sexta-feira, 12 de março de 2010

CENTENÁRIO da ESCOLA de ARTES do IA-UFRGS 12


Fig. 01– A CONGREGAÇÃO do INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL no dia 06 de janeiro de 1939.

Diário de Noticias – Porto Alegre - dia 08.01.1939 p. 10



12 – A ESCOLA de ARTES do ILBA-RS CONCLUI o seu CICLO e COMEÇA OUTRO com o CURSO de ARTES PLÁSTICAS do INSTITUTO de BELAS ARTES EXCLUIDO da UNIVERSIDADE de PORTO ALEGRE.


“Resolvemos

I – Delegar, nesta data, como efetivamente fasemos, a livre e irrestrita administração do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul à sua Congregação de Professores que administrará de conformidade com as resoluções e de acordo com os seus regulamentos, os quais substituirão definitivamente os Estatuto e Regulamentos vigorantes até a sua inclusão na Universidade;


II – Dar, com a assinatura desta áta, por perfeitamente efetivada esta resolução, independentemente de qualquer outro áto ou solenidade de tradição;


III –Dar como aprovados todos os atos praticados pelo presidente Doutor José Coelho Parreira até a presente data da entrega do Instituto ao diretor nomeado pelo Governo do Estado;


IV- Declarar extinta, para todos os efeitos, a Comissão Central do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, visto ter desaparecida a sua finalidade”.

- Livro n.º III das atas da CC-I.B.A. ff.14f e 14v. Sessão do dia 06.01.1939.


No Instituto é muito difícil entender o período entre 27 de abril de 1936 até 05 de janeiro de 1939. Evidenciam-se ali, pelo menos, três projetos institucionais distintos. Um orientava a Comissão Central do ILBA-RS com um histórico, uma administração e a propriedade física do Instituto. Outro, orientava a da Universidade de Porto Alegre onde o Instituto de Belas Artes estava oficialmente integrado sem te,r em mãos, nem a posse nem a administração efetiva. E um terceiro, é aquele constituído pelos docentes de artes, que orientava o exercício administrativo, liderado por Tasso Corrêa, nomeado para tal pelo Estado intervencionista. Diante dessas três forças, com interesses e representações antagônicas, é necessário ter o máximo de cuidado para não culpar, ou atribuir a uma delas, a responsabilidade do fracasso dessas precárias e conflituosas alianças.


Contudo havia apenas lugar para um único paradigma, pois todos eles são íntegros e integrais.


A Universidade de Porto Alegre foi reconhecida pelo Decreto Federal nº 679, do dia 10 de março de 1936. O primeiro reitor da UPA, desembargador André da Rocha, havia sido nomeado reitor pelo Decreto Estadual nº 5.765, de 01.12.1934 (Silva, 1992: 50), mas tomou posse efetiva do cargo no dia 01 de abril de 1936.


O grande contratempo para o Instituto, integrado na Universidade, foi a renúncia , no dia 03 de novembro de 1937, do primeiro reitor da UPA. André da Rocha, ativo conselheiro do Instituto. O 1º Reitor da UPA alegava, como causa de seu gesto, uma quebra de autonomia da Universidade e o pouco espírito universitário. Contudo a quebra de autonomia, resultava da eminente decretação do Estado Novo e a criação da Secretaria da Educação e Saúde do RS, à qual o Interventor queria subordinar a Universidade e o Instituto. O pouco espírito universitário vinha dos antigos cursos superiores que continuavam a agir independentes e a revelia da integração universitária.


O reitor Aurélio de Lima de Py, que assumiu a UPA entre 26.11.1937 até 25.04.1939, era estranho à história interna do Instituto de Belas Artes. Ele certamente não possuía condições para avaliar a frágil estrutura que mantinha essa instituição voltada para as artes em Porto Alegre. Um dos seus primeiros atos foi o de implementar a lei federal do final de 1937 que proibia acumular cargos públicos. No Instituto, Libindo Ferrás foi atingido pela lei, preferindo a sua aposentadoria pelos Correios e Telégrafos. Com a aplicação dessa lei, foi praticamente desfeita toda a nova equipe montada por Tasso Corrêa. Ângelo Guido preferiu o seu posto de redator do Diário Oficial, Ernani Corrêa optou pela Secretaria de Obras Públicas enquanto o Engenheiro Márcio Curio Duarte voltou ao seu cargo na Prefeitura Municipal[1].


A nova Universidade não poderia socorrer uma unidade em situação precária. Ao contrário, eram as unidades que deveriam sustentar a reitoria dessa universidade[2]. A direção dos docentes, administrando do Instituto, não tinha uma fonte de renda, além dos dez por cento das contribuições dos estudantes. O próprio recurso ao Tesouro do Estado ficava bloqueado. Vários docentes eram mantidos lotados no Instituto por este erário púbico, numa espécie de operação triangular. Contudo o Estado sentia-se tolhido em repassar verbas para custeio diretamente a uma unidade universitária, desconhecendo a reitoria. Mesmo essa fonte secou quando o governo proibiu acumular cargos e os docentes tiveram de voltar para a sua origem, fora do Instituto.




[1] - Ofício de 26.01.1938 de Waldemar Lübke

[2] - No início da constituição da UPA as unidades formadoras eram cobradas para a sustentação da reitoria. Silva et Soares, 1992: 76


Fig 02 – Capa do Documentário das Aulas de Maquete ministradas pelo Professo Fernando Corona, entre 1944 e 1950, no Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul.

Arquivo Geral do Instituto de Artes da UFGRS


As lideranças internas do Instituto, representadas pelos artistas,haviam trabalhado lotados legalmente numa universidade nova e com frágeis experiências de institutos superiores de artes existentes no interior de uma universidade brasileira[1] e com as características do IBA-RS. Trabalhavam numa instituição cujo prédio não lhes pertencia e, que a qualquer momento, poderia ser liquidada. Essa liquidação poderia acontecer sob a vigilância de um Estado nacionalista intervencionista que não tolerava qualquer desvio político e cujos agentes estavam entre seus próprios colegas[2].



O governo estadual desanexou o IBA-RS da UPA pelo Decreto 7.672, no dia 05 de janeiro de 1939. Reconheceu a universidade estadual pela Lei n° 6.194, de 19.12.1940, já sob a designação de Universidade do Rio Grande do Sul (URGS). Mas esse decreto estadual silenciava a situação o Instituto de Belas Artes e seus docentes.





Fig. 03 – A COMISSÃO TÉCNICA ADMINISTRATIVA (CTA) do CURSO de ARTES PLÁSTICAS reunida com a CONGREGAÇÃO do INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL no dia 06 de janeiro de 1939.

Diário de Noticias – Porto Alegre - dia 08.01.1939 p. 10

Tasso empenhou-se em providenciar a designação dos professores para o Instituto, em especial para o Curso de Artes Plásticas que ele estava implantando para substituir a Escola de Artes, mas que lhe foram retirados. Já no antigo Conservatório a estrutura e os cargos eram mais estáveis e composto de docentes com contratos celebrados há muito tempo. Na fragilidade da antiga Escola de Artes, agora Curso de Artes Plásticas (CAP), ainda não era possível realizar o trabalho que os docentes de música do Conservatório haviam realizado a partir de 1932 e antes do ingresso na Universidade. Foi no CAP que residia a grande fragilidade do Instituto durante o período em que este pertenceu à Universidade. O reitor da UPA começou a formar uma opinião cada vez mais negativa sobre o Instituto que irá externar ao governo estadual no seu relatório do final do ano de 1938[1]. Esse relatório será a determinante da exclusão do Instituto de Belas Artes da Universidade no dia 05 de janeiro de 1939, através do decreto nº 7.672 que ‘desanexa da Universidade de Porto Alegre o Instituto de Belas Artes e dá outras providências[2].


Até o presente, o pesquisador só conseguiu acumular causas de um dos acontecimentos mais dramáticos da vida do Instituto e da própria Universidade de Porto Alegre. E o espanto continua, pois não há nenhum precedente, nem foi localizada na história institucional das artes, alguma exclusão de uma unidade de uma universidade por decreto[3].




[1] - Anuário da Universidade de Porto Alegre de 1938, p. 726.

[2] - Publicado no Diário Oficial de 09.01.1939 – Ver TESE Leis Arquivo 1939

[3] - O Decreto Estadual n. 7.672 de 05.01.1939 foi assinado pelo Interventor federal. Constam de três considerandos e 4 artigos.

Alega-se basicamente o seu não reconhecimento federal e a falta de um prédio adequado.


Fig. 04 – EXAME FINAL e OBRA APRESENTADA pela ESTUDANTE CRISTINA BALBÃO do CURSO de ARTES PLÀSTICAS do INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL. Presença da banca formada por João FAHRION e Fernando CORONA

Documentário das Aulas de Escultura ministradas pelo Professo Fernando Corona, entre 1938 e 1962, no Curso de Artes Plásticas do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul.

Arquivo Geral do Instituto de Artes da UFGRS


O que intriga o pesquisador, é que não houve o menor estranhamento administrativo, nem o o registro de um protesto de Tasso Corrêa contra a exclusão do Instituto da UPA. O fato parece ter sido há muito aguardado e ao mesmo aparentando ser normal[1]. É possível até adiantar que, na ótica de Tasso Corrêa, era só esse ato que faltava para levar adiante o seu audacioso projeto de um Instituto com autonomia para o campo das artes. Parece que havia aprendido bem a lição de Joaquim Nabuco[2], de “arrancar do Estado as forças necessárias na
hora da crise”.
E ele soube administrar em favor do Instituto essa crise da expulsão como ele havia administrado a sua própria expulsão do ILBA-RS, em 1933.


Como acontecera há trinta e um anos antes, quando a CC-ILBA-RS se reuniu pela primeira vez, a última reunião, no dia 06 de janeiro de 1939, também foi um ato muito bem ensaiado e um ritual digno das práticas sustentadas por essas autoridades ao longo de sua administração. Depreende-se o ensaio da expressão ‘especialmente reunidos’. Nos bastidores, é possível distinguir a orientação do ex-reitor Manoel André da Rocha, agora com 79 anos, e como ator principal da peça que retirou os últimos entraves para a administração autônoma do Instituto. Esse grupo produziu uma das páginas mais dignas desses homens imperiais. Apesar das circunstâncias trágicas, eles fecharam com chave de ouro a sua administração, escrevendo a última página do terceiro e o último livro de atas da Comissão Central. Vale a pena ler na íntegra essa última página[3] que fecha o ciclo iniciado na noite de 22 de abril de 1908..


A retirada digna e ordeira dessa Comissão foi absolutamente coerente com todo o desenvolvimento dessa mantenedora do Instituto. Encerrava-se um ciclo no Instituto, nove anos após o término da Velha Republica e nove meses antes de um conflito mundial que iria sepultar definitivamente um tipo e uma forma de administração pública. Os belos ocasos dos regimes políticos no Brasil são acompanhados de otimismo[4] e de um colorido único. O otimismo manifestado no texto da despedida da CC-ILBA-RS tinha condições mínimas para acontecer no mundo concreto, como era evidente na ótica da universidade local. No seu otimismo, foram capazes de remover todos os entraves para que uma nova representação de mundo pudesse se expressar e continuar a teleologia imanente para a arte na instituição.





[2] - Faoro 1975, p. 432.

[4] - Faoro descreve (1975 p. 533) as belas despedidas dos períodos políticos brasileiros “O ideal do liberalismo vê, diante dos seus passos, a terra da promissão, completo o ciclo de modernizador (...) Surpreende que nos dias de ocaso – ocaso de 1889, com Ouro Preto, o ocaso de 1929, com Washinton Luis – o mundo se despeça cheio de esperança, alheio a angustia, imune ao desespero, que só a hora derradeira inspirará”.


Fig. 05 – MAQUETE REALIZADA por um ESTUDANTE do CURSO de ARQUITETURA do INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL. Ao Fundo a Porto Alegre de época com a fumaça da Usina do Gasômetro

Documentário das Aulas de Maquete ministradas pelo Professo Fernando Corona, entre 1944 e 1950, no Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul.

Arquivo Geral do Instituto de Artes da UFGRS

O novo ciclo que se abria para o Instituto era contagiado por esse otimismo. Mas a forma e o suporte desse otimismo chegar ao mundo eram radicalmente diferentes daquele expresso pelo restrito mundo da Comissão Central. O ciclo que se inaugurava foi sintetizado por uma imagem fotográfica de um alegre grupo e um texto publicado a página 10 do Diário de Noticias de Porto Alegre no domingo dia 08 de janeiro de 1938. Representa uma sorridente Congregação do Professores do Instituto. Tasso Corrêa proclamava, no texto, que essa congregação iria reger-se pelos Decretos-Lei nºs 19.851 e 19.852. Estampado num veículo de comunicação industrial, esse grupo fazia circular a sua verdade, contrastando com uma oligarquia que preferia que o seu documento fosse manuscrito, em cópia única confiada ao Arquivo cheio de senhas, chaves e segredos, sem circulação e sem a publicidade da imprensa.


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DOCUMENTOS – Arquivo Geral do IA-UFRGS

Prédio antigo da Faculdade de Medicina – CAMPUS CENTRAL – UFRGS

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TESE : “Origens do Instituto de Artes da UFRGS” texto integral em http://www.ciriosimon.pro.br/aca/aca.html


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http://www.ufrgs.br/bibart/ Link para a página da Biblioteca do Instituto de Artes da UFRGS]

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