terça-feira, 30 de março de 2010

A POLÊMICA sobre o PARQUE TECNOLÓGICO da UFRGS


Fig. 01 – Aldo LOCATELLI (1915-1962) - Mural de Reitoria da UFRGS. 1958. detalhe

BRAMBATTI, Luiz Ernesto,. Locatelli no Brasil. Caxias do Sul : Belas Letras, 2008 , p 135



A polêmica sobre a instituição de um Parque Tecnológico na UFRGS suscita várias questões. A primeira decorre do atraso na apresentação da proposta. Parques Tecnológicos existem há décadas, constituindo uma das facetas da complexa interação entre as universidades e seus entornos numa sociedade cada vez mais movida pelo conhecimento.


Fig. 02 – Aldo LOCATELLI (1915-1962) - Mural de Reitoria da UFRGS. 1958. detalhe

BRAMBATTI, Luiz Ernesto,. Locatelli no Brasil. Caxias do Sul : Belas Letras, 2008 , p 135




Sua existência é motivada não só por iniciativas das universidades como por demandas da
sociedade, particularmente, e por óbvio, dos setores empresariais. Ora, o fato de só agora a UFRGS considerar seriamente esta possibilidade pode indicar duas coisas.


De um lado, um problema que, há anos, a vem corroendo: sua crescente competência acadêmica não é acompanhada por sua vida institucional. Institucionalmente, isto é, do ponto de vista da formulação de políticas acadêmicas – a UFRGS está estagnada. Seus debates internos, a exemplo do mais recente sobre a adoção de cotas para ingresso nos seus cursos, são tentativas de adaptação a orientações oficiais ou oficiosas. Sua vida institucional está quase reduzida a mecanismos – francamente irritantes! – de acompanhamento e controle burocráticos do trabalho docente.



De outro lado, reflete um problema do meio econômico, social e político regional. Não é concebível que as corporações empresariais do estado, bem como seus agentes políticos, a quem cabe desenhar alternativas para a situação de letargia que o vem caracterizando há anos, não reivindiquem claramente de nossa principal universidade formas mais intensas de relacionamento com a sociedade, entre as quais um Parque Tecnológico. As próprias experiências da PUC e da UNISINOS são indicativas da importância de iniciativas neste sentido.



Outra questão suscitada é o conteúdo que parece estar tomando forma no debate junto a setores da universidade contrários à iniciativa da Reitoria. Os argumentos ainda não são muito claros, mas já se distinguem vozes contrapondo o projeto a alegados compromissos sociais da universidade, como se estes, separados da economia e da evolução tecnológica, fossem os únicos capazes de legitimar a função de uma universidade.



Este argumento viceja em nossas instituições de ensino superior, sendo característico do arcaísmo das relações entre universidades e sociedade no Brasil. Ao surgirem nos anos 30 do século passado, elas encontraram um ambiente político hostil à modernidade, um sistema econômico no qual a livre iniciativa era apanágio dos “de cima” e uma sociedade cuja “modernidade” se confundia com sua colonização pelos valores, modos de vida e de consumo dos países avançados. Desprovidas de qualquer meio eficaz de ação sobre este ambiente hostil, é compreensível que as universidades se deixassem levar pela utopia de uma ciência e uma cultura que, idealmente separadas e antagônicas à economia e à política, seriam as portadoras da mensagem redentora para os “de baixo” da sociedade.


É necessário que façamos, de uma vez por todas, a crítica prática dessa verdadeira escatologia, situando a Universidade no elo necessário entre a vida econômica e a atividade política da nossa sociedade. Somente o encontro entre esses três mundos, até agora distintos e alienados de si mesmos, pode apontar novos caminhos para nosso país.


Fig. 03 – Aldo LOCATELLI (1915-1962) - Mural de Reitoria da UFRGS. 1958. detalhe

BRAMBATTI, Luiz Ernesto,. Locatelli no Brasil. Caxias do Sul : Belas Letras, 2008 , p 135

Nesta perspectiva, um Parque Tecnológico não será por si só um avanço. Para que não se constitua num mero espaço de prestação de serviços tecnológicos ou num albergue para novas empresas, o que comprometeria essencialmente sua função, ele exigirá mudanças profundas na gestão acadêmica. Mas é em nome mesmo da exigência dessas mudanças que devemos saudar sua proposição. Do contrário, seremos vítimas da armadilha sedutora de utopias pretensamente radicais, cujo único resultado é a perene reprodução dos nossos arcaísmos.

Renato de Oliveira

Professor do Departamento de Sociologia da UFRGS

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4787396A1

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