando, com o seu exemplo, palavras e escritos outros cientistas abraçar e apoiar o campo das Artes.




[2] - Olinto de Oliveira, Correio do Povo 20.10.1898 ( Micro-filme do Museu Hipólito da Costa). No mês seguinte Olinto de Oliveira escrevia “o que não posso admitir de modo algum é a alienação do meu próprio juízo, levado ao ponto de acreditar sempre nas afirmações dos gênios, mesmo quando eles parecem incompreensíveis, absurdos ou contraditórios releve-me discordar do gênio de Aristóteles quando este profundo moralista justifica a escravidão pela degradação nativa de uma parte da humanidade”. Correio do Povo, 05.11.1898. (micro-filme Museu Hipólito da Costa)


[3] - Em Porto Alegre é considerado como o primeiro pediatra profissionalizado e com doutorado na sua especialidade A sua formação médica foi realizada, entre 1881 e 1886, na sede da corte. Retornou à província natal logo após a defesa , em 1888, da sua tese de doutorado intitulada ‘Das paralisias na infância’. (In Gonçalves Vianna, 1945, p. 21).


http://www6.ufrgs.br/artes/arquivo/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt

Fig. 03 – Médico pediatra Olinto Olympio de Oliveira


Entre os apoiadores deste Instituto de Belas Artes, além do médico Carlos Barbosa, estava Juvenal Octaviano Miller. O primeiro era Presidente do Estado do Rio Grande do Sul e o segundo o seu Vice. Este sob o pseudônimo de Tópsius escreveu no Correio do Povo do dia 22.04.1908 Como diz Augusto Comte, ‘o espírito contemplativo tem duas direções: a direcção Philosophica e a direcção esthetica ou poetica. A primeira diz respeito as concepções fundamentais que guiam o exercício universal da razão humana e a segunda refere-se às faculdades de expressão[1]


Contudo saltam as distinções de mentalidades, quando os campos da CIÊNCIA e da ARTE, chegam aos seus respectivos espaços administrativos. Não toleram forças estranhas, além daquelas que animam os dois campos. Agem em permanente tensão e alerta recíproca.

As palavras do jovem músico Tasso Corrêa podem ilustrar as tensões e as vigilâncias recíprocas - entre os campos da Ciência e da Arte – e a violenta reação de cientistas quando declarados incompetentes no campo dos artistas. Tasso encontrou uma metáfora deste mal-estar diante da hegemonia e o pretenso ecletismo sustentado pela CIÊNCIA para reinar sobre a ARTE. Desabafou em pleno Palco do Theatro São Pedro, frente a esta Comissão Central, aos estudantes e a sociedade porto-alegrense

O Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul é uma instituição dirigida por médicos, advogados, engenheiros, comerciantes, etc. Daí se verifica que o Instituto, sendo uma organização destinada á difusão do ensino artístico no Rio Grande do Sul, é orientado por cavalheiros de alta distinção, mas que infelizmente, na sua grande maioria, nada entende de Arte. Pra demonstrar o absurdo da nossa organização administrativa lembraria o seguinte: uma Faculdade de Medicina, dirigida por uma comissão de músicos, pintores e escultores. A sua situação deveria ser idêntica á do Instituto de Belas Artes” [2].

A simples expressão pública desta metáfora lhe custou muito caro. A Comissão Central do Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul era formada por médicos, juristas, contabilistas e administradores públicos cuja mentalidade era aquela da Ciência e com todos os méritos. Eles comandavam músicos e artistas plásticos. Olinto de Oliviera havia-se desententido, em 1919, com membros desta Comissão. Ele trabalhava, em 1933, no MESP no Rio de Janeiro. Cabia a defesa da ARTE ao jovem músico Tasso Correa que suportava, há uma década, a sua heteronomia nas mãos da Comissão Central.




[1] Topsius era pseudônimo de Juvenal Octaviano Miller (1866 -1909). Em 1908 era o Vice Presidente do Estado do Rio Grande do Sul. Militar, professor e positivista. Ele escreveu no dia da fundação do Instituto de Bellas Artes do Rio Grande do Sul

(Correio do Povo de 22 de abril de 1908 TOPICOS DO DIA - Cópia datilografada do AGIA-UFRGS).

[2] - DIÁRIO DE NOTÍCIAS – Porto Alegre : Diários Associados, dia 26.10.1933 p.4


http://www6.ufrgs.br/artes/arquivo/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt

Fig. 04 – Tasso Bolivar Dias Corrêa

A comparação valeu, ao músico, a sua exclusão do IBA-RS, no mesmo dia deste desabafo público. Contudo é necessário reconhecer que a distinção era aguda e era expressão coerente com o fato de que é impossível existir hegemonia de uma sobre a outra e muito menos ecletismo mórbido e perpétuo entre os campos da CIÊNCIA e da ARTE. Foucault afirmaria que “o poder circula”, em ambas, de formas distintas, eficazes e à sua maneira.


http://www.dezenovevinte.net/obras/obras_paxconcordia.htm

Fig. 05 – PAX et CONCORDIA 1902 -Pedro Américo de Figueiredo e Mello (1843-1905)


Respeitadas as competências e os limites, entre os campos da CIÊNCIA e da ARTE, não existe contradição ou incompatibilidades. Os exemplos da Albert Einstein e do pediatra Olinto de Oliveira materializam exemplos bem sucedidos desta complementaridade fecunda entre os dois universos. O exercício desta complementaridade é um índice da capacidade e da amplidão conceitual da qual é portadora, tanto a pessoa do artista como a do cientista. Para realizar e consolidar esta complementaridade Marcel Duchamp encarecia que o artista buscasse a Universidade Os seus argumentos giravam ao redor de busca do status e do equilíbrio entre as profissões consideradas cientificas com aquelas denominadas humanas[1]..

Contudo, além deste status social, a atenção do artista necessita certificar-se do projeto do qual esta universidade é portadora. De posse deste projeto da Universidade, este artista pode realizar e atualizar contratos dignos, atuais e honrados entre as ambas as partes. Se o artista descobrir que esta universidade constitui apenas um reduto e um feudo da CIÊNCIA e da TECNOLOGIA e das profissionalizações afins, ele desperdiça tempo e criatividade. Contudo o artista, mesmo fora de uma universidade alienante - sob a hegemonia definitiva da CIÊNCIA e da TECNOLOGIA, - necessita questionar os atuais condicionamentos de materiais, de recursos e as metodologias numéricas digitais, colocados a disposição as ARTE. Necessita saber se não o estão levando para uma pós-modernidade paralela e idêntica ao universo do ícone bizantino, como aquele que vimos no post anterior deste blog

Para exemplificar esta possibilidade redutora - imposta pela TECNOLOGIA e pela CIÊNCIA à ARTE - convêm investigar as relações da chamada ALTA DEFINIÇÃO com a ARTE. Um exemplo do limite da TECNOLOGIA face à ARTE pode ser encontrado nos museus de arte disponibilizados pelo GOOGLE. Para verificar a competência e os limites desta ferramenta toda TECnOLOGIA,, face ao mundo da ARTE, é possível consultar:

http://www.latribunedelart.com/quelques-questions-autour-de-google-art-article002998.html

http://www.lumiere-technology.com/indexfr.htm


Contudo são infundados todos estes temores se acontece o que Hannah Arendt apontou (1983, p. 273) como horizonte tanto para o artista como para o cientista:

O que salva os grandes talentos, é que as pessoas que carregam os fardos permanecem superiores a aquilo que fazem, ao menos enquanto a fonte criadora permanecer viva, pois essa fonte brota de que eles são, ela é exterior ao processo da obra, e independente do papel que eles cumprem [...] É elemento indispensável, para a nobreza humana acreditar que na individualidade do homem, o sujeito ultrapassa em grandeza e em importância tudo aquilo que ele pode fazer ou produzir”.


No breve texto - do presente post - os nomes exemplificam como os “sujeitos ultrapassarem em grandeza e em importância tudo aquilo que ele pode fazer ou produzir” na ARTE e na CIÊNCIA. O pintor, filósofo, professor e político Pedro Américo, o cronista, crítico de Arte e médico pediatra Olinto de Oliveira e o pianista, advogado e administrador Tasso Corrêa, tiveram. no presente espaço virtual, ocasião para que fossem apenas citados. As suas palavras podem mover inteligências. Contudo, o que pode mover vontades - para realizar e produzir a interação ente ARTE e CIÊNCIA - é o seu exemplo de carregarem simultaneamente vários fardos distintos e permanecerem superiores a eles. Agiram sem ecletismo e sem a rigidez do pensamento único, que defende apenas uma das competências, confundindo-se com os seus próprios argumentos.



FONTES


ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres : Calmann-Lévy, 1983.





[1] Texto de uma alocução em inglês pronunciada por Marcel Duchamp, num colóquio organizado em Hofstra em 13 de maio de 1960 Consta em SANOULLET, Michel. DUCHAMP DU SIGNE réunis et présentés par.. Paris Flammarrion, 1991, pp. 236-239







Fig. 06 – Créditos da tese de Pedro Américo 1869

Clique sobre a imagem para ampliá-la

MELO, Pedro Américo de Figueiredo e – A ciência e os sistemas: questões de história e de filosofia natural. João Pessoa : Editora Universitária, 2001, 143. : il ISBN 8523701192

Existe copia na Biblioteca do Instituto de Artes - Nº de sistema 000598798


----------------- Considerações filosóficas sobre as belas artes entre os antigos: estudo introdutório. Conformação textual e notas de Silvano Alves Bezerra da Silva. João Pessoa : Editora Universitária, 2006, 256 p. il ISBN 8599135643 - Existe cópia Biblioteca do Instituto de Artes nº de sistema 000598791


SILVA, José Flávio PEDRO AMÈRICO: primeiro doutor brasileiro em Filosofia. João Pessoa: CONCEITOS revista de Cultura, Educação, Política e Ciência – Associação de Docentes da Universidade FederaL da Paraíba (ADUFPB) – V. 6 , nº 14, nov. 2006 – pp 96 - 101 .

------------------PEDRO AMÉRICO: cem anos de sua morte. João Pessoa : - , -, - Contra Ponto, 11 de setembro de 2005

------------------PEDRO AMÉRICO: cem anos de sua morte – PINTOR FILÓSOFO NA PARAHYBA DO NORTE. João Pessoa : - , -Contra Ponto, 18 de setembro de 2005

------------------PEDRO AMÉRICO: cem anos de sua morte- PINTOR CONSAGRADO, CHEGA À PRAHYBA EM 1888. João Pessoa : - , -, - Contra Ponto, setembro de 2005

------------------PEDRO AMÉRICO: cem anos de sua morte - 1906: MORTO CHEGA À PARAHYBA. João Pessoa : - , -, - Contra Ponto, 16 de outubro de 2005

----------------LA SCIENCE ET LES SYSTÈMES.O ECLETISMO de PEDRO AMÉRICO. CORREIO das ARTES – João Pessoa – Paraíba, ano .. nº ..., 08/06/1999 p.



Hipólito Taine (1828-1873), historiador famoso, pode ser considerado o maior positivista francês depois de Comte. Na sua principal obra filosófica, De l’intelligence, Taine sustenta um sensismo mecanicista e um fenomenismo absoluto. Não existe nem a substância espiritual, nem a substância material; elas são reduzidas a um feixe e a um fluxo de sensações. E ainda menos existe uma substância absoluta: a realidade absoluta é constituída, no fundo, por átomos psíquicos (sensações), que, combinando-se mecanicamente entre si, dão origem ao todo.


A fama e competência de pediatra de Olinto Olympio de Oliveira (1866-1956) divulgaram-se em todo território doa Estado. Atendeu Erico Verissimo em Cruz Alta que “em 1909, com menos de 4 anos, foi vítima de meningite, agravada por uma broncopneumonia, quase vem a falecer. Salva-se graças à interferência do Dr. Olinto de Oliveira, renomado pediatra, que veio de Porto Alegre especialmente para cuidar de seu problema”.http://www.releituras.com/everissimo_bio.asp Para conhecer a dimensão nacional e internacional de quem foi considerado, em setembro de 1942, em Buenos Aires, como Decano dos Pediatras Sul-Americanos, recomenda-se ler FIGUEIREDO, Gastão de et alii. Olinto de Oliveira: poliantéia. Rio de Janeiro: IBGE. 1953, 110 p

Para conhecer o ambiente onde Olinto de Oliveira dirigia Departamento Nacional da Criança atendiendo ao binômio mãe-filho do MESP acompanhar as pesquisas parcialmente registrada em:

CASTRO GOMES, Ângela. Capanema: o ministro e seu ministério. Rio de Janeiro : Fundação Getúlio Vargas, 2000 . pp.143-172.



O pianista, advogado e administrador Tasso Bolívar Dias Corrêa (1901-1977) formou-se, em 1921 no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, Convidada por Guilherme Fontainha vinculou-se ao Conservatório de Música do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul (IBA-RS). A partir desta base ajudou Guilherme na criação dos conservatórios de Rio Grande, Pelotas e Bagé além da sala Beethoven de Porto Alegre. Após o evento do dia 24 de outubro de 1933 foi readmitido no Instituto. Quando o IBA-RS ajudou a constituir a Universidade de Porto Alegre (UPA), em 1934, o seu nome foi indicado para assumir a direção desta unidade universitária. Ele tomou posse deste cargo, em 1936, e o exerceu em sucessivas reeleições até 1958. Permaneceu neste cargo mesmo com a expulsão do IBA-RS pela UPA. Livre de uma universidade que continuava a exercer sobre a arte a mesma hegemonia da Comissão Central, realizou fatos marcantes para a arte do Sul do Brasil. Contratou profissionais efetivamente qualificados e reconhecidos socialmente pela sua competência no exercício da arte, abriu o espaço para Arquitetura e Urbanismo e com apoio dos “legionários”, vindos de todas as partes do Brasil, ergueu um prédio, no centro de Porto Alegre e que. Apesar do tempo e das mudanças na arte, ainda continua a abrigar o ensino formal e institucional das Artes.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tasso_Corr%C3%AAa


O Filósofo Dr. José Flávio da Silva, Professor da UFPB departamento de Filosofia aposentado. Interesse atual: Pesquisa sobre Filosofia na Paraíba, Filosofia no ensino médio, está colaborando com a comemoração dos cem anos da morte do pintor Pedro joseflavio12@yahoo.com.br

segunda-feira, 7 de março de 2011

ISTO NÃO É ARTE - 08

Convém: abrir e ler

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

para compreender os objetivos deste post.

O novo pelo novo, não é arte ou a

MORTE da Arte pelas CONEXÕES CORTADAS.

A MORTE da ARTE ocorre pela INTERRUPÇÃO ou CORTE com as circunstâncias nas quais o ARTISTA atua. Após algum tempo é possível conferir a morte pela falta dos SINAIS VITAIS da ARTE dos quais uma OBRA sempre é portadora. Com este desfecho ela é remetida ao mundo do TRABALHO, para a inutilidade e a obsolescência, senão ao museu como farsa, crime e horror.

Para constituir-se numa obra Aristóteles distinguia (1973: 343 114a 10 ) “toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”. Entende-se aqui “no que produz” como quem produz e “no que produz” em o que. Esta produção migra para os universos constituídos pelos documentos falsos ou falsificados e condenados à obsolescência - típica da Natureza - caso ocorra a mínima desconexão - entre quem faz e aquilo que ele produz -

A desconexão entre quem faz e aquilo que ele produz, pode decorrer da inabilidade, desatenção ou onipotência daquele que se julga artista. Mas também pode ser imposta pelas circunstâncias culturais, pela falta ou excesso destes recursos, o que é mais comum. Num exemplo gritante de excesso de recursos é fornecida pela comparação e distinção entre o grau de civilização atingida pelo indígena pré-colombiano. Na comparação e distinção as obras produzidas pelos indígenas dos rudes desertos do Peru pendem a favor destes. Enquanto a produção dos indígenas - satisfeitos com a sua sorte nas dadivosas florestas e campos do Brasil - é rudimentar .

A industria cultural e o artesanato, em geral, não alcançam a conexão - vital e coerente - entre “no que produz, e no que é produzido”. As forças vivas do campo das artes produzem apenas para o mundo do trabalho ao tentar trabalhar de forma cega, heteronômica e desconectada, no âmbito da industria cultural e do artesanato. São carentes de alma própria os produtos do artesanato rotineiro e da indústria cultural destinado à obsolescência. Alma - ou ânimo - que as vivificam e sustentam como obra de arte na ausência - física e pessoal - de quem os produziu.

O poder originário da arte emerge, para nossa atenção, quando se busca este ânimo, ou alma, da arte. Neste poder originário da arte os artistas primitivos possuem um papel na conexão entre “no que produz e no que é produzido”. Um notável exemplo encontra-se na história das origens do movimento estético, que depois se denominou Renascimento Italiano. O pintor Giotto de Bondone (1266-1337) retomou o projeto da conexão com a pintura entendida como tinta, pincel sobre a superfície. Desviava-se do artesanato e dos produtos culturais já obsoletos. Tempo obsoleto no qual o ícone bizantino era produzido e estava preso a normas estéticas estranhas e diferentes daqueles das circunstâncias do poder originário vigente da época de Giotto.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Giotto_di_Bondone

Fig. 01 _ LAMENTAÇÂO GIOTTO di BONDONE (1266-1337)



Giotto constituiu o seu projeto pessoal ao retomar os humildes meios pictóricos contra arte bizantina e contra o gótico no seu apogeu. Arte bizantina que tinha transformado as pinturas dos ícones em jóias, o gótico desproporcional ao humano. Contudo o projeto pessoal de Giotto não se constituiu apenas uma rebelião pela rebelião. No centro do seu projeto pessoal estava a criatura humana. Esta ganhava uma oportunidade para conectar a sua sensibilidade, inteligência e vontade por meio destes humildes meios pictóricos e passava a constituir-se em uma proporção como “medida de todas as coisas”.


http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dcone

Fig. 02 _ ICONE BIZANTINo RUSSO- Nossa Senhora de Kazan


Os ícones bizantinos eram trabalhados em filigrana de ouro, matérias e pedras preciosas e raras e caras. Valiam mais pelo seu material do que criatividade do seu artista. Enquanto os materiais da pintura de Giotto podem ser encontrados em qualquer ferragem. Todo o valor de uma pintura de Giotto, e dos seus seguidores, decorria da originalidade e da conexão com o ato criativo de que elaborou com estes materiais comuns e baratos.

O Renascimento condenava, nos góticos, a desproporção humana e a busca da eternidade alienante do aqui e do agora.


http://www.fineart-china.com/htmlimg/image-40128.html

Fig. 03 _ FUGA ao EGITO (1304-1305) - detalhe deGIOTTO di BONDONE (1266-1337)


Ainda que as obras de Giotto pareçam ingênuas e bisonhas para o leigo atual - movido pela onipotência e fartura de informações - elas instalaram uma série cultural de desafios coerentes entre quem produz e o que produz. O projeto - destes desafios - foi aceito pelas gerações de pintores subseqüentes. O apogeu deste projeto irá evidenciar se, na sua plenitude, nas obras de Leonardo da Vinci, de Rafael Sanzio e Miguel Ângelo, entre tantos outros.

https://peregrinacultural.wordpress.com/tag/leonardo-da-vinci/

Fig. 04 _ MONA LISA (1503-1506) Leonardo da Vinci (1452-1919)


Leonardo da Vinci, dois séculos após Giotto, aceitou o estatuto do mestre. Consciente do seu tempo e meio e o autor da Mona Lisa impôs livremente, a si mesmo e a sua arte, os procedimentos e os materiais de Giotto. Os resultados - da escolha destes humildes materiais e procedimentos - foram capazes de revelar, para todas as gerações subseqüentes, todo o esplendor e maturidade cultural da inteligência, destes dois florentinos. Esta coerência cultural transforma os artistas nos autênticos e universais testemunhos do seu tempo e lugar. As filas dos seus observadores da Mona Lisa, as páginas e tinta usada na publicação das análises, vindas de todos os saberes humanos, são índices da conexão coerente entre quem produziu e o que produziu.

Imagine-se se o Leonardo tivesse optado pela volta ao estatuto do ícone Bizantino. Toda a sua inteligência e sensibilidade estariam bloqueadas pelas rígidas normas desta arte milenar que jogariam a sua obra para a heteronomia de uma série já sem a conexão vital com as suas circunstâncias.

A busca desta coerência na conexão - com o se tempo e lugar - continua em plena vigência. Os artistas de vanguarda estão sondando o seu próprio meio e o seu tempo. Para simples exemplo desta conexão cita-se a artista americana Taryn Simon (1975). Ela criou uma das suas obras ao registrar, em fotos, o contrabando do movimento no Aeroporto de Nova York, entre os dias de 16 ate 20 de novembro de 2009.

http://www.nytimes.com/interactive/2010/07/30/magazine/20100801-taryn-simon-contraband.html#/-8/

Fig. 05 _– Contrabado de bolsas legítimas Verssagge registro em nov. 2009 de SIMON Taryn (1975)

Clique sobre as imagens

Fig. 07 _– Peças de contrabado registro em nov. 2009 de SIMON Taryn (1975)

Veja as imagens em http://www.nytimes.com/interactive/2010/07/30/magazine/20100801-taryn-simon-contraband.html

A obra Taryn SIMON (1975) possui múltiplas conexões com a vida contemporaneidade. Possui um projeto focado, limitado e exeqüível pela artista. A ação desenrola-se com toda atenção da sua autora e sem desvios de seu projeto. Tanto os textos, as imagens e o material, fornecidos para a mídia, permitem a reversibilidade a todo o processo abrangido por este projeto. Os meios numérico-digitais juntam-se e tudo isto e são direcionados para à interação com os observadores. Evidente que o tempo necessita conferir e fornecer o seu aval para transformar este projeto em obra que mantém vivo as conexões entre a artista, a sua obra e as suas circunstâncias.


http://www.shafe.co.uk/art/Richard_Hamilton-_Just_What_is_it_that_Makes_Today-s_Homes_So_Different-_So_Appealing-_(1956)-.asp


Fig. 06 _ O que torna os nossos lares tão atrativos 1956 HAMILTON Richard 1922


O artista Richard Hamilton registrou em 1956 o consumismo de sua época. Na sua origem tinha sentido e conexão com o consumismo obsessivo. O tema da obraO que torna os nossos lares tão atrativos” é sugerido por manequins de vitrine de loja comercial rodeados por produtos de desejo da época. O procedimento da colagem vulgarizou-se. Passado meio século o próprio artista não se copiou e nem atualizou o tema. Isto seria fácil demais: bastaria ir a uma vitrina de qualquer loja de departamentos para conferir as diferenças entre 1956 e 2011. Taryn Simon retomou apenas o conceito deste projeto de consumismo na sua época . Contudo o realiza num ambiente em que poucas atuaram ou tiveram coragem de atuar: num terminal de um aeroporto dos mais movimentados do mundo e no departamento de controle de importados.

Uma das funções do estudo da História da Arte é não repeti-la voluntária ou involuntariamente. A repetição sempre é uma farsa e o que nasce desta farsa é algo já consumido por outra cultura. Este é o terreno do KITSCH que se vale do predomínio da EMOÇÃo sobre a RAZÂO. Este desequilíbrio compromete a conexão entre quem produz e o que é produzido.


Nos seus extremos e na sua totalidade absoluta, tanto a EMOÇÃo como a RAZÂO aniquilam a vida, o novo e o autêntico. Entre estas forças extremas é necessária a homeoastase. Se a RAZÂO, no seu extremo, esteriliza a reprodução do novo, a EMOÇÂO aposta e joga no caos todos os meios artísticos. Por si mesmas, tanto a EMOÇÂO como a RAZÂO, levados aos seus extremos não produzem o continuum da arte, e muito menos a sustentam. Elas são incapazes, por si mesmas, manter as conexões entre quem produz, o que produz e quem recebe a obra.



A exposição ao publico dos corações partidos, no balcão e nas janelas da mídia, são cenas de um romantismo adolescente. Historicamente esta exposição encontrou inicialmente guarida e divulgação na obra “Os Sofrimentos do Jovem Werther” (1774) de Goethe. Contudo “esta obra produziu mais suicídios dos que o número de letras do seu texto” conforme os seus detratores e depois denominado “Efeito Werther”. Evidente este não era o objetivo do seu autor e nem o da sua obra de arte. Assim o autor de “Fausto” (1806) evolui em direção aos clássicos universais Esta evolução foi acompanhada e descrita por Cláudia Valladão de Matos[1] (USP, 2009)



A conclusão que se pode chegar é que o mero capricho da mudança pela mudança, a ruptura pele ruptura e o novo pelo novo não é arte.

Aliás a Semítica ensina, há muito tempo, que aquilo que é 100% original não possui a menor oportunidade para ser decodificado e se isola como um ato hermético e sem a possibilidade de constituir um único observador que seja.



Citados


ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 329p.


Bolsas Verssagge ver http://grupoalmibar.com/index.php


EFEITO WERTHER

. http://teorias-do-crime-um-seminario.blogspot.com/2007/03/o-efeito-werther-e-o-suicdio-importncia.html





[1] MATTOS, Cláudia Valladão de “ÉCFRASE Goethe, o Eikones de Filostrtao e a resistência aos românticos São Paulo : Revista da USP nº 71 nov. 2009 versão impressa ISSN 0103-9989

http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_serial&lng=en&pid=0103-9989&nrm=iso

Disponível em

http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0103-99892006000400012&script=sci_arttext