sábado, 7 de novembro de 2009

PROJETO PLÍNIO – 1

Este blog se ocupará, em sucessivas edições, do projeto que está estudando, sistematizando e divulgando a vida e a obra de Plínio LIVI BERNHARDT (1927-2004).

O projeto Plínio é uma decorrência natural da pessoa, do artista, da obra do mestre e do sistema de artes visuais que ele ajudou a elaborar durante toda a sua existência física. Quando aqueles que rodeavam este artista, começaram a desvelar a pessoa, o artista e o patrimônio imaterial e o material - que ele deixou na sua obra - revelaram-se universos incomensuráveis. Universos que iniciaram com o projeto de Plínio tornar-se artista em Porto Alegre e prosseguiram até o derradeiro momento. Felizmente o artista não levou o segredo ou - a sua chave - para outro mundo.

Ao longo do projeto, que se seguiu ao seu desaparecimento, cada umas das suas obras de arte é uma chave, um testamento e um documento incontornável. A atenção da inteligência, a vontade da busca de conexões deve afastar tudo aquilo que distrai, causa ruídos e incompreensões. Incompreensões que iniciam com conceitos equivocados e disseminados por potências culturais com vistas a obscurecer e desqualificar concorrentes e impor a sua indústria cultual que lhes gera lucros materiais e imateriais. Nesta linha não cabe ao Plínio o alfinete das costas de um “pequeno” ou “grande mestre”. Estes alfinetes são manipulados por sistemas de arte que se constituíram há muito tempo. Perguntando e mergulhando -ao fundo deste conceito manipulados pelos portadores destes alfinetes – descobre-se que se trata da maior ou menor fortuna crítica, circulação e de divulgação dos dados de informações disponíveis sobre determinados artistas e que, alguns centros econômicos, conferem aqueles do seu próprio círculo. Alguns possuem maior ou menor grau de fortuna crítica, fortuna que pode se inverte a qualquer momento e por qualquer razão. São centros com afluência econômica, nos quais alguns abonados seguem a observação[1] de Miguel Ângelo “mesmo os que não gostam muito de arte: a compram”. Não deixam de ser instrumentos de hegemonia, como os de Florença, de Paris e agora de Nova York. Alguns gostariam que fossem denominadas de escolas[2].

Porto Alegre apenas deseja possuir uma vida civilizada, lutar contra a barbárie e busca distribuir isto - interna e externamente - para o maior número de pessoas. O projeto de vida do Plínio parece movido por estes desejos. Os que levam adiante este projeto desta vida - que se interrompeu fisicamente em 2004, buscam livrar de todos os equipamentos teóricos e conceituais que mais escondem, estetizam e escondem um artista que viveu e produziu em Porto Alegre na segunda metade do século XX. De outra parte buscam todos os equipamentos teóricos e conceituais que possam aproximar o máximo da pessoa, da vida e arte de quem teve o universo da arte em Porto Alegre.

Após este trabalho subterrâneo de quatro anos emergem alguns resultados consolidados do projeto Plínio

A exposição ICONOGRAFIA SUL-RIO-GRANDENSE de Plínio Bernhardt ocorreu na Sala “O ARQUIPÈLAGO” do Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo entre os dias 18 de abril até 18 de abril de 2007.

Relativo, a este exposição, está pronto e prestes a ter o sue lançamento o livro-Catálogo

ICONOGRAFIA SUL-RIO-GRANDENSE de Plínio Bernhardt/ Organizador Vinício Giacomelli. Porto Alegre :Brejo, 2009 72 p. Il.

Neste meio tempo ocorreu, entre os dias 14 de outubro até 10 de novembro de 2009 a exposição ICONOGRAFIA BRASILEIRA de Plínio Bernhardt no Espaço Cultural do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul (TRT-RS).

Nesta exposição o presidente do TRT-RS anunciou a confecção e a impressão de 5.000 exemplares do CALENDÀRIO de 2010 com as obras de Plínio Bernhardt. Este calendário será distribuído em todas as repartições do TRT do Brasil.

Certamente estes feitos são pequenos passos e dignos de registro em nossa cultura tachada de “periférica” pelas culturas hegemônicas. È verdade que Porto Alegre possui um fraco hábito do cultivo dos arquivos e do cuidado logístico com a sua memória. São escassos os recursos e o respeito aos profissionais da arquivologia, da museologia e historiadores da arte. Contudo são os primeiros passos numa grande marcha. As obras e os artistas não lhe faltam. Para manter a conexão com a atualidade a Profª Yvonne BERNHARDT vitalizou e potencializou a rede de vontades e ações daqueles que compuseram o sistema artes no qual Plínio foi protagonista e agiu. Sem medo de errar é possível afirmar que Plínio agiu, ao longo de meio século, nestas conexões do sistema das artes visuais de Porto Alegre e as suas obras e ações representam de uma forma exemplar este sistema conferindo-lhe corpo e alma.

Na grande marcha para o futuro, aguarda-se uma exposição, já planejada e com obras escolhidas, no âmbito do MARGS do qual Plínio foi diretor e professor.

Esta exposição também já possui o livro-catálogo com textos e imagens escolhidas e produzidas pelo STUDIO Z de Fernando Zago

Para continuar esta grande marcha é necessário apenas qualificar e garantir a continuidade do suporte da nossa memória[3]. O tabu da desqualificação pode tornar-se o totem.

O muralista Aldo Locatelli ( 1915-1962) concluiu a sua tese[4], em 1962, afirmando:

O Brasil, o nosso mesmo Rio Grande do Sul tão pródigo em vocações artísticas, vivem internacionalmente no mesmo valor de Paris, Roma, Tóquio, Nova York e de Moscou. Estamos errados se pensamos que os centros de maior tradição e movimento artístico devem ser os nossos guias, absorvendo-nos com teorias resultantes de ambientes bem diferentes e preocupados de não repetir-se nos exemplos de uma grande tradição. Ao contrário, nós vivemos no princípio da nossa formação de civilização e devemos tentar expressá-la nos nossos próprios valores

Só falta dar atenção a Miguel Ângelo “mesmo os que não gostam muito de arte: a compram”. Contudo “este dinheiro virá depois do trabalho”, com gostava de repetir Fernando Corona , um dos mestres de Plínio.



[1] Miguel Ângelo a Francisco de Holanda, (1955, p. 66). In HOLANDA, Francisco de (1517-1584) Diálogos de Roma: da pintura antiga. Prefácio de Manuel Mendes. Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1955, 158 p.

[4] CORREIO DO POVO, Caderno de Sábado. Volume X, ano V, nº 232, 22. Jul. 1972

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