sábado, 8 de maio de 2010

NIEMEYER em PORTO ALEGRE 04

LIÇÕES aos JOVENS ARQUITETOS e URBANISTAS

Oscar Niemeyer disse uma vez, dirigindo-se à mocidade que aqui o cercava: “Sejam idealistas. É preciso apertar o cinto e trabalhar bem. O dinheiro é um acidente que virá depois. Só assim se pode fazer boa arquitetura”.


Foto de Flávio DAMM da: Revista do Globo, fascículo nº 482, 14.05.1949, p. 45

Fig. 01 – Oscar Niemeyer com estudantes de Arquitetura e Urbanismo do IBA-RS


Fernando Corona foi um dos orientadores da Associação Araújo Porto Alegre (AAPA). Ele acompanhou e monitorou a viagem de estudos aos estados da Bahia e de Minas Gerias.

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Fig. 02 – Fernando Corona e Dorothea Vergara em Congonhas 1948

ESCULTURAS dos ALUNOS do INSTITUTO de BELAS ARTESÁlbum no 1 contém fotos e escritos de 1938 até 1956

99 folhas de arquivo: 297 mm X 210 mm com 332 fotos coladas Livros raros da Biblioteca do Instituto de Artes da UFRGS


No seu diário[1], nas folhas 4 até 9, Fernando Corona (1895-1979) registrou, em 1975, a vinda de Oscar Niemeyer a Porto Alegre da seguinte forma,



Desde o momento que três engenheiros terminaram o Curso de Urbanismo do Instituto de Belas Artes, eles e o Diretor da Escola Tasso Corrêa estiveram em contato com o arquiteto Oscar Niemeyer, na ocasião, em São Paulo. Numa carta enviada prometeu vir, terminadas as férias de verão. Como não viajasse de avião, sua vinda a Porto Alegre foi pelo mês de abril e de uma maneira curiosa, que aqui contarei.



Meu filho Eduardo[2] andava em São Paulo acompanhando Oscar por toda parte. Aquele compromisso de vir paraninfar a turma de urbanistas o preocupava e certo dia Oscar disse ao Eduardo: - Corona, vamos a uma Empresa de Transportes ver
quanto custa uma viagem de ida e volta a Porto Alegre de táxi. – Vamos os três, você, minha mulher e eu. – Que tal? A timidez do famoso artista é sua mais nítida característica. A verdade é contrataram o táxi (é claro e evidente que seria pago pelo IBA) e por aquelas estradas de terra aqui chegaram.


Por recortes de jornais que guardo posso escrever, confirmando, sobre a primeira visita de Oscar Niemeyer a Porto Alegre. Nunca tinha vindo, embora enviasses um projeto de edifício encomendado pela Previdência do Estado, projeto para a esquina da Av. Borges de Medeiros e rua General Andrade Neves. Seria curioso fazer constar que não fora construído. A prefeitura da capital, ou mais precisão o diretor de Obras Eng. Paulo Aragão Bozzano, o recusou, alegando que iria desentoar das demais construções ao lado.




[1] - FERNANDO CORONA.«Caminhada – Tomo 2o – um homem como outro qualquer – nascer em um lugra e renascer em outro». “Começo a escrever este tomo II na noite do dia 28 de maio de 1975, trinta e oito da minha chegada a Porto Alegre que correspondo da minha chegada a Porto Alegre a 1949”.


Fig. 03 – O pavilhão “Mata Borrão” no lugar do prédio do IPE


Era essa, infelizmente, a mentalidade oficial da nossa capital, mentalidade acanhada, provinciana, por não dizer ignorante. A nossa cidade perdeu um edifício projetado por um dos mais afamados arquitetos do mundo.


Em noite memorável, sem poder apontar a data de abril, os três pioneiros em urbanismo do Brasil, colaram grau. O auditório Tasso Corrêa esteve totalmente ocupado por gente interessada. Tasso abriu a sessão estando a Congregação do Curso acompanhando a cerimônia em volta da mesa, onde eu inclusive me incluía.


Creio que foi Francisco Riopardense de Macedo quem falou pela turma e o paraninfo Oscar Niemeyer, pouco falou e quase ninguém ouviu o que dizia. É tão tímido que fala para dentro e baixinho. O que mais importava era sua presença.


http://www6.ufrgs.br/artes/arquivo/galerias/displayimage.php?album=13&pos=77

Fig. 04 – Conferência de Oscar Niemeyer no IBA-RS

CLIQUE sobre a FIGURA para AMPLIÁ_LA.



Oscar fez duas conferências com diapositivos que Eduardo ia passando. Mostrava assim sua obra na Pampulha e o Ministério da Educação no Rio, assim como algumas residências por ele projetadas.


Falou a imprensa e em entrevista ao “Correio do Povo” disse entre outras coisas ou, entre outras coisas, disse: “Foi uma entrevista muito sumária, que aqui fica reproduzida pela forma exata em que foi obtida, com perguntas e respostas feitas a queima roupa, no “Hall” do Preto Hotel.


- Qual é a posição da moderna Arquitetura brasileira em relação ao que se faz sobre a mesma matéria em escala mundial?


- A arquitetura contemporânea superou no Brasil o período de funcionalismo ortodoxo e apresenta como característica principal a preocupação da forma plástica dentro dos bons princípios arquitetônicos, isto é, a forma em função da nova técnica e dos novos processos construtivos.


- O que observou na Arquitetura de Porto Alegre, do ponto de vista moderno?


- A não ser dois prédios projetados pelo arquiteto Fernando Corona ( só estive no centro da cidade) confesso que nada vi de Arquitetura contemporânea em Porto Alegre. Isso é lamentável, uma vez que nos principais Estados brasileiros a nova Arquitetura está vitoriosa (Rio, Minas, São Paulo e agora Bahia)


- Será executado o projeto de sua autoria feito para o Instituto de Previdência do Estado?


- Parece-me que o projeto que fiz tempos atrás para o Instituto de Previdência do Estado, não será realizado, não tendo mesmo satisfeito o diretor de obras da Prefeitura de Porto Alegre. Acho tudo isso muito natural, pois trata-se de um
projeto completamente diferente dos tipos acadêmicos e passadistas da preferência daquela repartição.


- Que impressão leva do Instituto de Belas Artes?


Fonte álbum de fotografias da disciplina de maquete do Prof Corona

Fig. 05 – Maquetes, em 1951, das aulas desta disciplina ministrada por Fernando Corona[1].


- O Instituto de Belas Artes surpreendeu-me pela forma idealista e compreensiva com que foi organizado. Trata-se de uma organização exemplar, que muito contribuirá para o desenvolvimento das artes no Rio Grande do Sul.



[1] Fernando Corona foi professor de Maquete do Curso Técnico (1939-1944) e depois no Curso Superior de Arquitetura do IBA-RS. Em 1951 foi último seu ano desta disciplina. Não foi incluído entre os docentes desta disciplina na Faculdade de Arquitetura da UFRGS por não possuir a formação Acadêmica.

Ver CURSO de ARQUITETURA : Cadeira de MODELAGEM. Documentário fotográfico de 1946 – 47 – 48 – 49 – 50 - 51Folhas de arquivo: 297 mm X 210 mm como fotos coladas Livros raros da Biblioteca do Instituto de Artes da UFRGS



Fig. 06 – Oscar Niemeyer no jardim frente a casa de Fernando Corona

SZEKUT Alessandra Rambo Vertentes da Modernidade no Rio Grande do Sul: a obra do arquiteto Luis Fernando Corona. Porto Alegre : UFRGS , 2008, p 22 fig. 11


Convidei Oscar Niemeyer para um bate-papo, ou uma mesa
redonda, onde estariam os acadêmicos de Arquitetura e meus filhos. O local seria na minha casa à rua Dr. Timóteo. Guardo uma foto do encontro, duas aliás. Uma no jardim na frente da casa, outra, ele sentado no meu gabinete onde aparece o busto do meu pai..


Fig. 07 – Oscar Niemeyer na sala da casa de Fernando Corona

SZEKUT Alessandra Rambo Vertentes da Modernidade no Rio Grande do Sul: a obra do arquiteto Luis Fernando Corona. Porto Alegre : UFRGS , 2008, p 22, fig. 12


Oscar Niemeyer disse uma vez, dirigindo-se à mocidade que aqui o cercava: “Sejam idealistas. É preciso apertar o cinto e trabalhar bem. O dinheiro é um acidente que virá depois. Só assim se pode fazer boa arquitetura”.

Com essas palavras de Oscar à mocidade, pareceu repetir à minhas quando afirmo: “O dinheiro é um acidente de caminho”. Primeiro, a consolidação profissional criando um nome honrado e competente. Deixar o barco navegar. Trabalhar com amor e esperar que o barco chegue ao porto seguro. Não colocar o dinheiro na frente, pois ele deixa ser conseqüência e não a essência da ambição.

Terminada a missão entre nós, Oscar Niemeyer e senhora (não lembro o nome) e meu filho Eduardo voltaram a São Paulo no mesmo táxi que vieram”.


Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/6260

Fig. 08 – Vista aérea das Avenidas Salgado Filho e Borges de Medeiros com os prédios do Edifício Jaguaribe, da CRT e o local onde deveria estar o prédio do IPE projetado por Oscar Niemeyer

CLIQUE sobre a FIGURA para AMPLIÁ_LA.



Após esta presença de Oscar Niemeyer ao IBA-RS, Fernando Corona elaborou o projeto do Edifício Jaguaribe[1] junto com o seu filho Luis Fernando Corona (1924-1977)[2] e este projetou o prédio da CRT e face ao terreno que deveria ter o prédio do IPE projetado por Niemeyer.


Ao longo do ano de 1952, Fernando Corona monitorou um grupo seleto da Associação Araújo Porto Alegre (AAPA) na sua viagem de estudos à Europa[3]. Em Paris orientou uma visita e entrevista com Le Corbusier, realizada no dia 05 de março de 1952[4].


Oscar Niemeyer já aprendera, certamente, a lição de Lê Corbusier que escreveu (in Boesiger, 1948, p.10)[5] que as novas geraçõessobem nos nossos ombros sem constrangimento e, sem agradecer o trampolim, jogam-se além para projetar, por sua vez, a idéia mais longe. A geração da juventude, que cercou o arquiteto da Pampulha, e depois de Brasília, na sua vinda a Porto Alegre, em 1949, soube realizar, no mundo prático, mais um passo na direção dos projetos que Niemeyer não pode realizar em Porto Alegre.



Este BLOG recomenda visitas ao:

Blog de CÍRIO JOSÉ SIMON

http://otoneldediogenes.blogspot.com/


Site ARQUIVO do INSTITUTO de ARTES da UFRGS fotos e documentos

www.ufrgs.br/artes/arquivo

http://www6.ufrgs.br/artes/arquivo/icaatom/web/index.php/?sf_culture=pt


Site PINACOTECA do INSTITUTO de ARTES da UFRGS acervo das obras

http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/mastop_publish/


Site REVISTA ELETRÔNICA de ARTES

http://www.latribunedelart.com/spip.php?rubrique1




[1] - Ver BERNARDES Dalton Jaguaribe e Esplanada : edifício de apartamentos modernistas e o nvo paradigma habitacional em Porto Alegre. Porto Alegre : UFRGS e UniRitter, 2003, 212p disponível em http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/6260


SZEKUT Alessandra Rambo Vertentes da Modernidade no Rio Grande do Sul: a obra do arquiteto Luis Fernsndo Coraona. Porto Alegre : UFRGS , 2008, 310 p disponível em http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/18362?show=full

[3] - Fernando Corona para poder realizar esta viagem contou com a ajudo do seu filho Luis Fernando Corona e as economias do seu projeto do Edifício Jaguaribe do seu amigo Romeu Pianca

[4] CORONA, Fernando EUROPA 1952 : notas de viagem ; 1o caderno Porto Alegre 16.01. 1952 – Veneza 09.04.1952. 195 Folhas de caderno xadrez: 210 mm X 149 mm. 441 pp Arquivo GEDAB Faculdade de Arquitetura. UFRGS Visita a Corbusier consular as páginas 059-062

[5] BOESIGER, Willy et STONOROV, O . Le Corbusier et Pierre Jeannearet Œuvre compléte 1910-1929 (5ª ed) Zurich : Erlenbach, 1948, v.1, 214 p.

Um comentário:

  1. Esse período foi muito interessante para a arquitetura porto-alegrense.
    Vejo que hoje, falta muito esse 'idealismo' na arquitetura. A classe profissional se inseriu nas leis de mercado e era isso, funcionam como máquinas de um sistema [que produz muitas aberrações arquitetônicas].
    Fica o exemplo do Corona: soube muito bem ser 'mercadológico',sem transformar sua arquitetura em mera reprodução. Com todos os problemas técnicos e teóricos possíveis, suas obras são riquíssimas e frutos de uma visão única sobre a arquitetura... E sempre muito aberto a novas ideias.

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