terça-feira, 30 de novembro de 2010

QUANTIDADE NÃO É ARTE - 05

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

A QUANTIDADE não é SINÔNIMA de QUALIDADE.

O que é composto de um superlativo numérico dificilmente atinge um grau aceitável de coerência e de organização interna. Mais raramente uma grande quantidade possui forças para manter esta coerência interna, na longa duração do tempo. Raros artistas ou povos venceram este desafio da permanência da coerência interna quando lidavam com grandes quantidades. Por isto, quando conseguem esta coerência no tempo, é possível tributar-lhes o seu mérito e são dignos de toda a admiração e respeito. Contudo fica evidente que a simples acumulação numérica não garante esta coerência e duração no tempo. Na maioria das vezes resulta num imenso, desordenado e fedorento lixão.


http://ninhodogaviao.zip.net/arch2008-05-01_2008-05-31.html

Fig. 01 – CIDADE, FAVELA e ACUMULAÇÃO: a imagem escancara a falta de um projeto que consiga integrar e fazer interagir as duas mentalidades


No contraditório, uma obra de arte, mesmo de aparência simples e coerente compõe-se de infinitas partes e resulta de numerosos gestos conduzidos por projeto humano. A aparente singeleza, e a fácil apreensão visual, de uma clássica pirâmide egípcia é, de fato, o resultado de um número gigantesco de blocos monumentais de pedras. Blocos e que resultaram da ação de numerosas pessoas e de milhões de gestos humano com intenções bem reguladas. No caso da clássica pirâmide egípcia, estas intenções eram guiadas, uma a uma, por um poderoso projeto orientador único. Este, por sua vez decorria de um projeto de uma nação amadurecida com contrato resolvido e aceito coletivamente havia muito tempo.


A alucinante e heterodoxa aparência das cidades brasileiras são índices e imagens vivas da falta deste projeto nacional ou que jamais emerge ao nível do consciente. Projeto nacional capaz de organizar os contratos das vontades individuais vetorizadas por algo que é bom, como um todo, para a cidade, e para o cidadão em particular.


http://www.armanstudio.com/work-arman-arteriosclerose-235-2-1961-eng.html

Fig. 02 – ARMAN (Armand Pierre Fernandez) (1928-2005) “Arteriosclerose” (1961)


A era industrial acumulou pessoas, material, capitais e tecnologias em certos locais geográficos. Procedeu como todas as civilizações afluentes, e que, com o passar do tempo, voltam-se contra as multidões que realizaram a proeza desta acumulação e, depois, tornada incontrolável. Neste caso a única saída - para a sobrevivência do ser humano - é o abandono físico definitivo da continuidade da realização deste projeto e a sua eliminação da memória isolada e coletiva.


Fig. 03 – PARIS: EXPOSIÇÃO UNIVERSAL de 1900 produto da acumulação colonialista francesa.


A era industrial trabalha sobre o conceito de obsolescência. Este conceito - transformado em projeto - pode produzir eventos como o da Exposição Universal de Paris de 1900 ou das cidades cenários dos filmes.


http://www.wallpaperweb.org/wallpaper/known_places/angkor-wat-cambodia_1440x1080_18878.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Angkor_Wat

Fig. 04 – ANGKOR WAT, foi sub-aproveitado, durante longo tempo e que nada tinha a ver com o projeto original.


Mesmo o gigantesco templo de Angkor Wat não conseguiu manter a sua coerência no tempo do reinado Khmer. Ele foi refúgio de uma diminuta comunidade de monges que nada tinha em comum com o projeto original. A indústria do turismo ocidental o redescobriu e o transformou a semelhança das cidades maias e de Machu Picchu[1].


O pior efeito desta massificação industrial, não é este enorme depósito de resíduos e de lixo. O pior efeito é esta mentalidade que o sustentava e que penetrou fundo nos indivíduos atingidos e uniformizando-os. Freud remeteu esta cumulação obsessiva ao instinto da analidade, em especial à acumulação monetário mórbida[2].


Cidades maia http://mais.uol.com.br/view/e8h4xmy8lnu8/cidades-maias-04021C3772D48143A6?types=A&

Nasa http://www.apolo11.com/arqueologia.php?posic=dat_20050208-101409.inc

Fig. 05 – CIDADE MAIA no seu ESPLENDOR - hoje abandonada no meio das selvas..


http://historiadoframe.wordpress.com/2009/10/29/spencer-tunick-o-fotografo-das-multidoes-nuas/

Fig. 06 - Spencer TUNICK Fotos de multidões nuas e que prefiguram as cidades mortas e abandonadas


http://pilordia.blogspot.com/2008/11/o-fotgrafo-das-multides-nuas.html

Fig. 07 - Spencer TUNICK Fotos de multidões nuas Grupo Simétrico

Clique sobre as figuras para ampliá-las


A PREPARAÇÃO para a ACUMULAÇÃO e para a OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADAS.


A civilização contemporânea insiste na escolarização universal. Esta civilização acumula, e cada vez, no sistema escolar formal um maior contingente e avança mais nas suas idades das pessoas em treinamento. Se o fenômeno for bem analisado irá se perceber que ele possui no seu cerne e como projeto a necessidade do treinamento para um mercado planetário favorável e submisso ao um consumo massivo e continuado. O empresário realiza as contas do seu investimento neste mercado em constante construção e com mudanças apenas na fachada. Para que esta lógica não sofra solução de continuidade abandonou-se a prática da formação de qualidade individual que é perigosa para o projeto consumista massivo, devido a capacidade crítica que a pessoa esclarecida pode realizar neste sistema montado.


O ensino superior brasileiro cresceu numericamente e de uma forma evidente na contabilidade, em 29 de novembro de 2010, do seu Ministro. Desde 2005, foram criadas 214 escolas federais de Educação Profissional, totalizando 342. Também foram criados 126 campi e unidades universitárias, que passaram de 148, em 2002, para 274, este ano[1]. Contudo os extremos da ABUNDÂNCIA SUPERLATIVA ou da CARÊNCIA não produzem, por si mesmas, ou sustentam o continuum de um saber coerente com as mudanças e as rupturas que uma pessoa possas assimilar. Por isto o retorno compulsório ao treinamento continuado




[1] MEC expande o Ensino Lula e Haddad entregaram 30 escolas federais de Educação Profissional e 25 campi CORREIO do POVO, ANO 116 Nº 61 - PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, p.11 30 DE NOVEMBRO DE 2010 Ensino - http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/Default.aspx?Ano=116&Numero=61&Caderno=0&Noticia=228603


http://6x.velneo.es/blog/ Consultoraihttp://babelconsultoria.webs.com/quemsomos.htm


Fig. 08 – TORRE de BABEL


Esta capacidade de rupturas coerentes com a vida reflete-se na arte. Nela impõe-se uma universidade e uma escola de artes coerentes com a homeostase entre estas forças extremas. Forças que debatem entre os extremos e na sua totalidade absoluta da torre de babel. Esta busca aniquilar o novo divergente desta torre cumulativa, do autêntico e da vida. Se nesta escola de artes e nesta universidade predominar a razão desta torre cumulativa, elas esterilizam a reprodução do novo, da emoção e jogam no caos todas as virtualidades dos meios artísticos.


A coerência da escola de artes e da universidade não é atingida pela administração da colagem do ecletismo dos extremos da razão e da emoção. Esta coerência também não é fruto da endogenia de uma cega reprodução administrativa. Muito menos resulta da cumulação aleatória que irá gerar mais torre de babel ,que mais cedo ou tarde, mostrará a impossibilidade de sua continuação e deverá ser abandonada com grandes prejuízos para todos.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_de_Babel

Fig. 09 – TORRE DE BABEL


A QUANTIDADE de INFORMAÇÕES NÃO CONSTITUI PODER.


Pode-se dizer que a bibliotecária seria a pessoa mais poderosa do mundo, se a informação fosse poder.


A era da informática produz uma estranha sensação de poder. Pessoas de todas as idades e culturas, passam horas e dias diante do computador sentem-se os reis da realidade. Contudo a quantidade ininterrupta e monumental que as entretém, e que remetem cumulativamente umas às outras, não permitem que percebam que apenas estão lidando com espelhinhos e caleidoscópios da realidade. Espelhinhos como aqueles que, em 1.500, os portugueses entretinham os bugres do Brasil. Espelhinhos, com filtros e com mediações muito mais severos do que os dos portugueses e que consegue tornar o gigantesco acervo de informações estéreis e perigosos, senão inócuo.
É a conclusão de Julian Assange numa recente entrevista:

"A mídia internacional é um desastre. Nós estamos numa posição privilegiada para percebê-lo, pois nos chega material política e historicamente significativo, que liberamos e percebemos quantos meios nos fazem eco e com que tipo de rigor. Percebemos também os esforços para suprimir a informação que fornecemos. Minha conclusão é que as circunstâncias e o entorno das mídias internacionais é tão ruim e tão distorcido que melhor seria que não houvesse nenhuma mídia: nenhuma mesmo”.

http://www.elpais.com/articulo/internacional/Cita/secreta/hombre/hace/temblar/Pentagono/elpepuint/20101024elpepuint_7/Tes


http://pt.wikipedia.org/wiki/Albrecht_Altdorfer

Fig. 10 – ALBRECHT ALTDORF Batalha de Alexandre contra Darius

Clique para ampliar a imagem.

O resultado da SATISFAÇÂO SUPERLATIVA - além de tornar preguiçosos aquele que se entrega aos exageros, os engordam, ao ponto de romperem os limites da membrana que envolve cada célula.



QUATRO MEIAS VERDADES USADAS PARA A ACUMULAÇÃO: PARTICIPAÇÃO, COOPERAÇÂO, PODER e FAZER.


A corrupção do discurso de que “no princípio era o verbo” constrói meias verdades que, na prática, acabam sendo mentiras. Mentiras que possuem a potencialidade de arrastar multidões que acabam em logros monumentais. Contudo estes logros acabam conduzindo e sendo a causa irreversível de cruéis e de monstruosos massacres coletivos como costumam serem as guerras em geral ou as limpezas étnicas, ideológicas e políticas.


http://blog.espol.edu.ec/jlmora/tag/atentado-de-las-torres-gemelas/

Fig. 11 – As TORRES GÊMEAS : como resultado de poderosas acumulações


Entre as quatro mentiras, ou meias verdades, que os arautos da acumulação gostam de usar a primeira refere-se à participação. Nos estudo realizado por Jean Piaget (1896-1980)[1], e no dos seus discípulos, o termo participação ficou destinado ao indivíduo que é atraído emocionalmente para um determinado. No estágio infantil é período do “bando” e da ação massiva deste bando, sem cálculo dos custos e benefícios antes, durante e depois desta fazer coletivo. Em geral, o estágio da participação, corresponde aos movimentos messiânicos e místicos nas suas mais variadas expressões.


Enquanto a cooperação é o estágio no qual também ainda não existe, ou existe um contrato tácito, onde os lucros de uma ação coletiva irão pertencer a um indivíduo ou grupo dominante desta ação. A pessoa adulta, cidadã e capaz de dar de si mesmo muito mais do recebe, necessita de um contrato no qual se evidenciem as perdas e os lucros antes da ação. Este estágio é atingido na interação democrática


A luta pelo poder, deste bando, grupo ou de uma coletividade, é uma constante. Para manter a circulação deste poder a única forma é a vigilância perpétua para punir quem possa impedir ou desviar este fluxo. Fluxo de poder originário de quem acredita e precisa suscitar a figura do demiurgo onisciente, eterno, onipresente e todo-poderoso. Esta acumulação do poder cresce, e é suscetível à corrupção, na medida do aumento do número de pessoas, bens e meios envolvidos neste processo.


Para ocultar, este poder e as intenções do demiurgo imaginado, ou quem se coloca no seu lugar, recorre-se ao discurso de fazer. Especialmente os grandes grupos não toleram a inércia, o ócio e odeiam o vazio. O agir contrapõe-se ao fazer. Este agir – na contradição ao fazer- impõe, muitas vezes, o ócio criativo, a inércia e possibilidade da negação e a sublimação do primeiro instinto da ação imediatista, inconseqüente e sem projeto amadurecido


http://cms-oliveira.sites.uol.com.br/wundram.html

Fig. 12 – MIGUEL ÂNGELO - “JUIZO FINAL” Capela Sixtina - detalhe


A mentalidade da acumulação - que penetrou fundo e de forma uniforme nos indivíduos - é a mesma que pede o juízo final, o Apocalipse e o Armagedon universais e de todos tempos. A reação à esta mentalidade provocou obras primas com o tema do Juízo Final


Este pleito da destruição da acumulação, consciente ou inconsciente constitui o pressentimento de que o ponto fial de qualquer rebanho é o matadouro


Fig. 13 – MIGUEL ÂNGELO – Juízo final restaurado


A DEMOCRACIA FORMAL.


O que Ortega y Gasset (1863-1955) denominou de “rebelião das massas”[1] e que elas são subiram ao palco da história desprepradas para sofrerem coletivamente e mostrarem os seus sofrimentos para platéias cada vez mais vastas, uniformes e programas para a amnésia individual e coletiva.


Neste cenário a democracia é apenas um termo de um discurso formal. Este discurso traz como objetivo, e raiz, o puro e singelo “vigiar e o punir” tanto dos aparentes líderes, como os liderados que acreditam neles.


A acumulação de informações é um problema para o historiador na hora da escolha o foco e das testemunhas das suas narrativas. Certamente o aviso e a orientação do historiador Carlo Ginzburg parte do principio da necessidade de um projeto, pessoal e coletivo, para enfrentar este acúmulo das informações e dos diferentes testemunhos presentes nos meios numéricos digitais

“A qualidade do fenômeno não é nova. O que importa é como lidar com a quantidade de informação disponível na Internet. Em primeiro lugar, há o problema de não ser esmagado pela imensidão dos dados e, em segundo lugar, de como lidar com as informações, fazendo perguntas relevantes e evitando as superficiais antes de se encontrar as respostas já criadas[1]

A necessidade das perguntas relevantes esteve presente em todas as civilizações afluentes nas quais havia superabundância das informações, e dos testemunhos dos fatos. A relevância das perguntas decorre da coerência entre o projeto do historiador, e de quem recebe a sua narrativa. Esta relevância segue ainda as normas do contrato de interação entre o narrador e ouvinte ou leitor. Ambos fundamentam-se no hábito da integridade intelectual cultivada. Esta interação não é diferente na relação entre o artista criador e o seu publico.



[1] - GINZBURG historiador analisa impactos da Internet: “Na rede, há o problema de não ser esmagado pela imensidão de dados”. In CORREIO do POVO ANO 116 Nº 61 - PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO DE 2010 p.18 Geral

http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=116&Numero=61&Caderno=0&Noticia=228609




[1] Veja resenha de "Rebelião das Massas" de Ortega em http://www.culturabrasil.pro.br/rebeliaodasmassas.htm

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

ISTO NÃO É ARTE - 04

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

04 – NEM o ACASO e NEM o MILAGRE SÃO ARTE POR SI MESMOS.

"O acaso favorece apenas as mentes preparadas." Louis Pasteur

O tema do ‘NEM o ACASO e NEM o MILAGRE SÃO ARTE por SI MESMOS’, leva-nos adiante na investigação de outros limites e competências das artes visuais.

O limite da proibição, da norma ou do tabu, constituem formas de desafio para o artista. O artista passa a verificar, nestes obstáculos e limites, as formas como estes desafios constituem referenciais básicos e abrem oportunidades para expressar o seu agora e o seu mundo daqui.


http://curtapoesia.blogspot.com/2009/07/fugacidade-do-tempo.html

Fig. 01 – Salvador DALI (1904-1989)

O tempo circular e a mandala do relógio, desfazem-se e retornam ao acaso e ao caos, conduzidos pela entropia universal. A obra de Dali remete ao campo da comunicação linear e unívoca devido à exagerada e à redundante evidência de sua linearidade descritiva.


Assim, o caos e o sem sentido, podem constituir-se em desafios potenciais que impõe urgência na busca de uma ordem escondida ou ignorada para encontrar um sentido que ninguém percebeu antes dele. As grandes civilizações egípcias e pré incaicas nasceram em lugares geográficos nos quais as oportunidades para a vida eram mínimas. Enquanto o território brasileiro oferecia tudo ao alcance da mão, não gerou nenhuma civilização pré-histórica digna deste nome, consequente no tempo e capaz de fugir da entropia provocada pela abundância de recursos naturais.


Fig. 02 - Paul KLEE (1879-1940) – Fast getroffen” ou quase atingido”. 1928

Aquarela 50,8 X 39,37 cm

O perigo inesperado, o desafio, ou a ameaça do rompimento eminente da ordem habitual impulsionam ao despertar da criatura humana e a permanecer na vigilância.

Contudo qualquer achado - sem um rumo, sem uma escolha ou um projeto - não possui sentido por si mesmo. Aquele que tropeça, nestes acasos, logo os elimina da sua memória consciente. A criatura é histórica na medida dos seus projetos e por saber-se no interior de um processo. O máximo que pode acontecer com aqueles que se privam de algum projeto é andar em círculos, ao modo do “peru num círculo de giz[1]. A carência de um projeto, deliberado e decididamente assumido, constitui, no plano individual, o retorno aos círculos impostos pelas leis da natureza. A entrega ao acaso, ao milagre e às superstições, conduz, na coletividade, à abdicação e à ruptura de qualquer autonomia, face ao mundo social do OUTRO. Desta entrega ao acaso, decorrem graves riscos de desconhecer e ultrapassar qualquer sanção moral dos atos individuais e coletivos praticados na heteronomia desta vontade.

ACASOS POTENCIALMENTE CRIATIVOS

“São fúteis e cheias de erros as ciências que não nasceram da experimentação, mãe de todo conhecimento”. Leonardo da Vinci



A ausência de um projeto - daquilo que ela busca - pode assemelhar a criatura humana encontrada congelada e morta sobre uma montanha de carvão de pedra. A vítima jamais suspeitou que a sua salvação estava naquilo que o congelava e matava. O coletador, na busca apenas do seu alimento e abrigo imediato, não atribuía o menor sentido para metais, que hoje denominamos preciosos.



Só se acha aquilo que se procura. A criatura humana é histórica na medida do seu projeto. Mesmo quando um indivíduo, isolado e singular, consegue provar objetivamente que objeto de um projeto não existe ou é impossível, a humanidade toda progride ao se livrar de um problema insolúvel.





1. [1] [PDF] CÍRCULO-DE-GIS-DE-PRENDER-PERU: UMA REFLEXÃO ACERCA DOS ...Formato do arquivo: PDF/Adobe Acrobat - Visualização rápidaUma cantiga de perua. É como tudo está aqui! O círculo-de-gis, a impaciência: o peru é impaciente, a perua é pessimista. E quando o peru estufa o ... www.fag.edu.br/adverbio/artigos/artigo08%20-%20adv06.pdf - Similares



http://eloprimitivo.blogspot.com/2005/05/um-lance-de-dados-jamais-abolir-o.html http://www.textfield.org/tags/theory/


Fig. 03 – “Um lance de dados jamais abolirá o acasoUn coup de dés jamais abolira lê hasardescrevia Stephane MALLARMÉ (1842-1898). Apesar da ironia - do artista da obra da figura acima- de que todos os dados mostrem o nº 1 de cada das suas faces, isto não garante que. no lance seguinte , venha acontecer de novo, se os dados não forem viciados



Uma das tarefas da criatura humana civilizada é manter intacta a contradição e transformá-la em complementaridade. Contradição que mantém a tensão entre o acaso e o projeto humano. Forças irreconciliáveis geradas entre o acaso e o projeto, mas, entre as quais, é indispensável estabelecer a circulação das forças da complementaridade criativa.


O artista francês Marcel Duchamp (1887-1968) mergulhou profundamente na relação entre o acaso e a arte. Ele deslocou da sua função uma sua série de objetos encontrados por acaso [‘objet trouvé’: mitório, roda de bicicleta, porta garrafas, malas..][1] e os introduziu no circuito de arte onde ganharam novo status de obra consagradas e aceitas como tais. As milhões de rodas de bicicletas, os mitórios públicos e malas, ninguém considera obras de arte, mas que Duchamp deslocou por meio da ação comandada pelo seu projeto consciente e consequente. A “arte está em quem a faz, não naquilo que produz” no pensamento de Aristóteles. No caso a arte estava em Duchamp

O TERROR do ACASO e do CAOS PRIMORDIAL


O terror do acaso pode conduzir à racionalização, ao retorno do seio materno e ao interior da concha protetora primordial. A consequência é a eliminação, ou drástica limitação das possibilidades criativas.


http://www.latribunedelart.com/spip.php?page=docbig&id_document=8319

Fig. 04 - TURNER, Joseph Mallord William (1775-1851) Desastre no Mar c. 1835 – Óleo 171 X 220 cm (detalhe).

Os artistas românticos experimentaram formas que pudessem lidar e expressar o caos e o acaso, em oposição aos valores unívocos e lineares do Iluminismo e Racionalismo que os antecedeu historicamente.


Após o Romantismo do século XIX novas correntes e estéticas tiveram no acaso e no caos primordial a motivação e a fonte de inspiração. O Simbolismo, o Surrealismo e o Expressionismo, buscaram no acaso e no caos, cada uma à sua própria maneira, as suas fontes. As obras individuais de André Breton (1896-1966), Max Ernst, Joseph Beuys (1921-1986) e Francis Bacon (1909-1992) mostram os numerosos recursos estilísticos e os repertórios que os recursos materiais do acaso e do caos. As suas obras de arte despertaram com os limites e as possibilidades de transformar estes acasos na criação humana da arte.



O ACASO e o INTERIOR dos RECURSOS MATERIAIS da ARTE.


“Para estar junto não é preciso estar perto mas sim estar dentro”.

Leonardo Da Vinci



A ativação das forças subterrâneas, do inconsciente humano reprimido, libertaram a arte de sua carga da comunicação linear e unívoca. Para o artista, estas correntes abriram a manipulação direta dos signos. O constrangimento da temática abriu-se no uso direto e livre dos índices e dos ícones. A arte , com esta liberdade, poucas vezes vista antes na história humana, apropriou-se da pureza e da natureza dos sons, das palavras, do gesto, da cor, do movimento e com eles mostrou a sua criatividade e liberdade. Cada um no seu território, pois cada manifestação da arte é ciumenta e não tolera sobreposições, e administra mal, reforços indevidos de outros recursos criativos. A Pintura, por exemplo, voltou a pureza e exclusividade do desafio de manipular e criar pelo meio exclusivo das tintas, dos pincéis e das superfícies. Esta pureza impõe uma gramática que é inerente a este meio exclusivo. Neste meio, por menor que seja o contínuo de uma obra de arte, ogni quantità continua é divisibile in infinito” conforme Leonardo (In VALÉRY, 1998 p. 36) afirmou na proposição CCLXXI do seu Tratado da Pintura. Com esta concepção Leonardo construiu a imagem da Mona Lisa gerando esta imagem pó meio de uma nuvem de infinitas graduações de claros e de escuros onde não existe uma linha. Leonardo levou ao apogeu o projeto de Giotto di Bondone (1266-1337) trabalhar a sua pintura com os elementos de uma superfície, dos pigmentos e do pincel.


Do lado do espectador, e de quem recebe a obra, esta mensagem proveniente da natureza dos meios, não necessita subjugar-se ao tema e ao anedótico. Um filme é constituído 24 imagens por no mínimo segundo, que se seguem num movimento delimitado num começo e num fim.


Fig. 05 – ELEMENTOS da COMUNICAÇÃO e da SEMIÓTICA . O americano Charles Sanders Pierce (1839-1914) estabeleceu as bases da Semiótica. O seu pai era astrônomo - lidando com o infinitamente grande e no acaso cósmico - desafio que despertou no filho a necessidade de estabelecer sistemas e formas de orientação e de comunicação da máquina, da vida e do humano.



O vasto repertório humano é capaz de sinapses e de conotações inesperadas, tendo como suporte os bilhões de neurônios.



Evidentes, que estas sinapses e neurônios não são infinitos por mais extensos seja o seu número. Assim, estas sinapses, neurônios organizam-se em padrões hereditários e adquiridos. Padrões que permitem construir as linguagens da fala, do gesto, da imagem, e todos os demais recursos sensoriais reconhecíveis pelo repertório consciente ou inconsciente dos seus semelhantes. Contudo, na criatura humana, a maior parte destes padrões se desenvolveram e permaneceram, no inconsciente, a espera de codificações novas e criativas. Assim por maiores que sejam os esforços dos enciclopedistas antigos, ou contemporâneos, “un coup de dés jamais abolira lê hasard” permanecem abertas as possibilidades criativas humanas.



O vasto repertório humano do suporte os bilhões de neurônios, das sinapses e de conotações inesperadas multiplicam o seu potencial e inteligências humanas múltiplas. Para isto a permanente atenção das diversas formas da inteligência em desdobramentos e conexões novas e inesperadas.


http://educacaodialogica.blogspot.com/2008_03_07_archive.html

Fig. 06 – DESDOBRAMENTOS da MÚLTIPLA INTELIGÊNCIA HUMANA



As pesquisas e as teorias de Sigmund Schlomo Freud (1859-1939) tiveram um contraponto nas concepções e nas pesquisas de Carl Gustav Jung (1875-1961). Este percebeu a busca de organização do caos nas diversos graus da capacidade de organizar formalmente o seu consciente e inconsciente. Ele percebeu, na construção e nos formatos das mandalas, por exemplo, o esforço do ser humano em conferir sentido e projetar ativamente os graus e a intensidade desta luta interior deste indivíduo para organizar-se num padrão e num núcleo referencial para si mesmo e para os outros. Para Jung, o conjunto das artes, mostra como cada cultura humana lidou com este problema de conferir sentido ao acaso e ao caos primordial. Assim cada obra de arte torna-se, e continua a constituir-se no tempo, em um documento deste esforço do indivíduo, da cultura e da época de sua origem.


Fig. 07 – Teste de RORSCHACH [tons invertidos]. Neste teste o paciente “PROJETA” o seu repertório e os seus referenciais inconscientes num sentido que ele atribui às figuras padronizadas e apresentadas pelo psicólogo.



Nos abismos do inconsciente e nas numerosas e múltiplas inteligências humanas, organizam-se, funcionam e estão disponíveis padrões que diversos testes psicológicos permitem sondar. Um dos mais antigos e conhecidos popularmente são os testes de Hermann Rorschach (1884-1922). Numa série de manchas o entrevistado projeta, na linguagem, sentidos e significados pessoais e originais em relação a que percebe e expressa um outro entrevistado.


Fig. 08 – Teste de Hermann Rorschach que desenvolveu as manchas de tinta, embora não as utilizasse para a análise da personalidade.



Para ampliar o tema do acaso e arte:

TESTE de RORSCHACH

http://pt.wikipedia.org/wiki/Teste_de_Rorschach


http://sicologia.net/category/psiquiatria/


http://movv.org/2009/11/21/os-testes-de-rorschach/


http://brazil.skepdic.com/rorschach.html


http://www.famous-painters.org/Max-Ernst/The-Eye-of-Silence.shtm

Fig. 09 – Max ERNST (1891-1976) – O olho do Silêncio - c. 1943-4 – óleo 108 x 141 cm


http://www.nytimes.com/2010/11/19/arts/design/19kiefer.html

http://www.artnet.com/artwork/425931891/to-be-titled-triptyque.html

Fig. 10 - KIEFER, Anselm (1945 - ) – Tríptico. 2008, cada painel 330 x 190 cm



ARISTÓTELES (384 a.C – 322 a.C) e o AGORA

http://www.consciencia.org/o-agora-e-a-apreensao-do-tempo-na-fisica-de-aristoteles


http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2720&cd_materia=450

http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2720&cd_materia=1269


CÍRCULO-DE-GIS-DE-PRENDER-PERU: UMA REFLEXÃO ACERCA DOS ...

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Uma cantiga de perua. É como tudo está aqui! O círculo-de-gis, a impaciência: o peru é impaciente, a perua é pessimista. E quando o peru estufa o ...
www.fag.edu.br/adverbio/artigos/artigo08%20-%20adv06.pdf - Similares


DUCHAMP, Marcel objet trouvè - - ready-made – objetos encontrados

http://www.answers.com/topic/found-art


MALLARMÉ, Stephane

http://eloprimitivo.blogspot.com/2005/05/um-lance-de-dados-jamais-abolir-o.html

http://www.textfield.org/tags/theory/


TAPIES, Antoni (1923-)

http://www.fundaciotapies.org/site/spip.php?article2983


TURNER, J.M.W 1775-1851

http://www.latribunedelart.com/spip.php?page=docbig&id_document=8319