quarta-feira, 23 de junho de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE – 05.b

PORTO ALEGRE e a ARTE de ADRIANO PITTANTI.


Fig. 01 – Adriano PITTANTI [ao centro da foto] recebe o Cônsul da Itália em sua residência em Hamburgo Velho. - c.1914.



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O olhar do “estrangeiro confere-lhe uma autoridade neutral. No campo estético é possível apropriar esta percepção e juízo que o nativo possui deste ser estranho à sua cultura. A leitura da obra do sociólogo e teórico Georg Simmel (1858-1918) [1] pode ser transferida para a visão e a mentalidade do artista estrangeiro que visitou, ou se radicou em Porto Alegre. Este olhar renovador do estrangeiro permite romper a endogenia estética que fatalmente tomam conta de uma cultura que se fecha sobre si mesma e se reproduz com os genes e os olhares de indiferenciação que tomam conta dos nativos.


Entre os muitos decoradores, retratistas, escultores, arquitetos, atores, cenógrafos e músicos estrangeiros que buscavam a praça de Porto Alegre devido ao comércio e da era industrial encontra-se o empresário e escultor Adriano Pittanti (1837-1917). Ele precedeu a imigração oficial italiana de 1875 e constitui, por extensão, um dos “italianos da esquina” na afirmação da Drª Núncia Santoro Constantino[2]. Depois de participar ativamente e ser ferido na campanha de Giuseppe Garibaldi da unificação da Itália e aconselhado por este líder ele se estabeleceu em Porto Alegre.





Athos Damasceno descreveu (1971, p.160) Adriano PITTANTI:
“Fora na sua pátria ardoroso seguidor das doutrinas políticas de Mazzini e, aderindo ao movimento denominado Giovane Itália, fez em 1867, com as tropas garibaldinas, a famosa campanha que visava a posse dos Estados Pontifícios e de cuja aventura, encerrada com o desastre de Montana, sairia ferido. Preso e mais tarde incluído no rol dos conspiradores anarquistas, passou a respirar muito mal no país, de onde à época numerosos compatriotas seus tardaram de fugir, tais eram as perseguições e riscos a que estavam expostos. Seguindo-lhes o exemplo, a conselho de Garibaldi, Pittanti demandou a América, tendo chegado à Província em fins de 1868. Guardaria desses lances da mocidade recordações duradouras. Conta-nos o jornalista Túlio De Rose que em 1907, menino ainda e ao ensejo de festividade cívica então levada a efeito no Consulado Italiano de Porto Alegre, teve ocasião de vê-lo, muito aprumado, envergando velho fardamento garibaldino, em cuja jaqueta ostentava douradas condecorações guarnecidas de fitas coloridas e dentre as quais se viam ainda, embora apagadas pelo tempo, as gloriosa manchas de sangue do ferimento recebido em combate”.




[1] - http://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Simmel

SIMMEL, Georg 1858-1918 – Questões fundamentais da sociologia, indivíduo e sociedade, Rio de Janeiro : Zahar, 2006, 119 p.

http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090530074734AAGiRqb


Foto de Círio SIMON

Fig. 02 – Conde de Porto Alegre – Obra de Adriano PITTANTI.

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A obra mais conhecida de Pittanti é a primeira escultura publica de Porto Alegre. Damasceno a descreve (1971, p.164)

“Estimava o seu ofício e tinha orgulho das obras que executavam no seu atelier. De uma delas, contudo, se ufanava justificadamente, citando-a, com frequência e onde quer que estivesse: - a estátua do Conde de Porto Alegre, aliás o mais antigo monumento público da Província, pois data de dezembro de 1884, tendo sido erigida a princípio num dos ângulos da Praça da Matriz, parte fronteira ao Palácio do Governo, e removida posteriormente para a Praça do Portão que hoje tem o nome do ilustre cabo de guerra”.


in ALVES, 2004 p.14.

Fig. 03 – Estátua do Conde Porto Alegre, na Praça da Matriz.

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Pittanti percorreu o Rio Grande do Sul na busca de mármores adequados à sua arte acreditando nas possibilidades de encontrar mármores e pedras no estado adotivo. Na pista de outros que o precederam, encontrou-os em abundância e variedade nos município de Caçapava e de Encruzilhada do Sul. Com eles a sua oficina, inicialmente montada na Rua Vigário José Inácio e depois na Rua da Praia, produzia monumentos e ornamentos e peças utilitárias tanto para o espaço publico como para residências particulares. Disto deu testemunho em sucessivas exposições em Porto Alegre e que ocorreram após a Guerra do Paraguai


Foto de Círio SIMON

Fig. 4 – Túmulos do irmãos Pittanti no cemitério publico de Hamburgo Velho - RS.

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O \ntigo anarquista não ficou indiferente aos apelos comerciais que a arte cemiterial provocava na época que precedeu e passou pela qual a Belle Epoque tentava transformar o tabu da morte em totem para os vivos. Neste ofício escolheu o município de Novo Hamburgo mais especificamente Hamburgo Velho. No cemitério Maçônico desta localidade ele irá erguer o seu próprio túmulo

.

Foto de Círio SIMON

Fig. 5 – Lápide do Túmulo de Pittanti no cemitério publico de Hamburgo Velho - RS.

"OS FELIZARDOS FRANCISCO MEYERHEFER [1833-1877]

ADRIANO [1837-1917] E JULIA [1837-1921] PITTANTI

ESTÃO A ESPERA DI TUTTI QUANTI”


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Nele o carbonário, entrado na idade, deu livre vazão a todas as suas energias anárquicas e provocativas que haviam marcado os tempos da sua juventude.

Foto de Círio SIMON

Fig. 6 – Lápide do Túmulo de Pittanti no cemitério publico de Hamburgo Velho - RS.

ORAE PARA VÓS”.


Contudo a sua contribuição veio somar-se à imensa herança estética que o imigrante italiano[1] acrescentou à cultura e arte sul-rio-grandense

.

AMPLIE as QUESTÕES AQUI TRATADAS em


ALVES, José Francisco. A Escultura pública de Porto Alegre – história, contexto e significado. Porto Alegre : Artfolio, 2004, 264 p. : il


CONSTANTINO, Núncia Maria Santoro. O italiano da esquina: meridionais na sociedade porto-alegrense e permanência da identidade entre moranenses – Soa Paulo : 1990, 389 f. Tese de Doutorado em História USP Fac. De Filosofia, Letras e Ciências humanas


DAMASCENO. Athos. Artes plásticas no Rio Grande do Sul (1755-1900). Porto Alegre : Globo, 1971, 520 p


SIMMEL Georg Sociología: estudios sobre las formas de socialización. Madrid : Alianza, 1986, 2vol


domingo, 20 de junho de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE – 05

PORTO ALEGRE DERRUBA o seu PELOURINHO COLONIAL.




O Estado brasileiro iniciou oficialmente no dia 07 de setembro de 1822. A soberania teve como consequência visível a derrubada do pelourinho lusitano e a invisível prolongou-se na lenta e tumultuada troca da mentalidade da heteronomia colonial de longa tradição.


Na arte significou a troca da estética barroca pelo neo-clássico ao modelo dos artistas de Napoleão Bonaparte que iniciaram no Corte, em 1816, esta nova estética e no bojo de uma política de um projeto civilizatório compensador das inerentes ao puro poder.


Porto Alegre havia sido elevada à vila em 1810. Em consequência recebeu o seu pelourinho como domínio luso. Não existe registro ou documento da derrubada deste pelourinho luso[1] em consequência do 07 de setembro de 1822. Mas Dom Pedro I conferiu o título de cidade brasileira no dia 04 de dezembro de 1822.


O pelourinho - como sinal da autoridade colonial, lugar da exibição publica da legislação e das aplicações publicas da penas impostas pela justiça - havia sido erguido frente à atual Igreja das Dores. A Igreja das Dores recebera, em 02 de fevereiro de 1807, a sua pedra fundamental na colina frontal à rua da Praia. As obras iniciaram em 1809. Quarenta anos depois a sua decoração interna foi confiada ao toreuta português João Couto e Silva[2]. Esta obra recebeu as suas torres de 35m de altura, em 1900, na tipologia neo-gótica que lhe conferiu Júlio Weis. A fachada recebeu elementos na tipologia neo-clássicista graças às oficinas de João Vicente Friederichs[3].


A Abertura dos Portos e as diversas missões cientificas e artísticas européias na corte do Rio de Janeiro também percorreram o território brasileiro. O detalhado registro destas expedições temos os depoimentos escritos de Augusto Saint-Hilaire e os desenhos de Jean Baptiste Debret[4] em relação ao Rio Grande do Sul e Porto Alegre em particular.


A obra e a personalidade do mestre francês Debret polarizou a atenção do jovem Manuel José de Araújo que tinha feito de Porto Alegre um lugar de aprendizagem de múltiplas disciplinas ali cultivadas. Ele havia nascido em 29 de novembro de 1806 em Rio Pardo. Entre as múltiplas disciplinas e trabalhos que encontrou em Porto Alegre estavam o de relojoeiro, francês, Latim e especial desenho e pintura com os mestres Gondet, Manoel Gentil e João de Deus





[1] - Há uma sintética e hipotética conjectura da derrubada do pelourinho na cidade da Natal – RN na versão de Câmara Cascudo em http://www.tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_5h.htm . Mesmo o conhecido Pelourinho de Alcântara, Maranhão, foi redescoberto por indicação de uma escrava e remontado na praça da Matriz. http://www.cidadeshistoricas.art.br/alcantara/al_mon_p.php


[4] - http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Debret Não existe certeza em relação a presença física de Jean Baptiste Debret no Rio Grande do Sul. Mas os três volumes, que constam no espaço digital da Coleção Brasiliana, trazem imagens recorrentes do conhecimento direto ou indireto que este pintor da Missão Artística Francesa de 1816.


http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/624510001?show=full




O auto-retrato do jovem de 17 anos Manuel José Araújo[1] – Pitangueira – Porto-alegre[2] é índice da nova estética que permite o retrato do cidadão individual. Outro fato a notar é que esta obra é anterior à popularização da fotografia. Obra realizada em Porto Alegre e quatro anos de ir, no dia 27 de janeiro de 1827, ao Rio De Janeiro para estudar com Jean Baptista Debret. Quando este mestre retorna à França em 1831 o discípulo o acompanha. Ali entra em contato com François o irmão de Debret que constrói teatros pela Europa afora. Neste meio tempo entrou em contato com a poesia romântica e editou em Paris, em 1836. a revista Nitheroy[3]. No ano seguinte está de volta à Rio Pardo onde resgata a sua mãe do meio da Revolução Farroupilha e a leva consigo ao Rio de Janeiro. Novamente na corte trabalha como professor de Geometria no Colégio Militar, como arquiteto, pintor, poeta[4], critico de arte, escultor decorador, teatrólogo. Nomeado diretor da Imperial Academia de Belas Artes[5] consegue a sua reforma através do Decreto Luis Pedreira[6]. Como memorialista conseguiu que o deputado mineiro Rodrigo Ferreira Bretas[7] escreva uma primeira biografia de Aleijadinho.


Desgostoso com a falta de autonomia da Imperial Academia recebeu o cargo de Cônsul em Portugal onde faleceu em Lisboa no dia 29 de dezembro de 1879. O
Império o distinguiu, em 1874, com o título de Barão de Santo Ângelo.




[1] Enciclopédia Rio-Grandense– O Rio Grande Antigo (2ª ed). Prto Alegre : Livraria Sulina 1968 2º vol, p. 89b

[2] - Segue-se a grafia com que Manuel José Araújo assinava. O seu nome gentílico que adotou depois deixar o apeldi brasilianista PITANGUEIRA que havia adotado.

[3] NITHEROY REVISTA BRASILIENSE. SCIENCIAS, LETTRAS, E ARTES. Todo pelo Brasil, c para o Brasil – Paris IMPRIMERIE DE BEAULE ET JUBIN, Rue tlu Monceau-Sai-nt-Gervaia, 8, Tomo primeiro N° 2. ano . 1836

Ver fac-símile em http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/03512820?show=full

[4] - Na Literatura sua obra prima é o poema Colombo

[5] - Foi nomeado diretor da AIBA no dia 22 de abril de 1854 e renunciou no dia 03.10.1857. Morales de los Rios Filho, 1938 p. 234


Se em Porto Alegre foi deflagrada a Revolução Farroupilha[1] em 20 de setembro de 1835, ela foi reconquistada pelos Imperiais, cercada de muro e sendo atacada constantemente. Feitas as pazes e as forças unidas marcharam para o Paraguai. Na medida em que em Porto Alegre adensava a sua população, brotavam as idéias e a mentalidade republicana




[1] - VILARES, Alfredo Augusto Varela de Guerra civil no Brasil Meridional (1835-1845) Porto Alegre : EdiPUCRS, 2008, 303 p.



O período, entre as guerras Farroupilha e do Paraguai, foi uma época de grande efervescência cultural em Porto Alegre. Ela recebia os refluxos da 1ª industrialização européia. De um lado recebia as sobras de mão de obra agrícola. O Império trouxe os imigrantes europeus para o Sul do Brasil onde eles tinham como se aclimatar melhor do que nas condições do Espírito Santo, Friburgo e nos cafezais paulista onde foram confundidos pelo estatuto da escravidão. De outro lado o fluxo dos produtos industriais necessitou a construção de Mercado Público em 1844. O comércio e incipiente
indústria fazem com que Pomatelli abra, em 11 de dezembro de 1849, a “Litografia do Comércio”
[1]. Zelony instalou, em 1859, o seu atelier fotográfico em Rio Grande. No mesmo ano Gustav Normann iniciou a primeira aula prática e coletiva de Desenho no Liceu Dom Afonso.



Muitos decoradores, retratistas, escultores, arquitetos, atores, cenógrafos e músicos buscavam a praça de Porto Alegre devido ao comércio e da era industrial. Com isto prosperou uma navegação mais regular e ao poucos movida à vapor. O escultor Adriano Pittanti é deles que estará aqui em 1869 e a conselho de Giuseppe Garibaldi.




[1] - http://www.margs.rs.gov.br/ndpa_sele_alitografia.php


Em 1858 foi inaugurado o prédio do Theatro São Pedro. Ele havia sido iniciado em 1833, foi paralisado durante Revolução Farroupilha. O Duque de Caxias havia estimulado a sua conclusão no dia 08 de dezembro de 1847. A Igreja da Conceição[1] é outra construção desta época cuja pedra fundamental havia sido lançada no em 08 de dezembro de 1851 e foi concluída em 08 de dezembro de 1858. A sua forma externa seguiu a tipologia neo-clássica das igrejas Matriz e do Rosário. O seu interior é obra que segue ainda as tipologias tardias da arte barroca e realizada pelo toreuta lusitano João Couto e Silva. Antes disso havia realizado obra semelhante no interior de Igreja das Dores. Infelizmente não existem traços conhecidos de sua obra civil realizada no interior dos palacetes e sobrados de Porto Alegre. Ele faleceu no dia 04 de outubro de 1883.




[1] - DAMASCENO, 1971, p. 5759


Um pintor de renome internacional é Eduardo De Martino[1] autor de marinhas e quadros batalhas navais. Ele esteve em Porto Alegre, em 1868, mostrando suas obras colhidas no cenário da Guerra do Paraguai.


A era industrial teve os seus primeiros albores por meio da imprensa. Os numerosos jornais, aparecidos em Porto Alegre, foram sementeiras para escritores de todas as tendências e fôlegos. Joaquim Campos de Leão, o “Qorpo Santo” montou sua própria tipografia para editar, em 1877, a 2ª edição da sua “Ensiqlopedia”. Antes, entre janeiro e julho de 1866, havia escrito as suas comédias e dramas.


O “Partenon Literário” foi um movimento social, político e cultural fundado em 18 de junho de 1868. Esteve sob a direção do Dr Caldre e Fião (1821-1876) e a sua revista foi editado por Hipólito Porto Alegre.


Na medida que as fontes perdiam a sua função - devido às primeiras hidráulicas industriais - elas começaram a migrar para formas de arte a céu aberto. Um deles foi edificado em 1856 na rua do Arvoredo (atual rua Fernando Machado). Dez anos depois foi instalado, na atual Praça XV de Novembro, o requintado chafariz vindo da indústria de ferro francesa[2]. Hoje ele está no Parque Farroupilha atrás do Auditório Araújo Vianna.



A fonte dos Cinco Rios, formadores do Guaíba, estava inicialmente na Praça da Matriz. Foi removida de lá para dar ao Monumento a Júlio de Castilhos e localiza-se hoje na Praça Dom Sebastião.



HISTÓRIA da PRAÇA da MATRIZ conferir


http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:SpgmJX16KJ0J:www.ufrgs.br/propar/publicacoes/ARQtextos/PDFs_revista_0/0_Andrea.pdf+Arquiteto+Gustavo+Normann+Porto+Alegre&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESgvn7D4vG2vbh4X-3EgKgo0-6JFC5kqDObqYlSMJWG_AGsw5Y3q61LUQI-nFoaKxHcrBriaRnUf6YQcKIlJRpmbRW0hdEV0FJ4XDmn7DOma6-imqq3W8rI-lFIX2bdM0gxVP5vk&sig=AHIEtbSVMpNnS-ja1LijkurGwO3gBjl_-A



MANUEL ARAÙJO PORTO-ALEGRE – Barão de Santo Ângelo conferir:

- «Centenário de Araújo Porto Alegre» in Correio do Povo. Caderno de Sábado. Volume XCVI, ano VIII, no 596 em 29.12.1979 . 16 p .

CADERNOS de Artes 1 - Porto Alegre : Instituto de Artes da UFRGS Jun 1980.

(Dedicado integralmente a Manuel Araújo Porto Alegre)





[2] ALVES, José Francisco. Fontes d’Art no/au Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Artfolio, 2009, 210 p. : il

domingo, 13 de junho de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE – 04

PORTO ALEGRE a CIDADE AÇORIANA .e a sua ARTE .


A vila, e depois cidade de Porto Alegre, era o centro da afluência das famílias e dos donos de fazendas que se empenhavam na conquista lusitana do território sul-rio-grandense. Esta afluência de fora para dentro era uma urbanização distinta daquelas do Nordeste, onde esta fluência vinha da cidade para o campo. O processo da urbanização vinda do campo pode ser constatado na maioria das atuais cidades do Rio Grande do Sul. A grande distinção - que confirma a regra - foi a fundação oficial da Colônia do Sacramento (1680) e o assentamento efetivo da cidade de Rio Grande (1737).


Porto Alegre só viria a ser capital do Continente do Rio Grande do Sul, em 1772, depois desta ser experimentada em Rio Grande em Viamão (1763) e Rio Pardo. O “Porto do Ornellas”[1], nunca foi atacado militar e formalmente pelos espanhóis. Com estas características tornou-se progressivamente um ponto logístico para a Coroa Lusa ocupar o território que lhe concedera, em 1750, o Tratado de Madrid. Para povoar este vasto território do Continente de São Pedro do Rio Grande do Sul, a corte portuguesa estimulou a imigração vinda das ilhas dos Açores[2].


Os açorianos fizeram de Porto Alegre um ponto de apoio decisivo e estratégico na ocupação desta região em permanente conflito. Com estes imigrantes, Porto Alegre tornou-se, ao longo da 2ª metade do século XVIII e 1ª metade do XIX, uma cidade com as feições e o modo de vida dos açorianos.





Os açorianos impulsionaram a agricultura de subsistência para a qual os nativos tinham pouca experiência, tempo e gosto. Os novos chegados possuíam padrões de homens sedentários e de agricultores. Acostumados às pequenas ilhas de origem modelaram à estas condições as suas habitações, artesanato, diversões, alimentação, agricultura e pecuária. Contudo diante deles estendia-se, contraditoriamente, um continente que não cabiam nas suas medidas e limites mentais. Neste continente começam a plantar o trigo que é moído nas suas azenhas e moinhos de vento.

Se eles projetavam uma cidade de dependência agrícola, ao modelo de suas cidades de origem, a política local mudou quando, em 1763, o governador teve de estabelecer em Viamão a capital do território concedido, em 1750, pelo Tratado de Madrid[1]. Este deu-se por que os espanhóis voltaram contra este tratado, invadiram e tomaram a capital Rio Grande. O governador luso, em vez de fugir pelo mar, refugiou-se no interior do continente para resistir aos soldados de Castela




O governador Dom José Marcelino Figueiredo- futuro marechal de campo luso Manuel Jorge Gomes Sepúlveda (1735-1814)[1] empregou todas as suas energias para mudar esta capital para perto das águas do Guaiba. Para tanto mandou cercar com uma paliçada o topo da pequena localidade açoriana. A vida açoriana concentrava-se os seus interesses ao redor e fluía pela Rua da Praia - do lado contrário do antigo “Porto do Ornelas”. Esta paliçada possuía uma saída [Praça do Portão] para as estradas do Mato Grosso (atual Av. Bento Gonçalves), Caminho do Meio (atual Av. Protásio Alves) e o Caminho Novo. Este Caminho Novo (atual Av. Voluntários) ladeava depois o Guaíba em direção à Aldeias dos Anjos ( Gravataí).





[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Marcelino_de_Figueiredo

http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=350



Dom Sepúlveda conseguiu do Bispo de Desterro ( Florianópolis) em 1772 a denominação para este local de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre. A Paróquia foi criada, com esta invocação, no dia 18 de janeiro de 1773. O Governador transportou, em 25 de julho de 1773, para este local todas as autoridades da capital que
estavam em Viamão. Neste mesmo ano esta freguesia capital ganhou o seu plano de urbanização das mãos do engenheiro militar Alexandre José Montanha
[1]. Nesta urbanização a rua da Igreja (atual Duque de Caxias) e a Praça da Matriz (Praça MarechalDeodoro) alinham-se os prédio do Palácio do Governo, da Câmara[2] e da Igreja da Matriz.


A rua do Comércio (atual Rua Uruguai) abrigava a população açoriana mais densa. Ela ganhou, em 1794, a Casa das Comédias a primeira casa teatral. Depois da sua Reforma, em 1804, recebeu o nome de Casa da Ópera e era arrendada pelo Pe. Amaro S. Machado As sessões deste local eram animadas por Maria Benedita Montenegro.


Nas artes é necessário notar a ausência de qualquer retrato individual que não fosse autoridade máxima, bispo ou provedor de santa Casa. As residências individuais estavam privadas de qualquer conforto ou luxo ou ostentação. Este poderia ocorrer na Metrópole ou então nas igrejas e irmandades. Ali os altares, trabalhados pela torêutica, povoaram-se de uma rica imaginária pintada ou esculpida.


Estes fatos locais ocorreram ao longo da política lusitana do Marquês de Pombal e no contexto do auge do Iluminismo europeu. Em Portugal este período é conhecido esteticamente com Dom José I.


No panorama americano estava em andamento a Revolução norte-americana. No Brasil estavam sendo plantadas as sementes das Academias de Letras que foram algumas frágeis expressões da Inconfidência Mineira brutalmente reprimida pelas forças reacionárias que se acumulavam debaixo do manto de Dona Maria I de Portugal[3]. A fuga da corte lusitana ao Brasil escancarou os interesses, a cultura e a presença inglesa sob cuja proteção se deu esta fuga.




[1] - http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Jos%C3%A9_Montanha


[3] -Veja o texto do Alvará de Dona Maria I de Portugal que proibiu em 05 de janeiro de 1785, as atividades industriais no Brasil http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=978&sid=107&tpl=printerview d


A derrubada dos pelourinhos marcou a independência e o final da heteronomia da Colônia Lusitana. Na Independência a ao longo do período regencial do Império as graves divisões colocaram em confronto os Imperiais e os Farrapos liderados por Bento Gonçalves, Este proclamou a República de Piratiny depois de suas forças haverem tomado Porto Alegre e a perdido.


Aglutinando estes fatos, muitos gostariam fazer desta cidade uma cidade de guerras e de conflitos para explicar como causa única o seu atraso cultural. Athos Damasceno rejeitou poeticamente esta versão ao afirmar (1971, p.449) [1] que:

“certamente, as lutas que tivemos de sustentar desde os tempos recuados da Colônia, na defesa de nosso território e na fixação de suas fronteiras, em muito entorpeceram e retardaram nosso processo cultural. Não, porém, tanto quanto seria natural que ocorresse, uma vez evidenciada historicamente a belicosidade crioula, arrolada por aí, com um abusivo relevo, entre virtudes que nos compõem a fisionomia moral. Nossa história está realmente pontilhada de embates sangrentos. Mas lutas e guerras não foram desencadeadas por nós, senão que tivemos de arrostá-las compelidos pelas circunstâncias. Nunca deixamos de ser um povo amante da paz. E, em nossos anseios de construção, sempre desejosos dela. Tropelias e bravatas de certos gaúchos em disponibilidade forçada, não têm o menor lastro Histórico: pertencem aos domínios da anedota que os próprios rio-grandenses exploram, com malícia, para a desmoralização daqueles que o fazem, com malignidade”.


Mas esta explicação dada pelos “rio-grandenses em disponibilidade” esconde as causas mais profundas e primárias deste atraso. Uma delas é a origem cultural do imigrante que aportou aqui em grande penúria. Se não vieram forçados, na simples condição oficial e aviltante de escravos, ou então como sobra rural dos povos europeus que estavam entrando na era industrial.



[1] - DAMASCENO, Athos. Artes plásticas no Rio Grande do Sul (1755-1900) Porto Alegre : Globo, 1971. 540p.



Nova infra-estrutura em grande parte alavancado no ouro brasileiro que o lusitano devia às outras nações como consequência de tratados equivocados como o de Methuen[1] de 27.12.1703.


Hippólytho José da Costa, um filho da Colônia do Sacramento, sustentou a visão do mundo inglesa pelo seu “Correio Braziliense[2] de 01.06.1808 até 01.12.1822. O Diário de Porto Alegre foi, em 01 de junho de 1827, o primeiro jornal local[3]. Ele teve 292 números impressos e durou até 1828.


A origem étnica dos açorianos é diferente do luso, pois seus antepassados são do Flandres medieval. Os seus hábitos são profundamente moldados pelo trabalho, pelo lar e pela religião pré-tredentina[4]. As suas igrejas são pequenas cavernas escuras em plena luz solar. O lar resume-se a pequenas casas “cachorro sentado”[5] enfileiradas em alinhamentos democráticos formando estreitas vielas. O trabalho voltou-se ao seu alqueire rural recebido pelo seu contrato de imigração e tratado carinhosamente, Este trabalho rural dava-lhes um parco sustento e que ia e tornando opção única a medida que se afastavam do litoral e abandonado o habito da pesca marítima cultivada nas sua ilhas de origem.


As suas canções são confidenciais como ainda é possível surpreender nos profundos núcleos que eles constituíram no litoral sul-rio-grandense e nos bairros que forma a Cidade- Baixa de Porto Alegre


A cidade recebeu em 1823 a visita de Auguste Saint Hilaire (1779-1853) que registrou nos seus diários a contraposição do sul-rio-grandesne ao espírito dos mineiros[6].



Veja alguns textos correlatos a este tema.


MUSEU de ARTE do MOSTEIRO da LUZ - Apresentação de Carlos Antich -Intr. Pe. Antonio de Oliveira Godinho – Fotos de Gui Von Schmidt São Paulo : Artes . 1987, 180 p. il


VALLADARES, José Gisella – As Artes Plásticas no Brasil – Prataria. Rio de Janeiro : Tecnoprint, 1968, 208 p. il

TAQUARI e os AÇORIANOS

http://www.taquari-rs.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=48&Itemid=37


VILARES, Alfredo Augusto Varela de Guerra civil no Brasil Meridional (1835-1845) Porto Alegre : EdiPUCRS, 2008, 303 p.

Leia mais em relação ao historiador Alfredo Augusto VARELA de VILARES em:.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfredo_Augusto_Varela_de_Vilares




[5] - Ler poesia da Mário Quintana sobre “casa cachorro sentado” em seer.ufrgs.br/index.php/NauLiteraria/article/view/5089/2898

[6] - SAINT HILAIRE, Auguste 1779-1853 Aperçu d'un voyage dans l'intérieur du Brésil, la province Cisplatine et les missions dites du Paraguay Correspondant de l’Académie des Sciences. ( Extrait des Mémoires du Muséum d'Histoire Naturelle, 5e. année, t. 9.}, Imprimerie de A. Belin : Paris, l823, 73 p Dedicatória de Saint-Hilaire ao Monsieur L'Abbé Correa

http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search