domingo, 18 de outubro de 2009

3 - A UNIVERSIDADE e o ESTADO BRASILEIRO

CONSEQUÊNCIAS da CONFUSÃO.

O Brasil pagou muito caro o reducionismo e a simplificação da universidade pelo Ensino Superior

A ESCOLA de ENGENHARIA do RIO GRANDE do SUL teve desfeita uma rica experiência acumulada diante da argumentação legalista. Legalismo que se amparava no argumento de que “não podia admitir os seus estudantes sem um vestibular formal”. Legalismo que contestava a validade do ingresso nos seus cursos superiores a partir de uma evolução natural e continuada por meio dos seus diversos institutos profissionais e técnicos que a ESCOLA de ENGENHARIA do RIO GRANDE do SUL mantinha.

Nesta mesma lógica está o de eliminar, o mais rápido possível, o período de permanência institucional. A meta de “incentivo à minimização do tempo de permanência do aluno em curso na instituição” – Plano de Gestão 2008-2012[1] contraria a Didática Magna[2]., inclusive. Uma pseudo-universidade, com este auto-limite, retorna-se ao principio industrial (taylorista à Mc Donalds). Não há como negar que esta visão participa da tese do “homo faber[3] de que a quantidade [de estudantes que passa pela instituição] produz qualidade de sua natureza intrínseca. Em termos da industria hospitalar e do “homo faber” seria afirmar que esta instituição destina-se ao maior número de clientes com patologias e não prevenção e manutenção da saúde da população.

Há necessidade de considerar a origem do estudante. Há de se considerar também os princípios de Comenius de que “não adianta puxar a planta para ela crescer[4]. A passagem precipitada do estudante pela universidade, além de não permitir tempo para perceber e exercer os aspectos políticos inerente à sua condição e aqueles que sustentam esta instituição, repete a ideologia da ditadura de 1968 para quem “o aluno estava na universidade para estudar”.

O estudante que mantém o poder hegemônico na Universidade, foi denunciado posteriormente pelos próprios agentes da Revolução dos Estudantes da Universidade de Córdoba, desencadeada no dia 05 de junho de 1918[5]. A Argentina não absorvia os formandos desta universidade.

Quanto a UNE - e o papel do estudante na universidade brasileira - é necessário retornar ao discurso de Mário de ANDRADE para a emergente UNE.

“O direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência nacional [..] A novidade fundamental, imposta pelo movimento, foi a conjugação dessas três normas num todo orgânico da consciência coletiva” [ Andrade 1942, p.45].

Apesar do Estado Novo Mário resumiu, neste discurso aos estudantes, em 1942[6], aquilo que os membros de SEMANA MODERNA tinham como projeto político para o Brasil quando ele comemorava o PRIMEIRO CENTENÀRIO de sua Independência.

O que será possível dizer aos estudantes na ocasião do SEGUNDO CENTENÀRIO da INDEPENDÊNCIA BRASILEIRA?

MOTIVAÇÕES para o PRESENTE TEXTO.

O autor deste estudo pede ao seu leitor, três qualidades que Nietzsche solicitou (2000, p.27) a quem destinou o seu texto ‘o futuro das nossas escolas[7]:

espero do leitor três qualidades:

1) - deve ser tranqüilo e ler sem pressa;

2) - não deve fazer intervir constantemente sua pessoa e a sua cultura, e

3) - não tem direito de esperar – quase como resultado – projetos”.

Assim o autor, deste estudo, sintoniza-se com a universidade como instituição. Universidade que possui o papel de manter-se longe de querer impor um projeto, acima de interesses pontuais e não declarados publicamente ou ser coagido por um tempo fatal de um governo datado.

DEMOCRACIA e FORMAÇÃO CONTINUADA.

De outra parte sintoniza-se com a condição para a a educação para a democracia na concepção de Mary Follet (apud CARVALHO, 1979, p.60)[8]

só teremos democracia verdadeira quando os jovens não mais forem doutrinados, mas formados no caráter da democracia. Portanto o meu dever como cidadão não se esgotou naquilo que trago para o Estado. Meu teste como cidadão é quão plenamente o todo é expresso em mim ou através de mim”.

A mentalidade “da quantidade produz a qualidade” leva a disseminar pseudo-universidades pelo território nacional. Aristóteles já escrevia que “A tese é uma suposição em conflito com a opinião geral” (Tópicos I-11)[9]. O conceito de universidade, do presente texto, certamente será a afirmação contra a opinião geral que ela “tem por finalidade precípua os cursos superiores”. O reducionismo e o populismo são equívocos de origem UNIVERSIDADE para todo o BRASIL.

O conflito de opinião - de que a UNIVERSIDADE “tem por finalidade precípua os cursos superiores” – é ilustrado no Instituto de Artes da UFRGS pela abrangência da totalidade e continuada ao longo de toda vida humana. A formação começa, neste Instituto, no ventre materno [pelas aulas de musicalização das grávidas] e vai até os últimos momentos da vida [como Iberê Camargo desenhando no leito de morte].

Evidente que o Instituo paga um alto preço por esta autonomia. Já contabiliza seis exclusões desta universidade.

O texto que segue é disponibilizado no interior dos princípios contratuais de:

Creative Commons



[4] -Evidente que não se quer provar que a simples permanência na universidade é a solução. O 1º Reitor da UFRGS, ao mandar enxotar o burro dos gramados da Faculdade de Direito alegava que a sua permanência do quadrúpede no espaço da Faculdade poderia forçar a Faculdade conferir-lhe o diploma de bacharel..

[5] - No dia 05 de junho de 1918, os Estudantes da Universidade de Córdoba desencadearam uma greve por se sentirem fraudados na eleição do reitor que eles apoiavam. No dia 21 de junho de 1918 a Gaceta Universitária publicava o Manifesto elaborado por Deodoro Roca e que fazia um chamado a todos os estudantes da América Latina. Na introdução proclamavam La juventud Argentina de Córdoba a los hombres libres de Sudamérica: Hombres de una república libre, acabamos de romper la última cadena que, en pleno siglo XX, nos ataba a la antigua dominación monárquica y monástica. Hemos resuelto llamar a todas las cosas por el nombre que tienen. Córdoba se redime. Desde hoy contamos para el país una vergüenza menos y una libertad más. Los dolores que quedan son las libertades que faltan. Creemos no equivocamos, las resonancias del corazón nos lo advierten: estamos pisando sobre una revolución, estamos viviendo una hora americana.”. No mês seguinte se reunia em Córdoba o 1o Congresso Nacional de Estudantes Universitários com delegações das federações universitários de Buenos Aires, La Plata, Santa Fé e Tucumán. Continua até o Governo de Alvear e que culmina na intervenção de na Universidade de Buenos Aires em 1924. O movimento já se havia disseminado pelo Chile e Peru a partir de 1920/2. Portantiero, 1978, pp. 17-38 e 131

PORTANTIERO Juan Carlos. Estudiantes y Política en América Latina: el proceso da la Reforma Universitaria (1918-1938). México : Siglo Veintiuno, 1978, 461 p.

[6] ANDRADE, Mário de [1893-1945] O movimento modernista: Conferência lida no salão de Conferências da Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no dia 3 de abril de 1942. Rio de Janeiro :Casa do Estudante do Brasil, 1942, 81 p. Esta conferência evocava os resultados culturais da Semana de Arte Moderna de 1942. Mario da Andrade havia sido umas das figuras centrais desta Semana. Ele se indispusera em 1938 com o Estado Novo. A conferência ocorria no auge desta ditadura que entrava em guerra com o Eixo.Mário coloca a nacionalidade como primeiro principio os concluía com busca da construção de uma consciência coletiva.

[7] - NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900).Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179 p.

[8] CARVALHO, Maria Lúcia R.D. Escola e Democracia. Subsídios para Um Modelo de Administração segundo as Idéias de M.P. Follet. São Paulo: E.P.U. Campinas, 1979. 102p.

[9] A frase completa é Que uma tese, por outro lado, também constitui um problema, é evidente: pois do que dissemos acima deduz-se necessariamente que ou a grande maioria dos homens discorda dos filósofos no tocante à tese, ou uma ou a outra classe está em desacordo consigo mesma, já que a tese é uma suposição em conflito com a opinião geral”. Aristóteles – Tópicos Livro I - 11

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