quarta-feira, 14 de outubro de 2009

PRESERVAR é diferente de ESTAGNAR.

Há uma necessária distinção entre PRESERVAR e ESTAGNAR.

PRESERVAR possui por base um projeto enquanto no ESTAGNAR salta aos olhos e a inteligência a falta da ciência do que fazer com algo.

No PRESERVAR a presença do projeto torna histórica toda a ação humana e lhe confere o sentido civilizatório.

No âmbito do ESTAGNAR já impera a volta à natureza na qual entropia que conduz tudo ao império do caos primordial de todas as coisas.

O fazer pelo fazer pode revelar a falta de projeto e que Guimarães Rosa dramatizou na sua obra “Sertão: veredas”:

Querer o bem com demais força e de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar. Esses homens ! Todos puxavam o mundo para si, para concertar consertando. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo

.Guimarães Rosa 1963, p. 18[1]

Com este registro da sabedoria do escritor mineiro, também é necessário distinguir o AGIR e o FAZER. Este último pode conduzir à estagnação, ao condicionamento e ao final de um caminho ( picada) ou ao clássico beco sem saída. Enquanto o AGIR sabe avaliara o antes, o durante e o depois de ação. Com esta avaliação é possível selecionar o que é necessário PRESERVAR para existir um CONTINUUM histórico.

“É tal a força da solidariedade das épocas que os laços da inteligibilidade entre elas se tecem verdadeiramente nos dois sentidos. A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja mais útil esforçar-nos por compreender o passado se nada sabemos do presente”

. Marc Bloch 1976, p.42.[2].

Historicamente o termo PRESERVAR foi contaminado pelo binômio “CONSERVAR-MELHORANDO” da ideologia positivista pós comtista Este binômio, mal utilizado e interpretado, de forma mais errônea ainda, contaminou residualmente toda e qualquer mentalidade que tentasse aproximar de qualquer memória de valores antigos. Reforçado pela ideologia do HOMO FABER transformou em obsoleta qualquer iniciativa que possui por base o passado ou um futuro palpável aos limitados sentidos humanos. Este presentismo absoluto queimou, com os olhos vendados, qualquer coisa, nome ou pessoa que escapasse à lógica da máquina. Mas a era da máquina também vítima deste presentismo absoluto. As ruínas da era industrial cobrem o planeta e o que ficou polui o ara e os caminhos de um outro presente que veio substituir o antigo presente onde a máquina linear e unívoca reinava soberana.

Na cultura sustentada pela era industrial a MUDANÇA é a palavra de ordem ainda que desejada não é possível praticá-la sob risco do tetao desaparecer o chã sumir dos pés.



[1] - GUIMARÃES ROSA, João. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro : José Olympio, 1963, p. 18..

[2] BLOCH, Marc (1886-1944) . Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa- América 1976 179 p.

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