quinta-feira, 12 de agosto de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE APÓS 1945 – 08.01


A ASSOCIAÇÃO ARAÚJO PORTO ALEGRE – AAPA -

COERENTE com o SEU TEMPO e LOCAL de AÇÃO.

















Fonte da imagem Iconografia Sul-Riograndense de Plínio Bernhardt , 2009, p.07.



Fig. 01 – Plínio Bernhardt contempla, em 1947, as ruínas das Missões Jesuíticas





Graças às suas associações, as suas instituições e os seus artistas singulares Porto Alegre pode realizar, depois de 1945, as mudanças e as conexões com a cultura planetária contemporânea. A cidade deve-les a origem, circulação e o usufruto dos bens simbólicos e físicos das quais as Artes Visuais são portadoras. Elas buscavam, nesta época, renovar-se e constituir o fluxo embrionário de um sistema de arte apropriado ao seu tempo e local, tendo como objetivo não perder a sua identidade própria.


A fortuna de uma associação não é fortuita. Se ela consegue êxitos, estes resultados representam os frutos das somas dos seus projetos. Projetos fecundos em ganhos coerentes com os soma dos investimentos de trabalho e com o continuum da perseverança no caminho escolhido. Nestes projetos os seus agentes sabem que existem perdas. Perdas materializadas nos sacrifícios realizados em detrimento de outras potencialidades que necessitam deixar de lado para não perder o foco do projeto de origem.


A jovem associação tomou para si o patrono Manuel Araújo. Este, havia escolhido, inicialmente, para si o apelido de “Pitangueira” e mais tarde para significar a sua origem,fixou-se no gentílico “Porto-alegre[1]. Os fundadores da AAPA escreveram no art. 1º dos seus Estatutos:


A Associação Araújo Porto Alegre (AAPA), com sede nesta capital, assim denominada para honrar a memória de Manuel de Araújo Porto Alegre, Barão de Santo Ângelo.



Os que invocavam a sua memória, e o seu nome, expressavam esta mesma vontade do pertencimento ao clima, flora e circunstâncias nacionais reverenciado pelo jovem Manuel Araújo. Contudo o movo central desta escolha foi a copiosa e variada produção deste filho de Rio Pardo-RS. O futuro Barão de Santo Ângelo pode ser considerado como alguém que gerou e sustentou um verdadeiro sistema da arte quando ia ao meio o II Império Brasileiro. Pintor que formava parte do projeto civilizatório da Missão Artística Francesa, poeta e amigo de poetas. Como jornalista introduziu a caricatura no Brasil[2]. Artista gráfico que não tinha receio de criar e pintar cenários para as peças teatrais dos melhores escritores da época. Como orientador da nova geração reformulou a Imperial Academia de Belas Artes e encaminhou para um caminho seguro, tanto Vitor Meirelles como Pedro Américo, considerados como as duas expressões mais vigorosas da Pintura ao longo do Império Brasileiro. Como plebeu e de origem humilde terminou os seus dias em Lisboa como embaixador brasileiro e com o título da nobreza




[1] - Conferir alguns dados relativos a Manuel Araújo em artigo deste blog disponível em

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/06/arte-em-porto-alegre-05.html


No site http://www.ciriosimon.pro.br/his/his.html ver ARTE no RIO GRANDE DO SUL, p 144 em diante




[2] - A fortuna critica relativa a Manuel Araújo Porto-Alegre é imensa e prova a sua atualidade. No espaço numérico digital este sucesso é o mesmo onde há um resuma em http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_de_Ara%C3%BAjo_Porto-alegre



Detalhe de pintura de Círio Simon

Fig. 02 – O jovem Manuel Araújo em Porto Alegre



O caráter desta figura singular do passado das Artes Visuais, encantou e motivou estes jovens de Porto Alegre a seguir-lhe as pegadas anônimas que passaram pelas ruas da cidade na época da Independência brasileira. Na escolha deste patrono, pode-se auscultar a vontade da busca dos membros da AAPA para retomar os valores e os nomes locais, regionais e estaduais, que o Estado Novo (1937-1945) havia postergado em favor de um nacionalismo unitário e que, neste momento, não só se esvaziava, mas tornava-se estéril para o projeto da nova geração. Nova geração que estava surgindo e que necessitava afirmar-se no seu tempo e lugar de sua origem. Nada melhor do que invocar a figura de um jovem que havia perambulado pela cidade Porto Alegre de sua época e onde não pode dar forma e vazão à suas energias criativas e positivas.


Acervo de Plínio Bernhardt

Fig. 03 – MEMBROS da AAPA e do CENTRO ACADÊMICO TASSO CORRÊA em 1947




Assim passaram a agir de forma civilizada em projetos que tinham de um lado a repertório das frustrações e recursos locais. Agir coerentemente diante das frustrações de Manuel Araújo que não poder voltar e produzir arte na cidade da qual adotou o gentílico. Uma das coerências no agir da AAPA foi o de não quebrar ou entrar nas vias aparentemente fáceis da anarquia estéril. Adotaram a norma republicana vigente de ir ao cartório público de registros e ali depositarem o estatuto da Associação que queriam fundar[1]. Com este documento abriam as portas de patrocínios e das vias oficiais e particulares cujos agentes estavam seguros da apoiar um projeto que a toda a sociedade pode conferir a avaliar. Avaliação possível graças ao projeto expresso no instrumento legal depositado em lugar público no qual estavam expressos legalmente as disposições maiores de todos.


Os estatutos da AAPA especificavam estas disposições maiores de todos, no seu art. 3º, com limites e as competências como:

A Associação tem como finalidade específica o estudo, a documentação e a divulgação da Arquitetura e das Artes Plásticas.




A criação desta entidade realizava-se na época em que Arquitetura e as Artes Plásticas interagiam no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Pode-se especular que as competências da AAPA foram esvaziadas quando se criou a Faculdade de Arquitetura, separada e com frágeis vínculos com a Arte.

Na sua auto-biografia[2] Fernando Corona comentou o nascimento e os objetivos da AAPA, dando destaque a um dos seus líderes.


Um dos meus alunos, Ruy Miranda Falcão, nascido em Portugal de mãe brasileira, irmão por esse lado de Gabriel Obino e de Alfredo Obino, este gerente da “Folha da Tarde”, com alguns colegas do Instituto de Belas Artes, com independência da mesma, criaram a “Associação Manoel de Araujo Porto Alegre” (Barão de Santo Angelo) com o precípuo fim de fazer excursões trabalhando, quer dizer, desenhando, pintando ou esculpindo.


O artigo 2º dos Estatutos nomeia como sócios fundadores da AAPA os membros Carlos Maximiliano Fayet, Emílio Mabilde Ripoll, Jorge Serito de Vives, Luiz Eduardo Santos, Luiz Fernando Corona, Luiz Florêncio Braga, Plínio César Bernhardt[3] e Roberto Bias. O presidente era Ruy Miranda Falcão, o secretário Carlos Galvão Krebs e Remo José Franco como secretário.

Quando a AAPA deu ao Cartório este registro a AAPA alguns dos seus membros, que pertenciam a Centro Acadêmico Tasso Corrêa, já haviam feito um ensaio coletivo e em campo de seus objetivos ideais. Este ensaio foi realizado, com êxito, no mês de julho de 1947, por meio de uma das clássicas visitas às ruínas das Missões Jesuíticas. Estes vestígios haviam sido recuperados, fazia uma década, numa 1ª intervenção do IPHAN e pelo arquiteto Lúcio Costa.




[1] - Conferir «Associação Araújo Porto Alegre» in Correio do Povo. Caderno de Sábado. Volume XCVI, ano VIII no 596, 29.12.1979, pp. 8/10.

Procurar Estatutos da Associação Araújo Porto Alegre , disponíveis no Serviço de Registro Civil das Pessoas Jurídicas de Porto Alegre, inscritos sob nº 50.022 no Livro A, nº 4 do Protocolo em 02 de abril de 1947. Deve-se, ao estudante do IA-UFRGS, Sérgio Sakikabara www.flickr.com/people/60124049@N00/ , uma das verificações e resgates de copia destes Estatutos ,em 26 de junho de 2006

[2]CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e aqui fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amor Manuscrito - Tomo I 302 folhas de arquivo: 210 mm X 149 mm. Copiado no Arquivo GEDAB Faculdade de Arquitetura. UFRGS


[3] - Cada um destes membros certamente deixou documentos e registros das atividades da AAPA. Mas deve-se Yvonne Bernhardt, viúva de Plínio César Livi Bernhardt o acesso aos documentas que o artista colecionou relativoas à sua ação na AAPA. Estes documentos serviram de base para a exposição ICONOGRAFIA SUL_RIOGRANDENSE de Plínio Bernhardt levada ao Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo, no Salão Arquipélago entre os dias 18 de março e 18 de abril de 2009 e financiada integralmente pela CEE. Esta empresa também financiou e distribuiu a obra impressa

Iconografia Sul-Riograndense de Plínio Bernhardt . Vinício Giacomelli [org] – Porto Alegre : Brejo, 2009 72 p. : il

O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região / RS TRT/RS realizou, no dia 13.10,2009, uma exposição de uma seleção das obras de Plínio. Esta aconteceu pela intervenção de sua Associação Cultural AMATRA. Desta seleção foi editado o CALENDÀRIO 2010 do TRT que teve distribuição nacional.


Acervo de Plínio Bernhardt

Fig. 04 – Capa do relatório da viagem do CATC às Missões



A viagem de estudos para as Missões ocorreu em pleno inverno no mês de julho de 1947. Contou com a carinhosa presença do artista Benito Castañeda[1]. Não se limitaram ao lado brasileiro. Também penetraram em território Argentino para perceber a grandiosidade do projeto jesuítico.




[1] - Conferir biografia de CSTEÑEDA, inclusive obras produzidas nas Missões em http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/wiwimod/index.php?page=CASTAÑEDA,+Benito


Acervo de Plínio Bernhardt

Fig. 05 – Castañeda pintando, em 1947 na Missões




No seu retorno prestaram contas publicas à meio cultural e a publico em geral. Valeram-se da imprensa e de uma amostra de seus trabalhos

.


Acervo de Plínio Bernhardt

Fig. 06 – Titulo da matéria da excursão e anunciando exposição das Missôes




A mostra ocorreu no dia 12 de agosto de 1947 com um artigo no Correio do Povo do domingo que antecedeu a Exposição[1].


Antes desta experiência de campo, o estudante Carlos Galvão Krebs havia levado e apresentado, no 24.04.1947, a sessão Conselho Técnico Administrativo – CTA - do IBA-RS a sua proposta que ficou registrado desta forma nas atas[2] deste órgão

Item X - Levantamento do Patrimônio artístico do Estado. O senhor diretor expoz a conveniência e utilidade de ser criado, no Instituto,a criação do serviço de levantamento do patrimônio artístico público e particular do Estado; lembrou a possibilidade de se realizar a iniciativa sob a orientação do Prof. Angelo Guido, com o concurso do aluno Carlos Galvão Krebs, que ha muito vem estudando o assunto com interesse, sendo como funcionário do Tesouro do Estado, poderia ser tentada a sua requisição - o que viria facilitar a efetivação da idéia, porque seria evitada a necessidade de serem criados cargos e abertura de novas verbas. O Conselho aprovou integralmente a iniciativa, por unanimidade, aprovando, também, a requisição da pessoa lembrada pelo senhor diretor e autorizando-o a dar os passos necessários junto dos Poderes Públicos; aprovou, ainda, uma sugestão do senhor Conselheiro Angelo Guido, no sentido de se procurar obter, da Diretoria do Patrimônio Artístico Nacional, os moldes dos formulários alí usados, para facilitar a organização do novo serviço.


As ações da AAPA nas Missões e depois, na Bahia, em Minas Gerais e em Pernambuco, são coerentes e contemporâneas com esta proposta acatada unanimemente pela alta cúpula do IBA-RS. Esta proposta acatada abria perspectivas de reforço de verbas especificas para este projeto. Projeto que buscava garantir o direito ao conhecimento qualificado e competente para gerar uma consciência coletiva. Consciência coletiva capaz de garantir um futuro melhor para as suas próprias obras que estavam produzindo e aquelas das demais gerações de artistas visuais.

A comitiva da AAPA partiu de Porto Alegre ni 31de dezembro de 1947 e retornou no mês de março do ano seguinte.



[1] No dia 13 de setembro de 1947, um mês após a exposição da AAPA, a Revista do Globo, no seu nº 442, pp. 22 a 29. José Amadio tratou o tema das Missões com notável ensaio fotográfico de Ed Keffel. .

[2] - Livro II Atas do Conselho Técnico Administrativo [CTA-IBA-RS] iniciado em 21. 06. 1941e concluído 30.1.1951 Documento disponível do Arquivo Geral do IA-UFRGS.e contemporâneo ao Livro de Atas nº 2: Congregação do IBA-RS aberto em 1946.


Acervo de Plínio Bernhardt

Fig. 07 – Integrantes da AAPA em visita à redação dos Diários Associados.




A ação quotidiana desta comitiva de arte, na Bahia, ficou assim registrada no escritos de Fernando Corona:



Diariamente no hotel a hora do almoço ou jantar eu indagava de cada um a labor do dia, pedindo-lhes que entregassem tudo ao Ruy Falcão

Além do trabalho diário, os contatos políticos, culturais e educativos fluíam constantemente. Estes contatos eram sustentados pelos nomes mais expressivos da política baiana da época. Entre os nomes destacados por Fernando Corona constam nomes legendários e que são verdadeiros ícones nacionai:

Numa entrevista que tivemos com o Secretario da Educação Prof. Anisio Teixeira, comunicamos-lhe ter já material bastante para uma exposição. Estava junto conosco o Diretor do Museu José Valadares que se fízera nobre amigo e com ele mantivemos inúmeros diálogos.



O projeto da exposição foi cumprida e noticiada em Porto Alegre no com repercussões nos Diários Associados onde Carlos Galvão Krebs era cronista de arte e um dos membros da AAPA.


Acervo de Plínio Bernhardt

Fig. 08 – Título da abertura da exposição em Salvador – Bahia



Pelo que é possível verificar nestas aterias, a exposição aconteceu com a presença ou representação das mais expressivas autoridades educacionais, culturais e políticas da Salvador da época.

Acervo de Plínio Bernhardt

Fig. 09 – Matéria noticiando a Exposição da AAPA em Salvador na Bahia.



Um dos convidados da AAPA para o trabalho em Salvador foi Vitório Gheno.
Ele registrou a sua participação na Revista do Globo da seguinteforma

Revista do Globo nº 459 de 22 de maio de 1948 p.49

Fig. 10 – Vitório Gheno reportando a sua ida à Bahia a convite da AAPA.

Clique sobre a imagem para ampliá-la.



Um das obras de Gheno reflete a sua estética e o estímulo que recebeu no meio cultural baiano[1]




Revista do Globo nº 459 de 22 de maio de 1948 p.49

Fig. 11 – Desenho da Bahia da autoria de Vitório Gheno convidado da AAPA.



A AAPA, com as credenciais do seu trabalho na Bahia e com os documentos oficiais – tendo em mãos o seu estatuto - também abriram as portas do Palácio da Liberdade do Governo de Minas Gerais. Com estas credenciais ficaram percorrendo o patrimônio material e imaterial que este rico estado ostentava no presente – como a Pampulha - e do passado como as cidades do ouro. No final mostraram também ao povo mineiro os resultados do seu trabalho individual e de grupo.


Recorte sem data e origem – Acervo Plínio Bernhardt

Fig. 12 – Matéria jornalística relativa à exposição da AAPA em Belo Horizonte.

A experiência deste itinerário de produção de obras e de cultura, foi tão satisfatória que o Prof Fernando Corona – que havia retornado para iniciar as suas aulas -
começou a se inquietar. Por isto tentou apressar o retorno da turma da AAPA a Porto Alegre:


As noticias que recebiamos da turma da “Associação Araujo Porto” Alegre” eram boas. Havendo voltado a Belo Horizonte, incrível Ruy Falcão chefiou a organização da Exposição de Trabalhos a serem expostos ao público mineiro e como satísfação devida à fidalgnia do governador Dr. Milton Campos e ao Secretario da Educação Mário Zanetti. Soubemos que sería composta de 300 desenhos, óleos, aquarelas e esculturas. Bahia e Minas Gerais reunidas. As noticias e a crítica nos jornais foram boas ante aquela iniciativa inédita no Brasil.

Lá para o mes de março a caravana voltou, não antes de eu haver reclamado por telegrama do Ruy Falcão, fazendo-o responsavel pela demora. Parece que havia dificuldade em conseguir passagens de avião para todos.




Inicialmente os resultados da AAPA foram socializados em Porto Alegre numa crônica de Aldo Obino na sua legendária coluna “Notas de Arte”.



Correio do Povo de 07.04.1948 – Recorte do Acervo de Plínio Bernhardt

Fig. 13 – Título da crônica de Aldo Obino, reportando a ida da AAPA à Bahia e a exposição.

Clique sobre a imagem para ampliá-la.




Os participantes com as suas obras, uma vez em Porto Alegre, começaram a delinear as estratégias e a logística para que o poder originário da cidade e da Estado pudesse avaliar, por si mesmo, ao menos uma das relações entre os custos deste projeto e os benefícios

No mes de abril, reunidos comigo uns quantos estudantes, resolvemos fazer aquí uma exposição gigante. Carlos Galvão Krebs escrevia no Diario de Noticias e não tem quem no Correio do Povo. Não era eu, embora ja fosse colaborador. Pedimos ao Breno Caldas o Salão do Correio do Povo em um dia (não sei qual) (perdí os recortes ou estão por ai) todos colaboramos nos arranjos dos paineis e pedestais. A Exposição de trabalhos daquela excursão memorável, e porque não histórica, no ensino das artes plásticas no Rio Grande do Sul, foi de mais de 300 trabalhos, incluindo os que pude fazer. Foi um êxito artístico e o incrivel Ruy Miranda Falcão, o manipulador do movimento, que afinal teve o apoio e a colaboração de todos nós.

Os projetos da AAPA continuaram a fluir e tomar corpo como a viagem cultural para Pernambuco realizado no ano de 1952.


Diário de Pernambuco - 21.02.1952 - 5ª feira – Arquivo Plínio Bernhardt

Fig. 14 – A AAPA em Pernambuco em 1952

1ª fila [da esquerda para direita do observador] Celso Carneiro, Paulo Dutra, Isolde Braus, Ligia Fleck, Ivone e Plínio Bernhardt.

2ª fila [na mesma ordem] Moacir Zanin, Otto Georg, Carlos Galvão Krebs. Luis L. Borges e Saulo Gomes




Fernando Corona conduziu, neste mesmo ano de 1952, uma turma para a Europa[1]. Contudo esta não foi planejada, e executada pela AAPA. Entre outras visitas realizaram uma entrevista com Le Corbusier.


A última ata da AAPA, a qual o autor teve acesso[2], é datada de 31 de julho de 1954. Esta reunião, que a ata resume, ocorreu na residência de Plínio Bernhardt. O tema dominante, nesta ocasião, girava ao redor de um convite de Érico Veríssimo para uma possível viagem aos EEUU. Carlos Maximiliano Fayet assumia a secretaria da AAPA e passava a presidência à Carlos Galvão Krebs . Os membros presentes eram Emílio Mabilde
Rippol (assumindo a tesouraria) Plínio Cesar Bernhardt, e Luis Florêncio Braga, Para avaliar a dificuldade deste projeto a AAPA estava planejando realizar a viagem por via marítima !


O destaque dado à ‘Associação Araújo Porte Alegre’ (AAPA), estudada por Maria Lúcia Kern (1981: 208-214), tocou no tema do associativismo dos artista visuais de Porto Alegre. Alem da AAPA foram numerosas, variadas as formas das tentativas para associar, em épocas distintas, os artistas visuais, em Porto Alegre. como foi visto em narrativa anterior[3] deste blog.

Repete-se aqui. A Associação Francisco Lisboa[4], nasceu no âmbito do Estado Novo[5]. em agosto de 1938[6]. Ela é a maior com número de sócios, na sua continuidade[7] e no seu de funcionamento m Porto Alegre. A Associação Francisco Lisboa (Chico Lisboa) continua a sua ação como uma das forças do sistema de artes do Rio Grande do Sul. O grupo investiu só recentemente numa estrutura burocrática administrativa, em bens e sede[8].


Antes dela surgiram outros grupamentos de artistas plásticos ou se público como o caso do “Centro Artístico” ao redor de uma exposição de Pedro Weingärtner[9] em Porto Alegre. Outra associação efêmera projetou e executou o Salão de Outono em 1925 (Revista Máscara, ano VII, no 7, jun 1925).


Em Porto Alegre atuou, entre 1954 e 1955 a ‘Sociedade de Amigos da Arte’. Scarinci registra (1982: 106) a experiência da Sociedade de Cultura do IBA (SOCIBA), constituída no aniversário do Instituto em 1953 que nos documentos do AGIA-UFRGS[10] descobre-se como uma interface entre a instituição e a sociedade civil, aos moldes de uma “fundação”. A SOCIBA foi desativada em 1958, dando lugar à ‘Associação Cultural dos Ex-Alunos do IBA-RS” [11] e responsável pela experiência da “Escolinha de Artes do Instituto[12].


No Brasil a Missão Artística Francesa, de 1816, comandada Joaquim Lebreton[13], pode ser vista como uma associação de artesões[14] e de artistas. A Sociedade Propagadora de Belas Artes, criada no dia 23.11.1856[15]. na capital imperial foi a base cultural e social do poder originário para colocar no mundo, o Liceu de Artes e Ofícios no dia 09.01.1858, Ne República os artistas plásticos lançaram, em 1919, a Sociedade Brasileira de Belas Artes” com estudantes da ENBA, conforme relata Miceli (1996: 156). Zanini se refere (1983: 579) ao Grupo Bernardelli que reuniu esses estudantes de ENBA, entre 1931 e 1940. Em São Paulo as associações de artistas plásticos geraram versões sindicais, como a transformação da Associação Paulista de Belas Artes em Sindicato dos Artistas Plásticos. Uma associação proletária de artistas formou o legendário Grupo Santa Helena.

No plano mundial o artista visual é estimulado pela necessidade[16] de buscar novas formas de se associar[17]. O artista plástico transforma a sua contradição o seu trabalho isolado em complementaridade, levando em buscar o seu oposto: a associação. Em Paris, Meissonier, Puvis de Chavanes e Rodin cindiram a “Société nationale des beaux-arts”, criada no dia 15 de junho de 1882, constituindo, por sua vez, em 1890, Société des artistes français” (SAF), segundo Monnier (1995: 269).

Na contemporaneidade, mesmo as instituições públicas, cercam-se de “Associações de Amigos”. A mais que centenária Lei nº 173, de 19 de setembro de 1893[18] cumpre, nestas associações, o seu papel civilizarório, contínuando a mostrar a renovação de todo o projeto republicano.

Veja mais em:


CADERNOS de ARTES 1 - Manuel Araújo Porto Alegre . Porto Alegre : Instituto de Artes da UFRGS Jun 1980. (Dedicado integralmente ao artista)


GUIDO Ângelo (GNOCCHI) (1893-1969). Araújo Porto Alegre: o pintor e a personalidade artística. Porto Alegre: Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Sul/Divisão de Cultura1957 p.29-59

KERN, Maria Lúcia Bastos. Les origines de la peinture "Moderniste” au Rio Grande do Sul - Brésil. Paris : Université de Paris I- Panthéon.Sorbonne , tese, 1981. 435 fls.

MONNIER, Gérard. L’art et ses institutions en France: de la Révolution à nos jours. Paris : Gallimard-Folio-histoire, 1995. 462p.


RIOPARDENSE de MACEDO, Francisco. «30o Aniversário do Ensino de Arquitetura no Rio Grande do Sul : O Primeiro Curso de Arquitetura» série in Correio do Povo: Porto Alegre, Nov. dez 1974. Em especial os artigos de 10.11. 1974, p.27 e dia 17.11.1974.

SCARINCI, Carlos. A gravura no Rio Grande do Sul (1900-1980). Porto Alegre : Mercado Aberto, 1982. 224p. + il. col.


ZANINI, Walter. História geral da arte no Brasil ( org. Zanini) São Paulo : W.M. Salles, 1983, v.2. 1095p.


Conferir

«Associação Araújo Porto Alegre» in Correio do Povo. Caderno de Sábado. Volume XCVI, ano VIII no 596, 29.12.1979, pp. 8/10.

«Centenário de Araújo Porto Alegre» in Correio do Povo. Caderno de Sábado. Volume XCVI, ano VIII, no 596 em 29.12.1979 . 16 p

XAVIER, Paulo. «Ascendência Brasileira de Araújo Porto Alegre» in Correio do Povo. Caderno de Sábado . Volume XCVI , ano VII , n o 596, em 29.12.1979 . 16 p

Procurar também


Estatutos da Associação Araújo Porto Alegre disponíveis no Serviço de Registro Civil das Pessoas Jurídicas de Porto Alegre, inscritos sob nº 50.022 no Livro A, nº 4 do Protocolo em 02 de abril de 1947.






[1] CAMINHADA de FERNANDO CORONA. Tomo II 1945/49-1953. um homem como qualquer: renascer em um lugar e renascer em outro Tomo II 220 f.Folhas de arquivo: 210 mm X 149 mm. Copiado no Arquivo GEDA Faculdade de Arquitetura. UFRGS ( 2 )

EUROPA 1952 : notas de viagem ; 1o caderno 195 p.Porto Alegre 16.01. 1952 – Veneza 09.04.1952.Folhas de caderno xadrez: 210 mm X 149 mm. Copiado no Arquivo GEDAB Faculdade de Arquitetura. UFRGS ( 5 )

EUROPA 1952: notas de viagem 2o caderno 205 p. Roma 11.04.1952 - Porto Alegre 29.07.1952 Folhas de caderno xadrez: 210 mm X 149 mm. Copiado no Arquivo GEDAB Faculdade de Arquitetura. UFRGS

[2] - O autor deve este acesso ao acervo de Carlos Maximiliano Fayet, graças ao seu discípulo de arquiteto Cícero Alvarez,

Cicero Alvarez – Arquiteto e Urbanista, mestre em arquitetura pela UFRGS, ministra as disciplinas de Maquete, de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo e de Projeto de Arquitetura e Urbanismo.

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4763994U7

[5] - Carlos Scarinci escreveu (1980, p.8, col.1) Os objetivos da nova entidade não podem ser definidos como uma tomada de posição de classe, mas sua criação coincide quase com a transformação da Associação Paulista de Belas Artes em Sindicato dos artistas políticos(1937) que coincide também com as orientações sindicalistas do Estado Novo recentemente implantado”.

[6] Ver http://www.ciriosimon.pro.br/aca/aca.html ORIGENS do INSTITUTO de ARTES da UFRGS nas fl.s 417 a 422

[7] - SCARINCI, Carlos «Da Francisco Lisboa ao Pseudo-Salão Moderno de 1942» in Correio do Povo, Caderno de Sábado, Volume CVI, Ano VIII, no 606, 08.03.1980, pp 8/9.

[8] - Houve, já em 1945, uma promessa do governo do Estado de uma sede para a Chico Lisboa, o que não se concretizou., conforme Scarinci, (1982, p. 111)

[9] - Em relação a Pedro Weingärtner veja neste bolg :http://profciriosimon.blogspot.com/2010/04/weingartner-e-escola-de-artes-01_16.html e

[10] - Atas da SOCIBA Sociedade de Cultura do Instituto de Belas Artes (22/04/1953 – 1958) SOCIBA: Programas e estatutos - 1953 - 1958

[11] - Entrevista informal com o autor, em 17.12. 2001, com Iara de Mattos Rodrigues que estagiou na Escolinha de Artes do Rio de Janeiro de Augusto Rodrigues, financiada pela Associação de Ex Alunos do IBA-RS.

[12] - Além dos diversos textos pedagógicos produzidos por Iara Mattos Rodrigues, para conhecer os vínculos institucionais da Escolinha de Arte, mantida pela Associação Cultural dos Ex-Alunos do Instituto de Artes da UFRGS, pode-se compulsar o processo dirigido ao Reitor Tuiskon Dick e que recebeu o n.o 23078.028061/91-44 no Protocolo Geral da UFRGS no dia 24.06.1991 as 11h24min.


[13] - Para a presente tese, as opiniões de Lebreton (Joachin Le Breton, 1760-1819), podem ser apontadas como de um típico agente institucional amador de Artes Plásticas, pois são contraditórias, mas refletem o momento histórico da Revolução Francesa. Homem de origem humilde, abandonou a carreira de clérigo e como humanista engajou se, em Paris, nos desdobramentos políticos e administrativos e culturais da Revolução. Atingiu a posição de Secretário Perpétua do Instituto de França, onde entrou em conflito com Louis David que o repudiava por não ser artista. Na organização do Louvre recebeu os troféus de arte das conquistas de Napoleão, caindo em desgraça depois de Waterloo. Veio ao Brasil por indicação de Humboldt, trazendo além, de um moinho completo, uma série de quadros que deveriam formar a pinacoteca para a Academia. Ver Bittencourt, 1967 pp. 13-23

[14] - Vieram na Missão Artística Francesa: “o professor de mecânica François Ovide, o mestre em construção naval Jean-Baptiste Level, o mestre ferreiro Nicolas Magliori Enot, os carpinteiros e fabricantes de carros Louis-Joseph Roy e seu filho Hippolyte Roy, os curtidores de peles Fabre e Pilité, os especialistas em estereotomia Charles-Henri Lavsseur e Louis Symphorien Meunié e o gravador Charles - Simon Pradier”. Denis, 1997, p. 195

[15] - MORALES de los Rios Filho, 1938, pp. 252/3.


[16] - Peter Gay escreveu (2001, p.84) "as associações privadas de artes que surgiram por volta de 1800 em vários países e se multiplicaram no século XIX - em 1896 havia noventa dessas associações, com cerca de 100 mil membros por toda a Alemanha - participavam do empreendimento didático com exposições e leilões"

[17] - Entre as formas para associar artistas é possível incluir o espaço virtual http://www.artistasgauchos.com.br/

[18] Lei n° 173, de 10 de setembro de 1893 Regula a organisação das associações que se fundarem para fins religiosos, Moraes, scientificos, artísticos, políticos ou de simples recreio, nos termos do art. 72, § 3º, da Constituição. [ de 1891]

Clique sobre Lei 173, de 10 de setembro de 1893.. arisp.files.wordpress.com/2008/01/lei-173-de-10-de-setembro-de-1893.pdf

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